Pra quem gosta de boa música lírica
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de janeiro de 1985
Ótimas opções a quem aprecia a música lírica. Discos de ótimos cantores foram lançados nos últimos meses. De princípio, temos uma novidade: um disco lírico de um cantor brasileiro. Coisa rara de acontecer. Pelo selo Barclay, através da Ariola, pode-se apreciar a arte e os dons naturais do tenor Joseph Sabó. Disse o crítico Zito Batista Filho: "Com a mesma naturalidade com que o tenor paulistano se confia ao repertório por ele habilmente escolhido, dentro dos mais nítidos padrões de popularidade, o ouvinte se deixa atrair pela sensibilidade expressiva e pelo timbre generoso e agradável desta voz que percorre as páginas mais célebres do repertório lírico. Acompanha-o nesta excursão pelas árias mais queridas de Verdi, Puccini, Carlos Gomes, Giordano e outros, a Orquestra Sinfônica de São Paulo, sob a regência de Bruno Roccella".
Industrial e cantor, Joseph Sabó já é um intérprete conhecido nos meios líricos do Rio e São Paulo. Maurício Quadrio, um dos homens que mais estimula a produção de discos eruditos no Brasil, faz a apresentação deste disco produzido por Dino Tolezano , gravado nos estúdios da RCA em São Paulo. O programa começa com a ária "Quando nascesti tu"(que dá título ao disco), da ópera "O Escravo", de Carlos Gomes, e prossegue com a ária da flor ("La fleur que tu m'avais jetée") de "Carmen" (Bizeti); "Non piangere Liú", de "Turandot" (Puccini); "O tu che in seno agli angeli", de "força do destino"(Verdi); "Ch'ella mi creda libero", de "La fanciulla del West" (Puccini); "Vesti la giubba", de "Pagliacci" (Leoncavallo); "Amor ti vieta", de Fedora (Giordano); "Donna non vidi mai", de "Manon Lescaut" (Puccini); "Cielo e mar", de "La Gioconda" (Ponchielli) ; "E luecevan le stelle", da "Tosca" (Puccini); Celeste Aida", de "Aida" (Verdi) e "Che gelida manina" de La bohéme" (Puccini).
Dietrich Fischer-Dieskau, barítono dos mais admirados em todo o mundo, teve dois ótimos elepês lançados no Brasil pela Polygran nos últimos meses. Num deles, produção da Deutsche Grammophon, registrado em hamburgo, em 1983, interpreta os conhecidos "15 Romanzen", opus 33, que Johannes Brahms compôs inspirados no conto "A História do amor da bela Magelone e do conde Pedro de Provença", de Ludwig Tieck. Nesta gravação, Fischer-Dieskau é acompanhado ao piano pelo maestro Daniel Barmboim.
Já em registro feito na Philips, em 1982, acompanhado por Aribert Reimann ao piano, interpreta as "Lied" de Peter Ilych Tchaikowsky – uma coleção de belíssimas músicas do mestre russo.
Também pela Philips temos outra preciosa gravação de música lírica: a soprano Jessye Norman, acompanhada pela Orquestra de Gewandhaus de Leipzig, sob regência de Kurt Masur, interpretando canções de Richard Strauss (1864-1949).
Já para os fãs apreciadores de corais, temos uma produção da Funarte, através do Instituto Nacional de Música: o Coral Harmonia, sob a regência da maestrina Solange Pinto Mendonça interpretando composições de autores brasileiros. Editado comercialmente pela Continental, este precioso elepê traz as belas vozes do grupo Harmonia – conjunto formado há 13 anos passados, praticamente como resultado do II Concurso de Corais do "Jornal do Brasil ", e que tem tido imensa atividades em vários Estados. Diz Ronaldo Miranda, crítico de música erudita e também compositor (autor de "Noite", incluído neste elepê), que os integrantes do Harmonia "gostam de cantar, gostam uns dos outros e por isso se sentem felizes com sua atividade". Neste elepê interpretam Francisco Mignone ( "A Velha Cotó"), Cacilda Barbosa ( "Procissão de Chuva"), José Vieira Brandão ( "Cussaruim em dois tempos"), Ernst Mayle ( "A Arca de Noé"), Esther Scliar (1926-1978)("Para peneirar"), Cirlei de Holanda ("Topologia do Medo") e Murillo Santos ("Aleluia").
Além da qualidade técnica do grupo vocal, importante salientar o repertório escolhido: autores contemporâneos e peças inéditas. Um dos melhores lançamentos da música coralista em 1984.
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