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Aramis

Gerônimo e o reggae com novo sotaque

Roberto Sant'Ana é uma figura singular na fonografia brasileira. Baiano de Salvador, foi produtor dos primeiros shows de Caetano, Gil, Bethania e Gal Costa - a partir do histórico "Nós Por Exemplo", que inaugurou o Teatro Vila Velha. Teve participação política, foi companheiro de pensão do hoje deputado Hélio Duque e sempre foi um inquieto garimpeiro de talentos. A ele, por exemplo, deve-se a gravação do primeiro lp de Elomar Figueira ("... Das Barrancas do Rio Gavião", Philips, 1972), Zizzi Possi teve seu lançamento através de suas mãos e dezenas de outros artistas - alguns bem sucedidos (Quinteto Violado, por exemplo), outros nem tanto, devem um pouco a Sant'Ana. Agora Sant'Ana está novamente ligado à Bahia, através do Selo Nova República, lançando discos de artistas da terra. Luis Caldas, por exemplo, vendeu em seu primeiro lp, só naquele "território" mais de 120 mil exemplares de seu primeiro LP. Agora, saiu o disco de Gerônimo (Santana Duarte, Ilha de Bom Jesus dos Passos, 26/5/1963), compositor e intérprete que mistura influências afro aos ritmos estrangeiros - reggae, a guitarra de Eric Clapton e a voz de Janis Joplin - seus ídolos. Tendo uma formação semi-erudita - estudou dois anos composição e regência na Universidade Federal da Bahia, músico, cantor e bailarino afro, com uma viagem à Europa, Gerônimo já teve composições gravadas por A Cor do Som ("Dentro da Minha Cabeça") e Diana Pequeno ( "Mensageiro das Águas"). Agora, num segundo lp (o primeiro, "Página Musical", saiu pela Polygran há 3 anos), Gerônimo incluiu composições de raízes, como "É d'Oxum" (incluída na trilha sonora da mini-série. "Tenda dos Milagres" e que Sérgio Mendes prometeu gravar em próximo disco) e "Mameto Kanlunga", composição feita para ajudar os desabrigados das inundações de Salvador e que teve a participação de bons baianos como Batatinha, Riachão, Luis Caldas, Sarah Jane, Chocolate da Bahia, Lazzo, Chico Evangelista, entre outros. Há também discutíveis homenagens - como a Tancredo Neves ("O Maquinista") e uma coletiva - "aos heróis da independência baiana: os caboclos" (Fumo e Mel"). Em entrevista a Leonardo Monteiro de Barros, Gerônimo definiu seu disco com a palavra polirritmia, justificando a utilização vasta e frequente dos ritmos que conhece. Dentre os ritmos utilizados - ele que é percussionista, além de tocar violão e guitarra - cita a Lambada, o Igexá, o Aguerê, o Afoxé, o Adarrum, enfim uma multitude de ritmos tradicionais baianos misturados com influências - via Angola - cubanas. Enfim, uma mistura afro ao reggae-rock, num trabalho interessante e que merece ser observado.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
33
23/03/1986

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