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Aramis

Horowitz com o melhor dos autores clássicos

Depois de ter injetado na fonografia em 1986 a edição de preciosas edições de clássicos e jazz, em presseguimento, aliás, a uma política cultural - comercial que o faz um empresário diferencial, o paulista Henrique Sverner, da cadeia Breno Rossi, associado a CBS e, como sempre, com o assessoramento de um dos mais competentes record-men do mundo, o ítalo-brasileiro Mauricio Quadrio, acaba de proporcionar a chegada as lojas de uma nova e preciosa coleção para delícia de quem aprecia o melhor do melhor da música clássica, na interpretação de um dos maiores pianistas do mundo: Valdemir Horowitz. Produzido originalmente para ser vendido exclusivamente nas lojas Breno Rossi (em Curitiba, Shopping Müeller), "The Vladimir Horowitz Collection" é formado por 14 discos em 12 álbuns (dois, com gravações ao vivo, no Carnegie Hall, em 1965/66, são duplos). Na música do século XX, Vladimir Horowitz (Kiev, 1 /10/1904) é uma lenda viva e incomparável, adjetivado de o último dos grandes românticos. Nascido numa família extremamente musical, testemunhou, ainda na adolescência, a radical transformação social por que passou seu povo. O pai morreu no exílio, na Sibéria (1939), época em que Vladimir já se lançara a uma prodigiosa carreira no exterior. Foi aluno de Felix Blumenfel (que por sua vez estudara com Anton Rubinstein, uma espécie de Liszt russo) e a partir de 1925, em Berlim (depois Paris e, finalmente, 1928, EUA), se firmou como um dos maiores virtuoses do mundo. Os caminhos da música juntaram os destinos do pianista e do regente Arturo Toscanini (1867-1965), com cuja filha, Wanda, casou-se em 1933. A relação não foi tranqüila, estiveram por alguns anos separados, mas em 1953, se reconciliaram. Tiveram uma filha, Sonia (1933-1974), que teve uma vida complicada, morrendo num acidente de carro, na Suíça. Por diversas vezes, problemas pessoais levaram-no a afastar-se de sua carreira, retornando, porém, as aparições em concertos e na televisão para de novo maravilhar os que desde o início lhe acompanharam as realizações, como também o público jovem. E foi o que aconteceu há seis anos, quando voltou a se apresentar, em salas superlotadas em Kiev, Leningrado e Moscou. Antes de se decidir pela excursão a Rússia - num fato inédito para a época - Vladimir declarou em Nova Iorque: - "Sabemos todos que por toda parte há o bom e o mau. Fui criado na busca do bem. Na URSS, hoje em dia, o bem é a música que eles fazem. Espero que tocando lá possa contribuir para que o bom se torne melhor. A música inspira, não destrói nem mata". A Grande Coleção Nesta magnífica "The Vladimir Horowitz Collection", álbuns preciosamente produzidos, cada um com textos esclarecedores do repertório selecionado, temos uma pequena síntese destes mais de 60 anos de vida musical de Horowitz. Por exemplo, nos dois primeiros volumes, exclusivamente composições de Fredéric François Chopin (1810-1849), que tem sido uma presença constante em seus programas - e que retorna em outros volumes, ao lado de diferentes autores. É natural para o temperamento tão profundamente arraigado no romantismo, a atenção que Horowitz sempre deu ao compositor polonês. Robert Schumann (1810-1856) é outra das referência de Horowitz, e pelas mesmas razões que o fazem eleger Chopin entre os seus favoritos: o intenso sentimento poético que praticamente domina toda a sua obra. No terceiro volume da coleção temos uma das composições mais significativamente pessoais do autor alemão, a "Kreisleriana", antecedida de seu Opus 16, de um fragmento de outra peça de Schumann, o 3º Movimento Andantino, que são variações sobre um tema de Clara Wieck (1819-1896), ela também compositora e que viria a ser sua mulher. Quando, aos 11 anos, Horowitz tocou para