Lembrando Tosh
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de setembro de 1987
Há exatamente sete anos, quando o então secretário da Cultura de São Paulo, Max Feiffer, um apaixonado por jazz, deu condições para que se realizasse a segunda edição do São Paulo - Montreaux Jazz Festival, uma das atrações programadas para atrair o público mais jovem foi, justamente, o compositor jamaicano Peter Tosh. No auge de sua fama, quando o reggae o tinha como um dos vértices da badalativa trindade (os outros eram Bob Marley, já falecido e Jimmy McCliff), Tosh fez pouco de jazz mas agitou muito o Anhembi. Entre outras apelações, adentrava no palco num moniciclo, tocando guitarra e cantando. A platéia jovem exultava. Afinal, tudo cabia dentro do rótulo de jazz.
Por coincidência, no sábado, 12, quando muitos dos 3.700 espectadores que lotavam o Anhembi, na penúltima apresentação do Free Jazz Festival, nem sequer ainda sabiam da notícia transmitida horas antes, pela televisão - do assassinato de Peter Tosh, em Kingston, na Jamaica, lembrava-se daquele fato - que marcou sua passagem pelo Brasil (quando chegou também a gravar um capítulo da telenovela "Água Viva", na Globo). Em termos de abertura para ritmos de consumo fácil - que não podem ser classificados, exatamente, como jazz, o festival de sete anos passados foi muito mais eclético do que o de agora. Apesar do nome Free Jazz, a programação artística foi bem mais equilibrada - com poucas concessões ao chamado "gosto jovem" - apesar de um grupo de "fussion" (Spyro Gyra) - que conseguiu quase a unanimidade de desagradar tanto no Rio como em São Paulo - e a parafernália sonora de Chick Corea Elektric Band, que além de sua apresentação no Anhembi, fez, generosamente, uma apresentação pública - para quem não pode pagar os ingressos no Anhembi - na tarde de domingo, 13, na praça da Paz (Ibirapuera, SP).
O Free Jazz Festival, em sua terceira edição, em São Paulo (8 a 13) terminou com um resultado mais do que positivo, tanto em termos artísticos como de organização. Não era sem razão que Monique Gardenberg ao lado da bela irmã, Sylvia - a grande realizadora do evento, já traçava, na madrugada de sábado, projetos da próxima edição. Paulinho Albuquerque, seu principal assessor artístico (juntos, organizaram em Curitiba, há 5 anos, o "Brasil de Todos os Cantos"), antecipava, no domingo, o primeiro nome lembrado para vir a quarta edição, dentre a política de resgatar brasileiros que vivem nos EUA: o violonista Oscar Castro Neves, 50 anos, desde 1967 radicado na América.
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