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Aramis

Grandes Sinfônicas

De Gershwin a Offenbach, passando por valsas da família Strauss, sinfonias de Tchaikowsky, Haydn, peças de Bach e Mozart e até transposições de óperas apenas para orquestras - um banquete magnífico em termos de música instrumental chega nas lojas neste final de ano. Produções que justificam a frase "disco é cultura" - e que comprovam que o mercado fonográfico, ao menos para quem curte música clássica, não está em crise. Ao contrário, proporcionalmente, os lançamentos maciços de álbuns de música erudita - confirmam hoje, também, aquilo que o grande Maurício Quadrio dizia há 14 anos, ao lançar um de seus mais bem sucedidos projetos junto a Polygram: "Quem tem medo de música clássica?" LEONARD BERSTEIN aposentou-se da Sinfônica de Nova Iorque mas não parou de trabalhar. Ao contrário, talvez por estar liberto de compromissos fixos, é requisitado mais do que nunca pelas maiores orquestras do mundo e sob a sua regência, a Filarmônica de Los Angeles gravou um esplêndido álbum para a Deutsche Grammophon, com um programa dos mais agradáveis: "Rhapsody in Blue", o clássico de Gershwin cujo 60o aniversário de estréia transcorreu em fevereiro último, no arranjo de Ferde Grofé, acoplado a um "Prelúdio para piano" do mesmo Gershwin (1898-1937), no lado A . No lado dois, as danças sinfônicas de "West Side Story", do próprio Berstein. São obras que dispensam maiores comentários: basta dizer que estão entre os trabalhos mais conhecidos internacionalmente e que ganham maiores dimensões a cada regravação. JACQUES OFFENBACH (1819-1880) passou a história da música como o compositor parisiense por excelência - correspondendo para a Cidade Luz o que a família Strauss foi para Viena do século XIX. Os ritmos que Offenbach criou em sua numerosa obra - especialmente o Can Can são emotivamente a própria imagem sonora de todo o fascínio de Paris. E uma coleção de 33 de seus mais belos temas compõe "Gainté Parisienne", que no arranjo de Manuel Rosenthal e com a Orquestra Sinfônica de Pittsburgh, sob regência de André Previn, nos chega numa preciosa gravação digital. Com o apropriado título de "Happy New Year", a Filarmônica de Viena, regida por Lorin Maazel, mais os Meninos Cantores de Viena, trazem em produção da Deutsche Grammophon toda a beleza e alegria de valsas da família Strauss - Johann (1825-1899), Eduardo (1835-1916) e Josef (1827-1870). Para complementar, há também a abertura da opereta "As Alegres Comadres Windsor", neste disco encantador e que se constitui num excelente presente para pessoas que sabem apreciar gravações de grandes orquestras com as valsas e polcas e marchas dos Strauss. DANIEL BARENBOIM é o regente da Sinfônica de Chicago numa gravação com duas fantasias inspiradas em textos literários - ambas composições de Peter Tchaikowsky (1840-1893): a abertura sobre "Romeu e Julieta" de Shakespeare e a fantasia sobre o Canto V do "Inferno" da "Divina Comédia" - intitulada "Francesca da Rimini". Duas obras que apesar da importância que tem não são das mais gravadas. A inspirada na clássica tragédia de Shakespeare nasceu no verão de 1869 e a que tem por base o canto de Dante data de cinco anos depois, quando Tchaikowsky viajava pela França. HERBERT VON KARAJAN, fez as pazes com a Filarmônica de Berlim - com o qual andava às turras há dois anos - e como resultado a mais famosa orquestra da Europa já programou concertos na Ásia. Em termos de gravações, apesar das divergências de Karajan e os músicos, profissionalmente não houve interrupções e a prova está em dois excelentes álbuns, registrados no ano passado na Deutsche Grammophon - e que chegam agora ao Brasil: o estudo para 21 instrumentos de cordas intitulado "Metamorfoses" e o poema sinfônico "Morte e Transfiguração, opus 24" de Richard Strauss (1864-1949) num volume e as Sinfonias em sol menor ("La Poule"), opus 83 e a em ré maior, opus 86, de Joseph Haydn (1732-1809) em outro volume. ORQUESTRA DE CÂMARA - tem significativas gravações recém lançadas no Brasil. A Saint Paul Chamber Orchestra, sob direção de Pinchas Zukerman - reconhecido como um dos grandes violinistas (e também regente) deste século - gravou dois concertos para violino e orquestra de Wolfgang Amadeus Mozart para a CBS, no ano passado - lançamento que agora ocorre no Brasil. O concerto número um foi concluído por Mozart em Salzburgo a 14 de abril de 1775 - e o segundo concerto ficaria pronto exatamente dois meses depois - numa prova da rapidez com que o gênio de Salzburg compunha. Pinchas Zukerman já tem mais de quarenta elepês gravados pela CBS, em cada uma de suas disciplinas musicais (violinistas, violista ou regente), aos quais se acrescenta agora este magnífico álbum. A Orquestra de Câmara Inglesa, sob regência de Raymond Leppard - em gravação da Philips, traz dois concertos de Johann Sebastian Bach (1685-1750) - para cravo, violino, flauta e cordas; e o para dois cravos e cordas, tendo como solistas