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Aramis

Grupos de ontem que voltam hoje

Uma das boas presenças vocais-instrumentais surgidas nos últimos anos foi o grupo Roupa Nova. Sabendo dosar a linguagem jovem - ou seja, uma linha pop/rock - com base na qualidade sonora, este sexteto vem realizando um trabalho digno e agradável. Lógico que para isto conta muito a inteligência na escolha do repertório, os arranjos caprichados e, sobretudo, a própria competência de cada um dos integrantes do grupo: Kiko (guitarras), Serginho (bateria), Nando (baixo), Ricardo Feghali (teclados), Cleberon Horsth (também teclados) e Paulinho (percussão), todos nos vocais. Autores de muitas das faixas deste novo lp (RCA, novembro/85), buscam composições de outros autores, capazes de se ajustar ao seu estilo. É o caso de "Dona" (Sá & Guarabyra) e os surpreendentes ("Um Show de Rock'n Roll") Michael Sullivan/Paulo Massadas (autores de "Nem Morta", que na voz de Alcione se firmou como uma das 10 melhores músicas de 1985) e "Corações Psicodélicos" (Lobão/Bernardo Vilhena/Júlio). O Roupa Nova, com sua bossa e refinamento, mostra que pode existir vida inteligente no rock. Afinal, não é possível que a nova geração seja criada na imbecilidade de Titãs e Dominós... Há algumas semanas registramos alguns discos infantis - ou gravados por crianças - e esquecemos de mencionar Os Abelhudos, formado por Rodrigo (filho do produtor/compositor Renato Correa, dos "Golden Boys"), seu irmão, Diego e Tatiana. Os três já vinham participando, em coro de algumas gravações e, pela própria influência paterna, partiram para um trabalho mais ambicioso. No Festival dos Festivais chegaram à finalíssima com "O Dono da Terra" e com isto, o direito de fazerem um lp. Afinal, em participações nos vocais, haviam comparecido em lps de Elba Ramalho, Gonzaguinha (que tem utilizado bastante vozes de crianças em seus discos), Erasmo Carlos, Baby Consuelo e, naturalmente, o Balão Mágico. O repertório montado pelo orgulhoso papai coruja Renato Correa para o lp é agradável, embora, pelo próprio tipo de grupo, seja de curta-duração: "Indagações do jovenzinho Adriano, o vegetariano", "Pegar o Céu", "Poeiras do Céu" (Renato/Jayme Além, tendo o Halley por tema), "O Mosquita", "Esperança Criança", "O Dono da Terra" (Renato/ Nair de Cândia) - com sua mensagem de paz e "Amigo Invisível", de Michael Sullivan/Paulo Massadas. Como na natureza, na música nada se perde, tudo se transforma. No Brasil, há pouco foram os Golden Boys que voltaram com seus êxitos do início dos anos 60. Internacionalmente, os Beach Boys também reaparecem quase 25 anos depois de seus primeiros sucessos. No verão de 62, o grupo era formado pelos irmãos californianos Brian, Carl e Dennis Wilson, o primo Mike Love e um amigo, Al Jardine (Bruce Johnston entrou para o grupo em 1965). Responsáveis pelo som de uma época da música americana - descompromissada como a juventude dos anos 60 - em canções como "Fun, Fun, Fun", "Help Me Rhonda" e "California Girls". Agora, quarentões, os Beach Boys voltam num álbum - 39º da carreira do grupo, após 5 anos de ausência, com composições próprias, mas tendo também participações especiais e importantes: Stevie Wonder ("I Do Love you"), que tocou bateria, piano, baixo e harmônica; Boy George e Roy Hay, do Culture Club escreveram "Passing Friend", onde Hay toca quase todos os instrumentos. Nos ilustres "convidados especiais", também o ex-beatle Ringo Starr (que tem feito shows com o grupo) e que toca na faixa "California Calling". O som do The Beach Boys continua gostoso - bem mais harmônico do que as bobagens comerciais que aparecem nestes últimos tempos. O que é bom, fica... Com algumas mudanças no grupo e com nome simplificado - Starship - reaparece também outro grupo que, nos anos 60/70, marcou época: o Jefferson Airplane, que há 20 anos passados, era formado por Marty Balin, Paul Kantner, Jorma Kaukonen, Signe Anderson, Skip Spence e Bob Harvey. Da estréia no Matrix Club em San Francisco e do primeiro lp ("Jefferson Airplane Takes Off", (RCA, setembro/66) muita coisa mudou: sucessos, substituições, experiências num próprio selo (Bark) e, depois, a separação com velhos companheiros até que, no ano passado, com a saída de Kander e Freiberg, os remanescentes - Grace Slick, Michey Thomas, Danny Baldwin, Craig Chaquico e Peter Sears - suprimem o Jefferson e iniciam uma nova etapa, num 20º disco, intitulado "Kenne Deep In the Hoopla" (RCA). E novos vôos são esperados... xxx Depois dos coroas que retornam, falemos dos que estréiam: John Parr, vocalista e compositor, chega com um lp catapultado por "Sr. Elmo's Fire" (Man In Motion) - por coincidência, o mesmo título (original) de um novo filme às vésperas de estrear ("O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas"). A Billboard elogiou Parr como um vocalista sensível, combinando letras de "complexidade penetrante" (sic) com um uso high-tec de sintetizadores e muito rock. Como em "Naughty Naughty", uma das faixas fortes deste lp lançado pela Mercury/Polygram. xxx Outra estréia agradável: o Miami Sound Machine, trazendo em destaque os vocais de Gloria M. Estefan, acompanhado por um grupo latino. Em "Primitive Love" (CBS), o MSM, estruturado em nove integrantes - mas com mais cinco convidados especiais - faz soar um som latino, romântico, a partir de "Body To Body" e "Movies", mas chegando ao ritmo bailável em "Conga" e "Mucho Money".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
19
05/01/1986

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