Sílvio Santos e sua solitária marchinha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de fevereiro de 1989
Com a morte de Chacrinha (Abelardo Barbosa, Recife, 1918 - Rio de Janeiro, 1988) só ficou mesmo Sílvio Santos na solitária tentativa de, utilizando o poder de comunicação de sua rede, fazer com que ao menos uma marchinha seja cantada no Carnaval. Este ano, astutamente, o animador-empresário usa um tema muito atual: as eleições presidenciais e a sua possível candidatura (imagine-se quantas marchas e sambas poderiam sair, em torno da política, Plano Cruzado, Sarney, etc., se houvesse estímulo para gravações). Mas mesmo Sílvio Santos, com toda força do SBT - em sua rede nacional - não é tão catituado quanto deveria. A marchinha nem consta nos dois catálogos de músicas carnavalescas distribuídos pelo Escritório Central de Direitos Autorais. Apesar do catálogo das Edições Euterpe trazer na capa o título "Carnaval 89", não há entre as 47 músicas (com suas partiuras) ali incluídas nenhuma com registro de 1988 - distribuindo-se os 20 sambas, 24 marchas e 3 marchas-ranchos entre criações que vão de 1953 ("Piada de Salão", de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti) chegando as mais recentes a 1983 ("Mistérios das Estrelas", de Missinho, gravada pelo conjunto Chiclete com Banana, de Salvador, em disco da Continental).
Aliás só mesmo os baianos, com seu carnaval-reggae, é que aparecem à moda carnavalesca. No catálogo da Intersong estão "Ode a Adão", de Luiz Caldas, registrada no ano passado na Polygram. As quatro outras composições com registro de 1988 são as seguintes: "Milagre Brasileiro" (Noca da Portela/ Toninho Nascimento), gravada por Beth Carvalho em seu último LP ("Alma Brasileira, Philips); "Lá Vai o Trio" (Topa/ Rey Zulu/ Robson do Samba Fama/ Ninha do Leva Eu) - sem registro fonográfico mas com edição feita na Phonogram Produções e Edições Musicais; "Eu sou Cacique", também sem registro fonográfico e a efusiante "Disputa de Poder" (Almir de Araújo/ Marquinhos Lessa/ Hércules Correa/ Balinha), que Simone, oportunista como sempre em incluir sambas-de-enredo em seus LP's, gravou no álbum "Sedução" no ano passado (CBS).
Sequer os sambas-de-enredo das Escolas de Samba do Grupo 1-A, do Rio de Janeiro, foram incluídas nos catálogos que o ECAD (representação local na Praça Santos Andrade, 37, bloco B, sala 4) distribui aos maestros e responsáveis por orquestras e grupos musicais que atuam nos bailes carnavalescos. Marcos Araújo, gerente local do escritório, ocupadíssimo com as providências que está tomando para garantir a fiscalização em milhares de bailes - com base no que farão as planilhas para a computação dos direitos autorais - explica que "sinceramente não conheço nenhuma música nova para este Carnaval". A única exceção, diz, "é a marchinha do Sílvio Santos na qual ele fala que quer ser Presidente da República".
Até os anos 70, quando Alberto Cunha representava as antigas sociedades arrecadadoras (SBA-CEM-Sadembra-Sbat etc.), seu escritório num velho edifício da Rua XV, fervilhava nas semanas que antecediam o Carnaval, com centenas de músicos buscando os grossos volumes com centenas de composições carnavalescas - entre antigas e muitas novidades para a época.
Hoje, só os músicos com menos de 20 anos é que precisam das partituras que estão nos dois magros catálogos editados pela Intersong (38 músicas) e Euterpe (49), pois as marchas e sambas e marchas-ranchos ali incluídas são tão antigas que só instrumentistas muito jovens podem desconhecê-las.
LEGENDA FOTO - Sílvio Santos: marchinha para Presidente.
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