Depois de Zélia, é Lilian com as suas memórias - Néon
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de novembro de 1991
Sem dúvida que "Zélia, Uma Paixão" não só é o best-seller de consumo mais rápido - passando já dos 100 mil exemplares em menos de um mês - como faz com que abram-se as portas para muitas e muitas memórias, biografias - autorizadas ou não - ou simplesmente fofocas em forma de livro envolvendo pessoas mais ou menos conhecidas.
A mesma Record, 15 dias após ter colocado o livro de Fernando Sabino sobre as paixões da ex-ministra da Economia nas manchetes nacionais, distribuiu nas bancas outra obra confessional feminina: "A Vida Brilhando em Néon", de Lilian Gonçalves.
Só que entre a ex-czarina das finanças brasileiras - e a chamada "Rainha da Noite" - também apelidada de "Rainha da Sucata" (após a telenovela de Gilberto Braga), vai uma grande diferença. Com texto coordenado por outra mulher que, há alguns anos, também esteve nas manchetes, a cronista, jornalista e jurada de TV, Marisa Raja Rabaglia - em colaboração com Gustavo Barbosa - Lilian Gonçalves Lima, mineira de Garapava, idade obviamente não revelada, faz sua trajetória "De menina sem nada a Rainha da Noite" - rememorando seus tempos na cidade-satélite de Taguatinga, Brasília, da frustração de ter sido impedida de usar a faixa de Miss Distrito Federal pela oposição da mãe alcoólatra, sua fuga para São Paulo, os tempos de dureza quando morava em pensão e sobrevivia como garçonete da "Sopa Paulista" e de "drive-ins" - até uma impressionante fortuna acumulada como "empresária da noite". De um botequim sórdido - "A Toca", por ela transformada num agradável restaurante à rede Biroska, boites e a projeção como cantora, atriz de 8 produções paulistas, telenovelas e jurada nos programas do Chacrinha, a trajetória de Lilian Gonçalves é no mínimo tão "kitsch" quanto o público que vem atingindo em suas investidas artísticas.
De uma fidelidade de carmelita ao primeiro marido - o garçon Job - só interrompida nos últimos anos com eventuais relacionamentos, Lilian não faz grandes revelações escandalosas. Talvez a maior delas fosse a de que sua mãe, pouco antes de morrer, revelou que ela seria filha do cantor Nelson Gonçalves, com quem teria traído seu marido ao se entusiasmar com o "Metralha" numa passagem por Garapava. Só que Lilian, embora hoje dona de casas noturnas em que o cantor tem se apresentado, jamais lhe fez pessoalmente esta revelação - preferindo guardá-la para o livro.
A leitura de "A Vida Brilhando em Néon" mostra que segundo Lilian Gonçalves não existe nenhum negócio tão próspero quanto o da noite paulista: em poucos anos, de modesta garçonete, tornou-se dona de casas sofisticadas - uma delas, a "Sucata", acabou envolvida num escândalo ao ser adquirida por um alemão pilantra - que lhe permite hoje ter Mercedes Benz importada e uma limusine com seis metros e trinta centímetros, que "se transformou no maior carro do Brasil" com tudo que um sheik árabe exigiria no seu interior: bar, videocassete, televisão, etc. Acusada de ser "brega", Lilian se defende dizendo que "brega, para mim, é um estereótipo inventado por gente que se julga cult e VIP. Quantos desses já deixaram cheques pendurados em meus restaurantes? Quando lancei uma música sertaneja na noite paulista, esse tipo de gente torcia o nariz, mas insisti, a idéia deu certo, e hoje eles enaltecem o country brasileiro. Danem-se os preconceitos cults. Quero ser autêntica. E feliz".
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