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Aramis

Harbach vira Stefan e é dono de vídeo em LA

Quem diria, o bom Estevão virou Stefan e acabou dono de um vídeo-clube em Los Angeles. Paixão pelo cinema nunca lhe faltou. No início dos anos 60, ainda adolescente, Estevão Rainer Von Harbach, apaixonou-se tanto por uma estrelinha do cinema, Hayley Mills, que aqui fundou um fã clube em sua homenagem. Primeira de suas iniciativas na área do cinema, sua razão de ser e existir há 30 anos. xxx Há seis meses que Estevão está nos Estados Unidos. Desta vez foi ficar mesmo e, pelo visto, está conseguindo seu espaço. Pelo menos está vivendo na mitológica cidade de seus sonhos e se o cinema transformou-se, Estevão também soube se adaptar: instalou a Dial-A-Tapa - Liberty Vídeo Internacional, que não só loca um catálogo demais de 10 mil títulos, mas também faz vendas de qualquer filme pelo correio ou com entrega direta. xxx Nos últimos anos, Estevão - que agora se assina Stefan e, em suas (raras) cartas a amigos curitibanos se dá ao luxo de escrever em inglês, esteve várias vezes nos Estados Unidos. De princípio, ia como cinemaníaco, para visitar os estúdios de Hollywood e assistir "aqueles filmes que nunca virão ao Brasil". Depois, viu aspectos profissionais e chegou a planejar um vídeo clube e distribuidora com sede em Curitiba, junto a sua CineArte, que já havia criado há mais de dez anos. Mas como não há nacionalismo que resista à atual realidade brasileira, Estevão fez aquilo que milhões de outras pessoas gostariam de fazer: foi viver nos EUA. Apesar de um excelente preparo intelectual o (filho do ex-cônsul da Áustria no Paraná, Erwin Von Harbach, fala 15 línguas) no início as coisas não foram fáceis: trabalhou na área administrativa de um pequeno jornal da Califórnia, mas como o salário era pequeno completava seu orçamento utilizando o know-how que havia levado de Curitiba: assador de galinhas. Foi numa das lojas de Kentucky Fried Chiken, na California, que uma das maiores amigas de sua família, a taberneira Ingeborg Rust ("Hummel-Hummel") o encontrou, em fevereiro último, durante uma longa viagem pela California, em companhia de sua filha, Heid, que reside há 10 anos em San Francisco. xxx Agora, Stefan já progrediu: seu vídeo-clube parece que vai bem e no catálogo em que anuncia seus 10 mil títulos estão praticamente todos os filmes importantes da história do cinema. Com exceção, do Terceiro Mundo, é claro. xxx Desde seus tempos de apaixonado por Hayley Mills - hoje com 42 anos, afastada do cinema (ela é filha do ator inglês John Mills), Estevão sempre foi apaixonado pelo cinema americano. Uma paixão tão grande que o levou a, num válido trabalho de garimpeiro das imagens, a reunir um acervo notável com cópias em 16mm e 35mm de mais de 200 filmes, salvos por ele de serem incinerados pelas distribuidoras quando vence o prazo de 5 anos - e as cópias são destruídas em fogueiras medievais. Mesmo tendo que atuar clandestinamente para comprar, de fontes que nunca revelou, estes filmes, Estevão conseguiu salvar cópias de muitos clássicos, dignos de figurarem nos acervos das cinematecas. Pessoalmente, Estevão agora pode se dar ao luxo de esquecer a sua outrora exclusivíssima filmoteca, já que o vídeo trouxe uma democratização dos tesouros do cinema, colocando as mais raras obras ao alcance de qualquer interessado. xxx Há 9 anos, Estevão conseguiu localizar num velho depósito, em Curitiba, a única cópia do filme "Brasileiros em Hollywood", que Antonio Roggue realizou durante uma visita à então Meca do Cinema. Ignorado na historiografia oficial de nosso cinema, Roggue chegou a montar uma produtora em Curitiba, cujo acervo acabaria vendendo para Luís Severino Ribeiro. O projeto de aprofundar a pesquisa a respeito - resgatando importantes fatos - que Estevão elaborou, com orientação de seu amigo Valêncio Xavier, não teve, infelizmente, apoio e, com isto, não há maiores informações sobre mais este pioneiro de nosso cinema. Agora, em Hollywood, Stefan - vai tentar encontrar alguns registros sobre a passagem do cinemaníaco curitibano, que como ele sonhava em imagens coloridas e em 24 movimentos por segundo.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
27/05/1988

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