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Aramis

As máscaras de Verdi e a Criação de Haydn

Conseqüência ou não do marketing que o jovem (43 anos) Fernando Bicudo soube dourar a sua política de encenação de óperas no Brasil, o glamour renovador de Gerald Thomas, que após o escândalo "Navio Fantasma" no Municipal, prepara-se para uma nova e polêmica montagem - desta vez em parceria com outro notável nome da vanguarda, Philip Glass ("Akh Naten", estréia dia 9 de julho no Municipal do Rio de Janeiro), o fato é que a Ópera, um gênero tradicionalmente caro, elitista e difícil, tem um público cada vez maior no Brasil. Dois estudiosos de música erudita (1), Zito Batista Alves e Charles Osborne, lançaram didáticos livros a respeito (pela Nova Fronteira e Guanabara, respectivamente) que estão vendendo como pão quente e o jovem Leo Barros, diretor de projetos especiais (jazz/clássicos) da Polygram, pode levar adiante seu programa de colocar no Brasil, aquilo que considera de mais importante na área operística. Em volumes econômicos - elepês acondicionados em álbuns (ao invés de caixas duras, como acontecia tradicionalmente mas aumentava os custos), com impecáveis qualidades de gravação digital, temos novas versões de "Un Ballo in Maschera", de Verdi e o oratório "A Criação" de Haydn. "O Baile de Máscaras" que Giuseppe Verdi (1813-1901) iniciou em 1859 e que pelo seu libreto (o assassinato de um rei, Gustavo III, da Suécia, no século XVIII), sofreu problemas de censura na época, deveria ter sido montado no Municipal do Rio, no ano passado, mas acabou sendo cancelado, substituído por "Orfeo", de Gluck (1714-1787). Talvez, este projeto de montagem tivesse animado a Leo, a incluir na programação operística da Polygram a edição da gravação feita em 1983, desde "Un Ballo in Maschera" com Luciano Pavarotti como Ricardo; Margaret Price (Amelia), Renato Bruson (Renato) e mais Christa Ludwig, Kthleen Battle, Peter Webber e outros. Produção luxuosa, contou com a Orquestra Filarmônica Nacional, regida por sir Georg Solti, mais o coro da Ópera de Londres, regência de Terry Edwards e o do Departamento Juvenil do Royal College of Music, regido por Vaughan Meakins. O segundo lançamento classe A da Polygram é "A Criação", oratório para três vozes solistas (Edith Mathis, soprano; Francisco Araiza, tenor e José van Dam, baixo), coro (sob regência de Wiener Singverein) e orquestra (Filarmônica de Viena, regência de Herbert von Karajan). "Die Schopfung" tem texto de Gottfried van Swieten, baseado em "O Paraíso Perdido", de John Milton (1608-1674). É uma destas composições musicais que o consenso coloca entre os apogeus musicais. Afora um nível composicional dos mais elevados, obras como "A Criação" tem geralmente em comum a utilização da linguagem e o desdobramento de todos os meios musicais, aos quais a forte concentração dá todo o seu efeito. Alguns exemplos: A Nona Sinfonia de Beethoven, o Requiem de Mozart, a "Paixão Segundo São Mateus", de Bach, sem esquecer o Messias de Handel. Aliás, como bem lembra o musicólogo Reinhard Schultz, foram as obras de Handel que fizeram brotar em Joseph Haydn (1732-1809) a idéia da composição de um oratório. As vastas possibilidades abertas pelos oratórios de Handel, escritos em inglês, levaram Haydn a criar um correspondente alemão desta música. Iniciada em 1976, o trabalho de "A Criação" estendeu-se por mais de um ano, quando, em 29 e 30 de abril de 1798, houveram as primeiras apresentações no Palácio Schwarzenberg desta obra que, quase dois séculos depois, permanece como um marco da música mundial. A gravação de "Die Schopfung", da Deutsch Grammophon/Polygram, teve também a participação da contralto Ann Murray e foi realizada, ao vivo, por ocasião do Festival de Salzburgo, em 1982. Nota (1) A bibliografia da música erudita em português está sendo enriquecida com bons lançamentos. Jorge Zahar, especialmente, tem editado biografias importantes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
18
06/03/1988
É preciso deixar Haydn fluir com seu universo musical; daí ser indispensável recuperar "A criação" a partir de gravações historicamente orientadas. Quem tiver ouvido Gardiner, Weil, Haselbock, Christie e principalmente Spering regendo essa obra espetacular dispensará, sem nenhum prejúízo, Karajan e sua leitura romantizada.

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