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Aramis

João, o homem do (bom) samba

Em onze elepês lançados em 17 anos de carreira, o carioca João (Batista) Nogueira (Júnior) (RJ, 12/11/1941) firmou-se com um dos mais sólidos compositores e interpretes. Pode-se, mesmo, incluí-lo ao lado de Paulinho da Viola, como um compositor de rara inspiração , excelente voz e que numa consciência profissional que não é comum entre os artistas populares, Ter se integrado ao movimento de revalorização da MPB – idealizando, fundando e presidindo o Clube do Samba, baluarte de resistência a influência e concorrência desleal do lixo supérfluo musical internacional. Há 3 anos, contratado pela RCA – quando dirigida por Helcio do Carmo (agora na Arca), João Nogueira ali fez um belo disco no ano passado. Agora, ao lançar seu 11º elepê ("Pelas Terras do Pau Brasil", RCA) gravou uma parceria com Paulo César Pinheiro que politicamente teve a maior repercussão: "Vovô Sobral", em homenagem ao grande jurista Sobral Pinto, lúcido nas suas idéias e intransigente na defesa da Democracia. Em 1970, ao fazer uma primeira gravação – no lp "Quem Samba Fica" (Odeon, produção do paranaense Adelzon Alves), João homenageava ao grande Natal da Portela ("Homem de Um Braço Só"), enquanto que em outra faixa, no mesmo lp, lembrava de sua mãe ("Mulher Valente é Minha Mãe"). Anos depois, seria o seu velho pai – um bom violonista que seria reverenciado no lp "Espelho". Compositor que não se prende a esquemas rígidos – ao contrário, graças a sua boa formação musical, a exemplo de Paulinho da Viola pode tentar vôos maiores (há alguns anos surpreendia com seu "Albatrozes"). Neste novo elepê João traz mais um punhado de belas músicas – embora nenhuma mereça a classificação de excepcional ( o que explica sua ausência entre os melhores de 84, ao contrário do que aconteceu de outras vezes). Entretanto, nem por isto se deve diminuir os méritos deste disco em que há uma preocupação ecológica a partir de "Xingu", no qual há a defesa do Índio e que inspirou o título do lp. Além de Paulo César Pinheiro (com quem divide "Vovô-Sobral", "Xingu" e "Xico Preto"), João apresenta trabalhos com novos parceiros: o baiano Edil Pacheco em "Mel da Bahia"; o maranhense Nonato Buzar "Nos Teus Olhos" (Também com Paulo Cesar Feital). Feital é também parceiro em "Dois de Dezembro" (Dia do Samba) e "Meu Louco". "Na Boca do Mato" (Luiz Grande) e "Anunciando o Sol Raiar" (Jurandir de Mangueira-Claudio) mostram que João sabe buscar um repertório especial – e por isto mesmo, para encerrar o lado dois, fez uma romântica regravação de um dos mais belos sambas da dupla Herivelto Martins/Marino Pinto: "Segredo". Como em todas as suas produções, um acabamento excelente – com arranjos e regências distribuídas entre Nelsinho, magro, Rafael Rabello, Cristóvão Bastos e Geraldo Vespar – todos ótimos músicos que se ouvem nas diferentes sessões. Um bonito disco, brasileiro e emocionante. Se não o melhor de sua carreira, um trabalho realizado – como sempre com honestidade e sensibilidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Nenhum
20/01/1985

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