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Aramis

Mautner & Seixas

Há certos discos que adquirem uma repercussão tão grande e imediata, que uma breve demora para registrá-lo jornalisticamente faz com que a notícia chegue quase superada. E curiosamente isso ocorre com interpretes e compositores discutíveis em termos de musicalidade dentro dos padrões convencionais, mas cuja aceitação por amplas faixas de públicos, mostram que realmente, na MPB muita coisa diferente está ocorrendo - na multiplicidade de caminhos tentados. Dois exemplos distos são Raul Seixas e Jorge Mautner. Dentro dos padrões convencionais os apreciadores da MPB refutariam ambos, pela linguagem quase debochada que empregam, a voz pouco harmoniosa e ruídos estridentes em seus arranjos. Mas tratam-se na verdade de dois dos mais curtidos compositores-intérpretes do momento pela faixa de consumidores entre 14/30 anos e existem inclusive longas apreciações críticas para justificarem os seus trabalhos. Raul Seixas foi em 1974 a grande revelação em termos de vendas para a Phonogram. Seu compacto "Ouro de tolo", atingiu cifras impressionantes e o seu primeiro lp repetiu a aceitação. Simpático, lúcido num papo informal, Seixas junto com seu letrista Paulo Coelho defende profundas idéias filosóficas, fala muito em sua Sociedade Alternativa, esteve nos EUA transando com John Lennon e outros papas do mundo que se preocupam por transas pop-espirituais. Muito já se escreveu a seu respeito seu segundo lp (Gita, Philips, 6349113) conseguiu já a vendagem esperada pela Phonogram de forma que é quase dispensável qualquer apreciação mais demorada. Raul Seixas produz uma música para seu público específico mas verdade seja dito que, apesar das restrições estéticas-musicais que possa se fazer ao seu trabalho, ele consegue traduzir ao menos um pouco de inquietação da busca de novos valores de nosso mundo contemporâneo - e isto possivelmente é que garante a aceitação de seu trabalho. Em seu segundo lp, produção de Mazola, Seixas utilizou diferentes formações instrumentais nas 12 faixas: "Super Heróis", "Medo da chuva", "As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor", "Água viva", "Moleque maravilhoso", "Sessão das 10" (de Raulzito título de um vanguardista lp que Seixas produziu e participou há 5 anos quando era produtor da CBS), "Sociedade Alternativa", "O trem das 7", "SOS", "Preludio", "Loteria da Babilonia", e "Gita". Jorge [Mautner] é outro caso especial de anti-cantor que começa a ser curtido pela garotada. Jovem escritor aparecido no início dos anos 60, com a discutível "Trilogia do Kaos" (kaos, Narciso em Tarde Cinzenta, e Vigarista Jorge"), morou em Londres, fez letras para algumas músicas de sucesso de Gilberto Gil e de volta ao Brasil tem feito shows bastante polêmicos. Cantando, tocando violino, propondo novas soluções musicais, o primeiro lp de Mautner saiu pelo selo "Pirata", d Phonogram com preço impresso na capa e foi boicotado pelos donos de lojas de discos, o que não queriam comercializá-lo por aquele preço. Assim, o segundo lp de Mautner sai na série de luxo (2451051, Polydor) preço convencional (Cr$ 45,00) e traz uma série de novas músicas - ou antimúsicas, para quem aceita o seu trabalho, sozinho ou em parceria com Nelson Jacobina ou Rodolfo Grani Junior: "Guzzy muzzy", "Pipoca a meia noite", "Cinco bombas atômicas", "Ginga de mandinga", "Rock da TV", "Samba dos animais", "Herói das estrelas", "Matemática do desejo", "Nababo é". LEGENDA FOTO 1 : Mautner LEGENDA FOTO 2 : Seixas
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
10
04/02/1975

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