Lajos, um caixeiro viajante das artes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de fevereiro de 1986
No inverno de 1962, quando o húngaro Paulo Lajos chegou a Curitiba, o nosso mercado de artes plásticas era dos mais reduzidos. Com exceção da pioneira Cocaco - que Loio Pérsio, Manoel Furtado e Ennio Marques Ferreira haviam fundado 6 anos antes (e que na época já havia sido vendida a Eugênia Petrius), não havia nenhuma outra galeria na cidade. Europeu culto, que havia aprendido a apreciar as artes nos anos de ouro de Budapest - onde nasceu em 1921 - e que só deixou a Hungria em 1949, fugindo do regime comunista, Lajos sentiu que no Brasil poderia trabalhar como mercador de artes. E, iniciou com os artistas europeus, muitos dos quais seus compatriotas húngaros, que em São Paulo, buscavam espaços para seus trabalhos.
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Solteirão, simpático, amigo da madrugada e de um bom papo, Paulo Lajos foi ficando em Curitiba. Homem de sonhos modestos, sme preocupações de enriquecer, passou a desenvolver um trabalho alternativo na área da comercialização artística, não se importando em comercializar telas de artistas menores em termos de qualidade, mas capazes de terem bom público. Viajando pelo Interior, Lajos é, há duas décadas, uma espécie de caixeiro-viajante das artes plásticas e pela opção que fez por uma "portabilidade de vida", descartou possibilidades de instalar uma galeria em termos tradicionais.
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Apesar de um trablaho autônomo, Paulo nunca teve dificuldades para expor os artistas que representa. Em lojas vazias, hall de edifícos e espaços diversos - sempre cedidos por amigos, monta suas mostras, nas quais convivem desde os artistas mais acadêmicos, com quadros tipo "incêndio na floresta" - (exemplos maiores do kitsch plástico) - até, vez por outra, preciosidades como peças de Bakum ou Andersen que, em suas andanças, descobre em poder de velhas famílias do Interior do Estado. Atualmente, Lajos mostra seus quadros de seus artistas numa loja da Rua Fernando Moreira, 34.
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Numa época em que as galerias de arte se multipllicaram - grande parte das quais fazendo um trabalho nem sempre dos mais escrupulosos, Paulo Lajos, em sua simplicidade e sinceridade, merece respeito pela sua contribuição ao menos na tentativa de fazer os paranaenses, a partir dos anos 60, valorizarem os artistas plásticos.
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