As mortalhas de Menezes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de julho de 1976
Os imortais de nossas múltiplas academias e centros de letras - incluindo as entidades feministas, por certo vão adquirir e guardar o número de "Manchete" que ontem amanheceu nas bancas: a seção "As Obras-primas que poucos leram" é dedicada a irônica obra "Mortalhas", do curitibano Emílio de Menezes (4 de julho de 1866 - 4 de junho de 1918).
xxx
O escritor Josué Montello, redator do texto, inicia dizendo que Emílio de Menezes foi uma das figuras mais populares do Rio de Janeiro na última década do século passado e nos primeiros dezoito anos deste século. Poeta parnasiano, por algum tempo de namoro com os simbolistas, mas sem ter chegado a aderir à nova escola literária, manejava com grande habilidade o verso alexandrino e cultivava com requintes de rigorismo formal a poesia lírica. Publicou, em vida, 5 volumes de versos, que se acham praticamente esquecidos. Mas, ao mesmo tempo que fazia sonetos líricos, também escrevia nos jornais, anonimamente ou sob pseudônimos, como o de Zangão e de Gastom d'Argy, sátiras rimadas e epitáfios, ao mesmo tempo que integrava o grupo de Olavo Bilac, a princípio na Confeitaria Paschoal e, mais tarde, na Confeitaria Colombo. Aqueles cinco livros o levariam à Academia Brasileira de Letras (mas morreria antes de assumir sua cadeira), mas seriam os versos satíricos, publicados postumamente, sob o título de "Mortalhas" que na verdade lhe perpetuariam o nome.
xxx
Quem tem um longo estudo sobre Emílio de Menezes, inclusive com revelações inéditas é a professora Cassiana Licia Lacerda Carolo, ex-diretora do Setor de ciências Humanas, Letras e Artes da UFP e que conclui sua tese de Doutoramento, sobre os poetas simbolistas.
xxx
Aliás é bastante interessante lembrar a razão porque o poeta paranaense não chegou a tomar posse na Academia Brasileira de Letras: espírito irônico, em 1906, quando Mário de Alencar, filho de José de Alencar, candidatou-se a vaga de José do Patrocínio. Emílio publicou um soneto em que terminava dizendo que ele trazia como "bagagem literária", "calças curtas, a lousa, o abecedário e o primeiro exemplar do "Tico-Tico". Responsável pela candidatura de Mário de Alencar, Machado de Assis - fundador da Academia - magoou-se com o soneto de Menezes e opos-se posteriormente, a entrada do poeta paranaense na instituição que presidia. Só após a morte do autor de "Dom Casmurro", Emílio se candidatou à vaga de Salvador de Mendonça. Eleito, tardou a escrever o seu discurso. Quando o enviou à Academia, para que esta o aprovasse antes da cerimônia de posse, recebeu a censura de vários trechos de sua oração. Alguns acadêmicos eram alvejados mas Emílio não concordou com os cortes. A Academia não transitiu. Até que a morte se encarregou de dar solução ao impasse - levando o poeta. Em dezembro de 1926, a "Revista da ABL publicou o discurso, com os cortes. Antes, por iniciativa de Felix Pacheco, o "Jornal do Comércio" havia publicado na íntegra o famoso discurso.
xxx
As obras de Emílio de Menezes há muito estão esgotadas. E neste Estado pródigo em gastar dinheiros em supérfluas e badalativas promoções supostamente culturais, ninguém ainda se lembrou de promover a reedição. Viva a nossa cultura!...
Enviar novo comentário