Bernstein regendo as sinfonias de Mahler
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de abril de 1988
Os 70 anos de Leonard Bernstein um dos cinco regentes mais admirados (e conhecidos), do mundo será marcado neste ano por vários eventos, inclusive uma temporada especial da Filarmônica de Nova Iorque, orquestra da qual foi regente-titular por 11 anos (1958-1969).
Compositor extraordinário, autor de musicais antológicos como "On The Town" e, especialmente, "West Side Story", Bernstein tem sido sempre requisitado para reger as maiores filarmônicas, com centenas de gravações. Ainda agora, a Polygram está lançando dois álbuns duplos da Deutsch Grammophon, gravados há três anos, em que com diferentes orquestras, Bernstein traz novas interpretações das sinfonias de Mahler.
Com a Congertgebownorkes, de Amsterdã, em registro de junho de 1985, temos a Sinfonia nº 9 de Gustav Mahler (1860-1911), compositor que teve sua vida artística intensamente ligada a orquestra holandesa, da qual foi regente e pela qual existem as gravações completas de suas obras.
Já a Sinfonia nº 7 de Mahler aparece numa gravação feita com a Filarmônica de Nova Iorque, registrada no Avery Fischer Hall, entre novembro/dezembro de 1985 - e que só em 1986 foi lançada pela Polydor internacional.
Em perfeitos registros digitais, álbuns duplos, trazendo na capa ilustrações de Erté ("Viagem de Sonho" e "Sonho da Terra"), estamos diante de registros definitivos de duas das sinfonias mais importantes de Mahler. Como ensina o musicólogo Volker Scherliess, a Sétima, comparada com as outras sinfonias de Mahler, surpreende por um tom mais jocoso, até mesmo freqüentemente jubiloso e veemente, que perpassa a obra como um todo, o que não impede de ser interrompida aqui e ali por momentos meditativos. Já a Nona sinfonia, apresenta uma estranha mistura de resignação e de esperança. São duas obras amplas, que exigem atenção total e que, nestes dois álbuns duplos - lançadas simultaneamente a edição em compact-disc (só disponível importada, ao custo de Cz$ 8 mil cada), representam uma extraordinária contribuição da Polygram a ampliação da obra de Mahler - para seus admiradores no Brasil.
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Em seu criterioso programa de lançamentos eruditos, Leonardo Barros, diretor de projetos especiais da Polygram tem procurado diversificar o catálogo. Assim é que acreditando no interesse crescente, do público brasileiro pela música antiga traz um álbum da orquestra do Século XVIII, sob a regência de Frans Brugen, numa gravação ao vivo, realizada em junho de 1986, em Nijmegen, Holanda, com as suites "Les Boréades" e "Dardanus", que Jean Philippe Bameau (1683-1764), compôs em 1764 e 1739, respectivamente, em Paris.
Compositor de ópera, Romeau é um autor que só recentemente teve reconhecimento de algumas de suas obras. Como conta Mary Cur, professora de música da universidade McGill, de Montreal, "Les Boréades" permaneceu virtualmente desconhecida até que Cuthberth Girdlestone descobrisse a força musical desta obra e dela falasse no livro que publicou sobre Romeau, há 31 anos passados. Romeau dedicou sua carreira de compositor quase que exclusivamente a escrever para o palco, tendo produzido cerca de 30 obras até a sua morte, há 224 anos.
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Aos que apreciam piano, dois discos de mestres. De princípio com Cláudio Arrau, 85 anos - um dos maiores virtuoses do mundo, temos o concerto para piano nº 4, em Sol Maior, opus 58, de Ludwig Van Beethoven (1770-1827), numa gravação com a Orquestra Estadual de Dresden, sob a regência de Sir Collin Davis. Em complemento, as 32 variações sobre um tema original em Dó Menor, também de Beethoven -, obra concluída em 1806, o concerto para Piano nº 4 é, dentro da obra de Beethoven, um trabalho profundamente lírico e orientado mais para um retrato interior do que para um drama externo.
Entre os discípulos de Arrau, um dos mais talentosos foi o curitibano Luís Carlos Thomaszeck, infelizmente falecido quando se preparava para se tornar um nome internacional. Arrau chegou a vir a Curitiba para visitar Luís Carlos tão grande era a admiração que tinha pelo jovem pianista. A precoce morte de Thomaszeck privou o Brasil de ter um artista da dimensão internacional - que hoje, sem dúvida, estaria entre os mais importantes do mundo.
Na roda-viva da vida musical, outros talentos surgem para os que desaparecem. E entre os pianistas brasileiros que se projetaram nos últimos anos está o carioca Jean Louis Steuerman, brasileiro apesar do nome francês e que aos 39 anos é hoje um nome internacional. Grande intérprete de Bach, Steuerman já gravou para a Philips as Seis Partitas, o Conselho Italiano, a Suite Francesa, os Quatro duetos e, por último, o Prelúdio e Fuga em Lá Menor, o Capriccio sopra la lontananza del fratello dilettissimo, a Fantasia cromática e Fuga em Ré Menor e a Fantasia em Dó Menor, que integram o seu mais recente álbum, registrado em maio de 1986, na Suíça. Este disco - também feito em digital está sendo editado agora no Brasil.
Filho de uma família de musicistas de origem romena, Steuerman aos 9 anos já dava seu primeiro concerto. Venceu concursos no Brasil, estudou em Nápoles e Londres, ali fazendo gravações com as sinfônicas regionais da BBC, em recitais de grande sucesso. Em 1980 começou sua carreira nos Estados Unidos, inicialmente com a sinfônica de Baltimore e depois fazendo um tour. Vivendo mais na Inglaterra, ali tem feito inúmeros recitais e gravações - mas a partir de 1984 começou também a incluir a França em seus roteiros.
LEGENDA FOTO - Bernstein, 70 anos, produzindo como nunca.
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