Malícia nas marchinhas que o povo pouco ouviu
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de fevereiro de 1988
O afastamento de Sílvio Santos por um mês de seu programa dominical, por certo prejudicou a divulgação das duas maliciosas marchinhas que gravou em compacto na RCA - mas que, infelizmente, nem sequer foram enviadas as emissoras filiadas a TVS para terem melhor promoção. Gugu Liberato, que deixa agora o comando do "Viva a Noite" e passará para a Globo, também atacou com duas marchinhas: "Fio Dental" (Monique) e "Marcha da Bicharada", ambas de Kelly, Roberto Manzoni e o próprio Gugu - mas igualmente não teve maior rendimento promocional.
João Roberto Kelly, 50 anos, é um dos raros compositores de algum prestígio que ainda insiste em fazer marchinhas carnavalescas. João de Barro (Carlos Alberto Ferreira Braga), o Braguinha, às vésperas de completar seu 81º aniversário (no próximo dia 29 de março), o maior de todos os criadores carnavalescos, embora não lhe falte inspiração, há muito se desiludiu em tentar gravar suas belas músicas. Por ser mais jovem, Kelly - autor de sucessos que continuam a ser cantados como "Cabeleira do Zezé" (1964), "Mulata Iê-Iê-Iê" (1965) e "Rancho da Praça Onze", tem tentado as formas cada vez mais apelativas, com letras de duplo sentido - e mesmo mau gosto - como "Papai Pão Duro" e "Marchinha do Pintor" - cujas partituras foram distribuídas avulsamente, nem constando nos álbuns das editoras musicais.
A letra de "Papai Pão Duro" e a seguinte:
"O Papai sempre foi pão duro
Pão duro até o fim
Eu juro, no duro, no duro
Nem a fama de pão duro
Ele deixou pra mim
Ele pensava no futuro
E dizia: "Meu rapaz
Com essa fama de pão duro
O seu pai não fica duro nunca mais".
Também a "Marchinha do Pintor", igualmente gravada por Sílvio Santos, é pobríssima em sua letra maliciosa:
"Eu sou pintor, eu sou pintor, só pinto o nu
Porque o nu tem mais valor
Na minha profissão
Eu vivo gastando tinta
Mas de pincel na mão
Ninguém pinta como eu pinto
Como eu pinto ninguém pinta
Ninguém pinta como eu pinto
Como eu pinto ninguém pinta".
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