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Aramis

Marrocos, Moulin Rouge, Cadiz, Manhattan, os doces endereços!

A edição de "A Grande Noite"- futuro lançamento da coleção "Leite quente" - poderia incluir um nostálgico mapa da memória boêmia da Curitiba dos anos 50 e 60. Assim como a idéia deste volume pode ser ampliada para outras variantes do mesmo riacho: um flash back da noite na provinciana Curitiba dos anos 30 e 40, a crônica dos mais famosos bordéis da cidade, o pioneirismo da alta rotatividade o famoso Carioca na Avenida Marechal Floriano e, mais modesto, o City na Barão do Rio Branco - "avós" dos sofisticados motéis aceitos hoje tranqüilamente pela sociedade - mas um horror perante o comportamento dos curitibanos de duas décadas passadas. Em seu texto, o jornalista Enock de Lima Pereira, ou melhor, o "Mauro" da coluna "A Grande Noite" das páginas da Tribuna do Paraná entre 1957/62, liga a máquina do tempo xxx "No Clube Cadiz, Leo "El Morocho", Menendez e Pellejero faziam "O tango abraça o samba", espetáculo com transmissão pela Rádio Tingui (hoje a AM-Canal 1310), nas vozes poéticas de Getúlio Cury e Jorge Nasser, esse usando a radiofonia e a noite como caminhos para se eleger deputado estadual. Era endereço de poucas mesas na lotação constante, para conversa descontraída com música de qualidade garantida. Algumas quadras adiante a "marrocos", que foi o chamado grande templo noturno da cidade se dando ao luxo, inclusive, de ter um diretor artístico, o Odilon Portes, fazendo da apresentação dos espetáculos um ritual de muita gala pois a relação dos números incluía, entre outros, Jesus Lema "y su espetaculo espanhol" para que desfilassem Carmem Lemos, Celiz Crespo, Elba Mendonza, Sonya Reis, Saara Montenegro... A direção dos números era repartida com Chiapero e mostrava o grupo de pista do Crestes Dave com as formas esculturais de Elisabeth Castels, Naritha Dupon e Diana Simons, nomes artisticamente escolhidos com requinte para antecipar sucesso. O Breno Sauer dos acordes maravilhosos e que mais tarde conquistaram as noites de São Paulo também andou por alí e o Luiz Silva, moço de muita simplicidade, fazia a cantoria de fundo, arrancando tempos depois algumas gravações na capital paulista, lutando por um lugar ao sol no meio que já consagrara o Léo Vaz, a rigor nossa única voz popular a ganhar éco em termos nacionais. Tinha o Mirandinha, pianista de Florianópolis, dedilhando teclado com acordes maravilhosos. O calendário notívago foi marcado, também, pelo restaurante Paris, onde Luizinho e Mongam serviam nada menos do que matambres com polenta no inusitado horário entre 18 e 6 horas da manhã, e haja estômago... Começava a fazer nome o Moulin Rouge lá pelo lado da Rua João Negrão, com o balé Betine, a bailarina acrobática (isto mesmos, acrobática), Arlete Moreno e trazendo ainda Mercedes Lopes e Lita Dalton. Aparecia o bar do ""Renato", não o cronista, um lugar de poucas mesas e entrada selecionando a entrada selecionada, refinando a noite curitibana, o que já não acontecia com o Clube Tropical, local, para quem não acredita, funcionava em pleno Passeio Público, local hoje ocupado pelo bar do Pasquale. O "Maluco do teclado", Zeca Mattar (irmão do hoje sofisticadíssimo Pedrinho) sacudia o ritmo por ali. xxx No "La Vie em Rose" um artista que empolgava era o francês Paul, com um violino de divina execução. No meio da noite daqueles tempos é bom não esquecer, a veia do empresário de Paulo Wendt, que trouxe a Rita Pavone para espetáculo no Teatro Guaíra, menina-moça que estourou nas paradas de todo o mundo com "Jambalaia".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
12/05/1991

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