Mozart e a música dos teatros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de julho de 1986
Paralelamente a edição dos três álbuns na qual a Filarmônica de Viena, sob regência de Von Karajan, executa as Sinfonias 4, 5 e 6 de Tschaikovsky, a Polygram nos traz também a mesma Wiener Philharmoniker, desta vez sob regência de Leonard Bernstein, na Sinfonia no 35 de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), a chamada "Haffner". Na mesma edição, outra sinfonia do mestre austríaco - a Sinfonia no 41 em Dó Maior, Opus 551 - a "Júpiterni".
A Sinfonia em Ré Maior - "Halffner" foi composta no final de julho de 1782, em meio à agitação das primeiras apresentações de "O Rapto do Serralho". Mozart havia recebido da família Haffner, de Salzburgo, (para ela, seis anos antes, já havia escrito a "Serenata Haffner"), o encargo de uma nova serenata, que ele, em várias remessas, num total de seis momentos, enviou a seu pai, Leopold, que morava, em Salzburgo. aí está a origem de uma das obras mais interessantes - na qual a leveza dos motivos e a elaboração artisticamente polifônica - um estilo "galante" e "Erudito" - se entrosam, sem que seja possível separar um do outro.
O mesmo vale também para a "Sinfonia em dó maior" - a "Júpiter" - que nasceu já num período difícil de sua vida (1788), mas que em nada prejudica a força desta obra que recebeu o nome de "Sinfonia Júpiter" - e composta em apenas seis semanas. Esta obra só foi apresentada após a sua morte - mas logo seria reconhecida como um dos ápices de toda música instrumental.
Outra edição da Deutshe Gramophon/Polygram nos traz a sinfonica de Chicago, sob regência de James Levine, em duas grandes obras inspiradas em textos teatrais. Uma delas é "Sonho de Uma Noite de Verão", música que Felix Mendelssohn (1809-1847) criou para a peça de Shakespeare, aqui numa preciosa gravação destacando o soprano Judith Blegen, a mezzo soprano Florence Quivar e o coro da Sinfônica de Chicago, sob regência de Margaret Hillis.
Aos 17 anos foi que Mendelssohn teve seu contato com a peça de Shakespeare que o encantou sobremaneira. E nascia a decisão de criar uma bela moldura para este clássico do teatro universal, com toda sua universidade de mitos e símbolos - que tem atravessado aos séculos.
Já Franz Schubert (1797-1828) desde os 15 anos de idade era atraído para projetos inspirados em textos teatrais. Entretanto, sentia-se frustrado diante libretos fracos. Não foi exceção "Rosamunde, Princesa de Chipre", o grande drama romântico em quatro atos de Helmina von Chézy, encomendada pelo Theatre an der Wien, para o qual um curtíssimo espaço de tempo lhe foi dado para compor a música-de-cena para a estréia em 20 de dezembro de 1823. Da mesma forma que a inexperiência dessa escritora conhecida, mas ingênua em matéria de ópera, havia recentemente selado a sorte de "Euryanthe", de Weber, "Rosamunde" foi também tirada de cartaz após suas representações. O texto, alegadamente tramado em cinco dias, desapareceu. Sabemos, no entanto, que sua trama centrava-se nas provas a que foi submetida a herína do mesmo nome, filha do Rei de Chipre, pois foi criada como pastora antes de unir-se ao príncipe ao qual havia sido prometida na infância. A contribuição de Schubert compreendia uma "overture" e nove outros números, incluindo coros para pastores e caçadores e um solo em contralto para a mãe adotiva de Rosamunde. Se bem que tenham sido publicados extratos em redução para piano durante a vida de Schubert, a partitura completa não foi desenterrada senão quatro décadas mais tarde. Schubert não poderia ter imaginado que números como os três tocados nesta gravação levariam o seu nome através do mundo.
Tanto "Sonho de uma Noite de Verão" como "Rosamunde" foram gravadas pela Sinfônica de Chicago durante a 49ª temporada (1984) do Festival de Ravínia, em Chicago.
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