Baianos caribenhos
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de abril de 1988
Dois eixos fora do Rio-São Paulo fazem com que a Continental (e, aos poucos, outras gravadoras), busquem públicos regionais: o Rio Grande do Sul com seu nativismo e a Bahia com o boom do afro-reggae-samba, que, especialmente neste Carnaval-88 foi explorado ad nausea.
Depois de Luiz Caldas, com seu ritmo "deboche", surgiu Geronimo, baiano da ilha de Bom Jesus dos Passos, que cresceu ouvindo de Nelson Gonçalves e Rita Pavone aos Beatles, mas que estudou com Smetak, esteve na Europa e, a partir de "Eu Sou Negrão", sucesso em 1986, passou a merecer especial atenção. Este ano, Geronimo veio com o elepê "Dandá", que em sua pretensão tem até como pano de fundo um teclado que abre com "Revérie", de Debussy, homenagem a um músico que considera "um vanguardista da porra". Dandá é uma palavra de vários significados: o verbo andar, uma raiz africana de poder que auxilia caminhar, ir adiante etc.
Geronimo é um dos muitos baianos deste final de década que misturando o samba ao afro-caribenho surgem com um forte apelo comercial, abrindo espaços para outros artistas, como Beto Luddy ("Todo Moreno", 3M), também num estilo misturando o reggae a música baiana, mas só que comprometido com arranjos da dupla Robson Jorge/Lincoln Olivetti, perde muito do embalo. Ao lado de composições próprias ("Calor de Verão", "San Juan de Puerto Rico", "Itaparica"), Missinho ("Meninos do Rio"), Sergio Merity ("Trenzinho de Papel"), revisita até o maior sucesso de Miriam Makeba ("Pata Pata"), por coincidência quando a consciente e política intérprete-compositora negra é redescoberta nos EUA, voltando a gravar e lançando seu livro autobiográfico.
Também na linha baiana, o grupo Chiclete Com Banana ("Fé Brasileira", Continental), repete em seu sexto elepê o esquema alegre, descontraído que já havia mostrado em seu primeiro elepê, com muito balanço dos integrantes e um repertório próprio, misturando reggae, galope, merengue, frevo etc. - e letras que são marcadas por um otimismo, "necessário para estes tempos bicudos" como diz Bell.
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