Raymond Leppard e Philip Ledger; José Luís Garcia e Richard Adeney, respectivamente. Em complemento aos dois concertos, com o arranjo original de Bach, a Sinfonia da Cantata "Ratswahl". Finalmente, dois álbuns com música de ópera para quem não gosta de música instrumental. Com a Filarmônica de Nova Iorque, regida por Zubin Mehta, a produção da CBS, com a música orquestra extraída de mais notável obra de Richard Wagner - "O Anel dos Nibelungos". Já com a Nathional Philarmonic Orchestra, regida por Ricardo Chailly, em produção da London/Polygram, as Aberturas de Giuseppe Verdi (1813-1901), das óperas "I vespri siciliani" "Luisa Miller", "La Forza del destino", "Giovanna d'Arco", "Aroldo", "Nabuco", "Oberto" e "Conte di San Bonifácio". A trilha de Rick Duas trilhas sonoras lançadas pela RCA. A primeira é a de "Um Homem Impossível de Se Amar" (Hard to Hold), de Larry Peerce, produzido especialmente para tentar capitular também na tela o sucesso do cantor pop australiano Rick Springfield. O filme chegou meio desapercebido no Brasil, e ao menos em Curitiba, não fez o sucesso que a UIP, sua distribuidora, esperava. A trilha sonora foi do competente Tom Scott, com sete canções adicionais do próprio Rick Springfield. Grande vendedor de discos nos EUA e outros países, Springfield interpreta em "Hard to Hold" um papel quase autobiográfico: um astro do rock que tem dificuldades de relacionamento amoroso devido sua intensa agenda artística. Na trilha sonora estão desde temas de alta voltagem na guitarra ( com "Love Somebody"), o forte funk ("Bop Till You Drop"), ao soul do expressivo dueto com Randy Craweford na balada "Taxi Driver". Na sound track, ainda, uma canção inédita, escrita e executada pela estrela inglesa do rock, Graham Parker, uma música nova de Nona Hendryx (escrita por Tom Scott, especialmente para o filme) e uma versão ao vivo de Peter Gabriel para "I Go Swiming". Bem mais interessante é o sound - track de "The Woman [in] Red" (no Brasil, "A Dama de Vermelho", ainda inédita na telas), que traz novamente Stevie Wonder - ausente há alguns anos do mercado fonográfico. Um álbum vigoroso, capa dupla, com Wonder dividindo algumas faixas com outra grande artista negra, Dionne Warwick ("It's You", "Warkness") e mostrando estar em [plena forma. Uma trilha tão importante que merecerá comentário mais longo em próxima ocasião. Hoje fica apenas a dica aos (muitos) que apreciam o som original e criativo deste esplêndido compositor, pianista e cantor que é Stevie Wonder. O som & a fúria O título de um dos mais famosos romances de William Falkner pode ser lembrado ao se ouvir tr6es recentes lançamentos internacionais. Afinal, The Fixx e America passam um som agradável e até tranquilizante - considerando serem grupos de música pop - enquanto James Brown, autodenominado "The Godfather of Soul" continua a fazer aquele som heavy o que não é fácil digerir. Na trilha sonora do filme "Ruas de Fogo" (Streets of Fire, exibido na semana passada no Cine Condor) uma das músicas mais marcantes era "Deeper and Deeper" de um novo grupo pop inglês chamado The Fixx. Afora, podemos conhecer melhor este grupo pop, já com três elepês gravados e formado no final do anos 70 pelo vocalista e compositor Cy Curnin, Adam Woods, Rupert Greenal, Jamie West-Oram e Danny Brown. "Lost Planes", em 1981, foi o primeiro sucesso do grupo - que da gravação independente passou para a MCA inglesa, na qual, há dois anos faziam o elepê "Shuttered Room", que tinha num pacifista vídeo-clip (faixa "Stand or Fall") seu cavalo-de-batalha. Em 1983, com o elepê "Reach the Beach" chegaram aos EUA e agora, em "Phanthons" internacionalizaram-se de vez. "Are We Ourselves?", "Lose Face", "Wish Question" são musicas de presença sonora, mas sem exageros elétrico-acústicos. Se o The Fixx é uma estréia, "Perspective" é apenas a confirmação da bonita suavidade que o grupo América consegue há 14 anos. Na melhor tradição de clássicos como "Horse With No Name", "I Need You", "Tin Man", etc., o duo Beckley e Bunnell neste seu novo elepê incorporam o que há de moderno em tecnologia mas sem deixarem de manter a suavidade e harmonia - o que se explica por estarem compositores como Jimmy Webb na seleção. Entre tantas bandas barulhentas que se formam e se modificam, o América é uma presença segura num mercado de constante evolução. Já James Brown é um veterano: em 1958 já fazia uma gravação ("Try me") e nestes 26 anos tem seguido várias ondas - identificando-se com a música negra. Possivelmente motivações políticas em sua concepção: "Afrika Bamba Attak", com a participação de Tommy Boy e de um grupo apropriadamente [intitulado] Afrika Bambaataa, traz seis faixas - com um único nome - "Unity" e uma preocupação de falar em paz, dom perigo nuclear e outros assuntos atuais. Nobres intenções. Pena que o barulho seja tanto que nem se pode perceber a mensagem.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
02/12/1984

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