Ópera: em discos, filmes e em teipes na Cinemateca
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de janeiro de 1986
Curioso o comportamento do curitibano em relação à ópéra. Existe um núcleo de fanáticos "operários" - como eles próprios se definem (entre estes, o cardiologista Helio Germiniane, o publicitário Humberto Lavalle, o comerciante Joel Mendes etc.) capazes de qualquer sacrifício para assitirem a uma ópera - seja em videocassete ou ao vivo, sem falar no entusiasmo por gravações. O público tem crescido, como demonstraram as montagens operísticas acontecidas no Guaíra, chegando a lotar, por várias noites, o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto.
Entretanto, uma obra-prima cinematográfica como "Don Giovanni", que o falecido Joseph Losey rodou em Veneza (e arrredores) numa fiel transposição da obra de Mozart, foi um dos grandes fracassos de público - só tendo duas semanas de exibição (Ritz/Groff), porque Francisco Alves dos Santos decidiu que seria criminoso cortar a carreira de um filme belíssimo. "La Traviatta", de Zeffirelli, lançado meses antes, no Astor, também fracassou e agora vem aí "Carmen", direção de Rossi - que na transposição da ópera de Bizet para a tela, fez sucesso em muitas capitais, mas corre o risco de aqui fracassar. Por quê?
Eis uma boa pergunta, já que as encenações semi-amadorísticas, acontecidas no Guaíra, têm tido bom público. Por que este público que se interessa pelo bel canto não prestigia belos filmes-óperas???
Em termos de discos, as gravações de óperas têm um público fiel - e de ótimo poder aquisitivo. Não apenas gravações de óperas integrais, mas os chamados limelights de clássicos do gênero ou trechos de óperas mais famosas; além de discos com solistas notáveis, em trabalhos autônomos. Para este público, alguns lançamentos recentes.
COROS DE ÓPERA - Com o coro e orquestra da Ópera Alemã de Berlim, sob regência de Giuseppe Sinopoli, tendo como mestre de coro Walter Hagen Groll, os momentos corais de óperas de Mozart - "A Flauta Mágica" ("O Isis Und Osires"); Beethoven - "Fidelio" ("O Welche Lust"); Carl Maria von Weber - "Der Freischutz" ("Was gleicht wohl auf Erden") e Richard Wagner - "Tanhauser" ("Freudig begrussen wier die eddle Hal le"), no lado A. O lado B é todo dedicado a óperas de Giuseppe Verdi (1813-1901): "Nabucco", "I Lombardi", "Macbeth", "Il Trovatore" e "Aida".
ABERTURAS DE ROSSINI - A exemplo de "Opern-Chore" (Deutsche Grammophon/Polygram), "Aberturas" (Deutsche Grammophon/Polygram) também é dedicado a momentos de óperas. Só que neste caso, de um único autor: Giacacchino Rossino (1792-1868), em gravações da Orquestra de Câmara Orpheus, fundada em Nova Iorque, em 1972, que tem uma característica especial: ensaia e apresenta-se sem regente. Os seus 26 integrantes são responsáveis por todos os aspectos da sua atividade musical.
Salienta o crítico Philip Grosset que embora as aberturas de Rossini encantem platéias há gerações (mesmo depois das óperas para as quais foram escritas terem saído dos repertórios), muitas destas obras-primas de vitalidade rítmica já foram executadas em versões que o compositor dificilmente reconheceria como obra sua. A estrutura básica e o espírito continuavam sendo de Rossini, mas com freqüência os detalhes musicais foram drasticamente modificados. Nesta moderna gravação que o Orpheus fez das aberturas de Rossini, temos momentos das óperas "Tancredi", "L'Italiana in Algeri", "L'Ingano felice", "La scala di seta", "Il Barbiere di Siviglia", "Il Signor Bruschino", "La cambiale di matrimonio" e "Il Turco in Italia".
Um terceiro e interessante disco é também da Deutsche Grammophon/Polygram - como os demais em registro digital - que traz as canções profanas de "Carmina Burana", a mais famosa das obras de Carl Orff (1895-1982). Obra fundamental na carreira de Orff, composta em 1936, "Carmina Burana" teve seu texto com base numa compilação feita pelo próprio Carl com base num manuscrito preservado num mosteiro bávaro. Datado de cerca de 1300, esse manuscrito continha uma coletânea de canções seculares ("cantiones profane") em latim, francês e médio e alto alemão da líricas. E deste material, é que temos uma gravação preciosa com três solistas - a soprano June Anderson, o tenor Philip Creech e o barítono Bernd Weikl, acompanhados do Coro Sinfônico de Chicago, Coro Infantil Glen Ellyn e a Sinfônica de Chicago, sob regência de James Levine. O material desta gravação foi apresentado, aliás, na 49ª temporada (1984) do Festival Ravinia, em Chicago, sob a regência de Levine.
DIVAS DO BEL CANTO - Se Placido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti têm comparecido com muita regularidade em gravações de música popular, seria normal que as sopranos passasem a adotar o mesmo esquema. Mas, até agora, o máximo que Elly Ameling, uma das mais importantes cantoras do "Lied" e da "canção de arte", holandesa de Rotterdam, se permitiu foi, acompanhada ao piano por Rudolf Jansen, registrar em novembro de 1983, uma coleção de temas românticos ("Serenata", Philips/Polygram) de autores como John Dowland (1562-1626), Mario Castelnuovo Tedesco (1895-1968), Robert Schumann (1810-1856), Erik Satie (1866-1925), Georges Bizet (1838-1875), e Charles Gouned (1918-1893), entre outros. Mas há também curiosidades, como uma canção do japonês Yoshinao Nakada (nascido em 1923), a "La Serenata" de Francesco Paolo Tosti (1846-1916) e até uma "Niebla porteña" de Lia Cimaglia. Elly Ameling é marcante pela diversificação de seu repertório - tendo merecido até a criação de um prêmio com o seu nome, pela Universidade da Colúmbia Britânica, anualmente concedido ao vencedor do Concurso Internacional Vocal, que se realiza em Hertogenobsch, Holanda.
Outra soprano notável, Renata Scotto, italiana de Savóia - e que aos 17 anos estreou como Violetta em "La Traviatta", de Verdi, há algum tempo, na Hungria, gravou com a Sinfônica de Budapest. sob regência de Thomas Fulton, um programa de árias de óperas de Verdi - "Don Carlos", "Aida", "Un ballo in marschera", "Ernani", "Macbeth", agora lançada no Brasil pela Imagem. Um esplêndido disco a quem aprecia as grandes vozes.
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Falando em ópera, uma oportunidade para quem curte o bel-canto apreciar seis excelentes montagens, registradas em filmes e que serão apresentadas em forma de videocassete, na Cinemateca do Museu Guido Viaro a partir do dia 9, quinta-feira. Dentro da programação que bolou para janeiro, Francisco Alves dos Santos, com apoio de Joel Mendes, estará apresentando em vídeo as óperas "La Traviatta", de Verdi (dia 9); "Turandot", de Pucchini (10); "I Pagliaci", "La Tosca", de Puccini (12); "Aida", de Verdi (13); "Otelo" de Verdi (14). No dia 15, quarta-feira, será exibido um tape intitulado "Homenagem a Caruso", com as participações de Placido Domingo e a Filarmônica de Nova Iorque, sob regência de Zubim Metha. Sessões às 20h30min, com entrada gratuita.
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