Aleksander Scriabin (1877-1915), ficou impressionado pelo compositor. Scriabin morreria poucos meses depois e Horowitz se tornaria um de seus maiores intépretes, como mostra no volume 4, com uma ótima seleção de peças do autor de "Prometeu, O Poema do Fogo", incluindo oito Estudos e a Sonata Opus 70. Sergei Vassilievitch Rachmaninoff (1873-1943) e Horowitz foram exilados russos nos EUA.. A música, a tendência artística romântica, tudo isso os aproximou muito e fez com que Vladimir, intérprete de Rachmaninoff sugerisse ao compositor (e também célebre pianista) alterar a Sonata Opus 36 através de cortes e acréscimos por ele julgados necessários. Esta célebre sonata, que Horowitz executou no 25º aniversário da morte de Rachmaninoff, em 1968, ocupa o lado um do quinto volume, completada no lado dois pelo Prelúdio em Si Sustenido Menor, opus 32; o Momento Musical em Si Menor, Opus 16 e três "Etudes Tableaux". No volume seis, Horowitz interpreta as 12 sonatas de Domenico Scarlatti (1685-1757). A respeito das Sonatas do compositor italiano - inúmeras - Horowitz declarou: "Não é fácil escolher doze Sonatas de total existente. Quero elas sejam representativas da grande imaginação e ousadia deste mestre e deve haver bastante contraste para manter continuamente o interesse". Se nos seis primeiros volumes da "The Vladimir Horowitz Collection", cada álbum é dedicado a um compositor, a partir do sétimo o repertório se mistura, com peças de diferentes autores. Por exemplo, o volume 7 abre com a oitava das 32 Sonatas que Beethoven escreveu para o piano, prosseguindo com três prelúdios de Debussy e incluindo ainda dois estudos e um Scherzo de Chopin. No volume 8, há a Sonata em Dó Sustenido Menor, Opus 27, de Beethoven e quatro improvisos de Franz Schubert (1797-1828). No volume nove, a diversificação cresce: a Sonata nº2 de Chopin, mais dois "Etudes Tableaux" de Rachmaninoff, o "Arabeske", de Schumann e a 19 Rapsódia Húngara de Liszt numa transcrição do próprio Horowitz. O conteúdo do volume 10 é a seleção de uma série de programas que Horowitz gravou no Carnegie Hall, em Nova Iorque para a TV-CBS apresentar em cadeia nacional. São peças curtas de Chopin, Scarlatti, Schumann e Scriabin. Há até uma contribuição autoral do próprio Horowitz: Variações sobre um tema da ópera "Carmen", de Bizet. Durante 12 anos (fevereiro de 1953 a maio de 1965), o público não ouviu, ao vivo, a arte de Horowitz. Ele se impôs um afastamento dos palco. Portanto, foi um retorno histórico, quando, a 9 de maio de 1965, fez um concerto no Carnegie Hall. O acontecimento foi gravado e está, em seus momentos mais iluminados, num álbum duplo, intitulado com razão de "Um Retorno Histórico", que começa com a vigorosa Tocata Original para Órgão em Dó Maior de Bach, em transcrição de Busoni. Prossegue com obras de Chopin, Debussy, Scriabin, Moszkowski e Schumann. Em 1966, Horowitz deu três concertos no Carnegie Hall - e que também em álbum duplo formam o volume 12 da coleção. Uma Sonata de Haydn abre o programa, ressaltando o toque cristalino de executante, tão necessário para o maior brilho da escola clássica, o que voltamos a verificar na igualmente clássica, porém, bem mais célebre Sonata nº 11, de Mozart. Schumann, Scriabin e Debussy são outros autores no primeiro disco e Chopin e Liszt estão no segundo, sendo o mestre polonês com um Noturno e uma Mazurca e o velho Liszt com uma de suas criações memoráveis: "Vallé d'Obermann", um quadro grandioso, quase heróico, da série "Anos de Peregrinação", desta vez dedicado a Suiça. A CBS/Breno Rossi promete que outros números executados por Horowitz nos três concertos que fez no Carnegie Hall, há onze anos, serão lançados brevemente num disco avulso.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
7
07/06/1987

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