A generosidade do júri fez algumas injustiças
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de novembro de 1988
O júri da categoria de 35mm, presidido pelo compositor Dori Caymmi, foi generoso na divisão de premiações. De uma posição radical que o próprio Dori defendeu no início - não conceder nenhuma premiação aos longas, por considerá-los de baixa qualidade - a (discutível) abertura de várias premiações duplas, concentração de prêmios e - grande injustiça - a não concessão de premiações nas categorias de roteiro, música original e montagem.
Assim, o júri - integrado por Dori, a atriz Denise Milfont, os cineastas Marcos Altberg, Tetê de Moraes e Isa Castro, pesquisadora More (Morimabaka Miazaki) e crítico José Accioly (de Brasília), dentro de sua autonomia, decidiu remanejar os Cz$ 11.200.000,00 disponíveis para as premiações (12 em longa, 8 em curta) na categoria de 35mm, provocando modificações que, no final, acabaram desagradando a muitos.
Assim, num Festival que buscou fortalecer a trilha sonora - objeto de um seminário realizado em duas tardes, e que, no final, contou com a presença de compositores de trilhas do cinema brasileiro, apresentando trechos de seus trabalhos mais representativos (Jards Macalé, de "O Amuleto de Ogum"; David Tyguell, de "O Mentiroso"; o próprio Dori, autor da trilha de "Tati, a Garota" e "Dona Flor" e Sérgio Ricardo, com "Deus e o Diabo na Terra do Sol" - acabou não concedendo a premiação nesta categoria. David Tyguell, que concorria por "O Mentiroso" - e que vem se dedicando prioritariamente à realização de sound tracks (premiado em Gramado por "O Homem da Capa Preta", em 1986) sentiu-se prejudicado, com toda razão.
Igualmente a não concessão de prêmios para montagem e roteiro de longa-metragem foi frustrante. Se o fotógrafo Mário Carneiro, 53 anos, 30 de cinema - um dos convidados do Festival - protestou pela omissão do nome do fotógrafo na categoria de 17mm, subindo, inclusive ao palco - também não foi menor a indignação dos montadores, que estranharam a omissão desta categoria nas premiações.
No final, o júri acabou abrindo premiações em quatro categorias: "O Mentiroso" dividiu o Kikito de melhor filme com o (explêndido) documentário "Memória Viva", de Octavio Bezerra; Bianchi e Schunmamm foram premiados na categoria de direção; Iamara Reis ("Romance") dividiu o Candango de melhor atriz com as estreantes (em cinema) Cláudia Magno, em "Presença de Marisa", do chino-paulista John Doo - o filme mais fraco em competição; Isa Kopelmann, também de "Romance" dividiu com a gaúcha Xala (Jussara Felippi - "O Mentiroso") o de melhor coadjuvante. Angel Palomero, de "O Mentiroso", ficou como melhor ator; Miguel do Rio Branco - fotógrafo de "Abolição" e "Memória Viva", foi (com justiça) premiado nesta categoria. Duas premiações especiais: de pesquisa, para "Abolição", longo (150 minutos) documentário de Zozimo Bulbul sobre os 100 anos da Lei Áurea; e uma "homenagem do júri por sua atuação no cinema brasileiro" a Joel Barcelos, ator em "Presença de Marisa".
LEGENDA FOTO - "O Mentiroso", dividiu com "Memória Viva" o Kikito de melhor filme no Festival de Brasília. Agora representará o Brasil no FestRio.
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