Login do usuário

Aramis

Odair & Gonçalves

Pouco a pouco os compositores e intérpretes vão entendendo que de nada adianta as piruetas e alocubrações pop internacionalistas e que apesar de todo o mercantilismo (e indiotização de parte dos consumidores jovens) do mercado, o negócio mesmo é se voltar para as coisas de nosso País. Odair Cabeça de Poeta, líder do grupo Capote, é um exemplo disso: surgiu há 5 anos, na onda pop, com uma linha indefinida, acompanhado por músicos como Koelho Marinho, Edgar e Geraldo Rosas, mas não chega a obter destaque no elepe " Grupo Capote no Forrock" (Continental, SLP 10.1000, 1073). Apesar disso, no ano seguinte um novo disco na mesma etiqueta ("Odair Cabeça de Poeta e o Grupo Capote", SLP - 10132), que vendeu tão pouco que a gravadora acabou dispensando o conjunto. Agora, Odair volta de uma forma bem mais segura em "A Farronática e o Forramba" (RGE, 3030034, julho/76), onde sem abandonar a linha bem humorada, descompromissada de suas músicas anteriores, procura uma linha mais brasileira, identificando-se com o público a quem se propõem atingir - e buscando elementos da cultura popular nordestina integrada a poluída São Paulo, do que é uma prova a existência de mais 200 " Forrós", onde em todos os fins-de-semana as camadas mais baixas da população encontram ambiente para divertirem-se. Acompanhado por Koelho (violão e vocal), Toninho Reis (bateria e vocal), Oswaldinho (acordeon), Juraci (percussão), Odair mostra 12 músicas novas, algumas bem humoradas, outras com alguns bons achados poéticos - todas agradáveis: " Tranca da Janela", " Amigos", " Mariquinha", " Vazio", " Feitiço do Saci", " Mundo Só", " Forramba no Castelo Doido", " Arrepio de Ébrio", " Isso é Bonito", " Lamento", " Mulher Corintiana" e " Véio Fola". Os números em termos de Nelson Gonçalves são dos mais impressionantes: quase 30 elepes em catálago, mais de 50 milhões de cópias de discos vendidas, uma popularidade que só tem crescido. Assim não há dúvida de que para a RCA Victor, significa uma galinha-dos-ovos de ouro, com a vantagem de que a não ser para participações especiais, Nelson nunca gravou em outra fábrica. Anualmente, Nelson faz no mínimo dois novos elepes e, por sua própria "cancha", é capaz de gravar as 12 faixas em uma única sessão, reduzindo ao mínimo o custo de produção. Assim, prudentemente, a RCA está armazenando uma grande quantidade de músicas na voz de Nelson para continuar a lançar seus elepes até o século XXI, "para irritação dos críticos" como costuma ironizar o cantor. Embora um cantor polêmico, com um repertório desigual, Nelson é um artista da maior importância para a MPB: além de ter uma belíssima voz, sempre procurou interpretar compositores brasileiros. Pena que nem sempre os melhores, dominado que esteve, durante anos, por Adelino Moreira. Mas, a partir de 1968, os discos de Gonçalves começariam a trazer um repertório melhor, pois quis provar que era capaz de interpretar qualquer autor, chegando a registrar " O Barquinho" ou pedir a Sergio Ricardo para lhe compor uma música especial para um de seus discos. "Nelson Até 2001" (RCA, 103.173, julho/76) é mais um elepe de Nelson, que venderá milhares de cópias e permanecerá em catalogo. Ele abre com "Depois de 2.001", sua composição em parceria com Adelino Moreira, que volta ainda em outras faixas: "Beija-me Quero Dormir", " Morro, Paisagem Colorida", " Rugas Precoces". De Wando, Nelson gravou " Moça", da dupla Bosco/ Blanc, uma canção apropriada a sua imagem: " Vida Noturna". De Dolores Duran, " Fim de Caso", de Ary Barroso-Luiz Peixoto, " Por Causa Desta Cabôca; de Lupicinio Rodrigues/ Alcides Gonçalves, " Castigo"; de J. Piedade/ Oswaldo Martins, " Tudo Acabado" e de Johnny Alf, a sua obra-prima, " Eu e a Brisa". O lado 2, abre com o samba de Jorge-Costa e Paulo Machado, " Nossa Estória", milésima gravação de Nelson, registrada a 11/5/76. E, encerrando o disco, " E Lá Vou Eu" (Celso Castro/ Maria Luiza), título bastante sintomático: Nelson continuará com um público sempre fiel.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
31
19/09/1976

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br