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Aramis

O ufanismo ianque com boa qualidade

Durante anos Arthur Fiedler, falecido há dois anos, teve seu nome associado à Boston Pops - na verdade a sinfônica de Boston, em uma série de gravações de grande sucesso devido ao estilo cuidadoso e sofisticado que o grande maestro sempre deu ao seu trabalho. A morte de Fiedler não interrompeu esta tradição, pois para substituí-lo o produtor John McLlure chamou outro conhecido regente - John Williams, também compositor dos mais férteis, que já abiscoitou um Oscar, além de ter tido meia-dúzia de indicações nos últimos anos. Uma prova do bom casamento de Williams e os Boston Pops está em "America, The Dream Goes On" (Philips/Polygram). Mesmo sendo um álbum profundamente ufanista, de exaltação ao espírito americano, temos um trabalho altamente profissional, com músicas de autores da maior importância. O álbum inclui uma composição do próprio Williams ("América, o sonho continua"), com letra do casal Alan & Marilyn Bergman, tendo como solista do texto o ator James Ingran, evocando as lembranças de Jefferson, Tom Paine, Lincoln, Kennedy e Martin Luther King. De Morton Gould, 73 anos, temos uma "Saudação Americana", composta em 1947, um conjunto de amplas variações sobre as canções da Guerra Civil. No que se refere a canções patrióticas, poucas são tão sublimes quanto "América, a bela"; (Samuel A. Ward/ Katharine Lee Bates), com suas poéticas evocações, é seguida de "Esta terra é sua terra", de Woody Gutherie/Stuart Philips. Gutherie (1912-1967), foi um dos mais famosos cantores e compositores de músicas de protestos nos anos da recessão, influenciando toda uma geração (especialmente Bob Dylan/Joan Baez) e que teve sua vida contada no belo filme "Bound of Glory" (Esta Terra é Minha Terra, 1976, de Hal Ashby). No lado A, temos ainda "Hoe-Down", da suite "Rodeo" de Aaron Copland (Brooklin, Nova Iorque, 1900), criador de partituras para balés como "Billy the Kid", "Rodeo" e "Primavera nos Apalaches" - (estas duas primeiras, aliás, tiveram no ano passado duas edições (CBS e Polygram) no Brasil). Copland é também autor da "Fanfarra para o homem comum" (1942), uma das obras mais estimulantes do repertório americano e que abre o lado dois, seguida do "Hino da batalha da república" (William Steffe/Julie Ward Howe), em arranjo de Peter Wilhousky. Em seguida, um pot-pourri de Leonard Bernstein, 64 anos, ex-regente da Sinfônica de Nova Iorque, com "New York, New York" e, "Cidade Solitária" (parceria com Betty Comden/Adolph Green) - ambos do musical "On The Town" e, "América", de "West Side Story". No final, dois temas tradicionais: o clássico "Quando os santos vão marchando", que é página indispensável dos grupos de jazz Dixieland e o "Prece de ação de graças" - em arranjos de Billy May e E. Kremser, respectivamente. Um disco ufanista, sem dúvida! Mas que belo ufanismo com músicas tão maravilhosas e marcantes. Um álbum esplêndido, entre as melhores produções internacionais que a Polygram lançou no Brasil em 1985.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
19
05/01/1986

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