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Aramis

"Tuttoo Pavarotti" para ouvir o grande barítono

Só Bienamino Gigli (1890-1957) e, especialmente, Enrico Caruso (1873-1921) talvez tivessem conhecido a glória maior em vida. Só que tendo vivido numa época em que inexistia a televisão e a mídia internacional era muito mais limitada, estes dois monstros do bel - canto não chegaram a tantas camadas de público quanto atinge Luciano Pavarotti. Aos 51 anos, este barítono que começou sua carreira artística, em termos profissionais, há 30 anos, quando interpretou "Rodolfo" na montagem de "La Boheme", em Reggio Emilio, Itália, tem hoje uma audiência mundial, não apenas representada pelos que amam a ópera mas também por faixas mais populares. É que Pavarotti - a exemplo dos outros dois grandes tenores da atualidade, o espanhol José Carreras e o Também italiano Plácido Domingo - tem feito incursões pelos ritmos populares, gravando, inclusive, músicas contemporâneas. Embora não sendo tão bem sucedido no cinema como foi seu colega Plácido Domingo - especialmente nos filmes-ópera dirigidos por Franco Ziffereli ("Cavalaria Rusticana" e "Otelo"), Pavarotti é popularíssimo. Seu filme americano, "Yes, Giorgio" não representou uma abertura cinematográfica (como aconteceria com outro tenor italiano, Mario Lanza, nos anos 50) mas foi um registro significativo. Com uma discografia imensa - tanto em óperas como em projetos mais populares, sai agora uma gravação para deliciar o seu público: "Tutto Pavarotti" (London/Polygram, CD duplo), reunindo gravações que vão desde 1969 a 1988 - as primeiras, naturalmente pelos sistemas tradicionais, as mais recentes já pela perfeição do DDD. O CD Um abre, justamente com uma homenagem a "Caruso", com a composição de L. Dalla, seguida de cançonetas napolitanas que todos conhecem como "O sole mio", "A vucchella", "Core'ngrato", "Passione", "Mamma", nestas companhias pelas orquestras de Bologna, regida por Giancarlo Chiaramello e mesmo Henry Mancini. Em seguida, um bloco de canções de ordem religiosa - como "cantique de Noel" "Agnus Dei (de Bizet) e o "Cuius animam" de Rossini. Feito este prólogo - que não deixa de ser uma jogada de marketing na produção, como forma de aproximá-lo de uma faixa de público menos "operística" em termos tradicionais, começam as árias de grandes óperas: "Aída", "Luisa Miller", "La Traviata", "Il Trovatore", "Rigoletto", "Un ballo in maschera", de Verdi; "Don Pasquale" de Donizetti; "La Gioconda", de Ponchieli; "Martha", de Flotow; "Carmen" de Bizet; "Werther", de Massenet; "L'Africana", de Meyerbeer; "Mefistofele" de Boito; "Pagliacci" de Leoncavallo; "Cavalleria Rusticana"de Mascagni; "Fedora", de Giordano; "La fanciullla del West", "Tosca", "Manon Lescaut" e "Turando" de Puccini. Obviamente, que para os expertos em ópera, colecionadores ferozes de edições importadas - como o cardiologista Hélio Germiniane, o empresário Joel Mendes ou o advogado José Moura Falcão, - para só citar três maiores exemplos de expertos na área - um lançamento como este pouca novidade traz. Afinal, todas estas faixas já estão em edições integrais de cada ópera - e as canções, digamos, populares, que abrem o primeiro CD também já tiveram outras edições. Entretanto, para quem não dispõe do poderio econômico da elite que tem hoje somente discotecas em laser e videotecas com preciosidades obtidas internacionalmente - "Tutti Pavarotti" é um llimelights importante, sintetizando em duas horas a voz de um dos cantores mais notáveis de nossa época.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
12/05/1991

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