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Aramis

Mulheres belas e elegantes

Quando Somerset Maugham (1874-1966) escreveu "The Constant Wife" tinha 51 anos de idade e já contava, em sua obra, romances do rigor de "Servidão Humana" (on Human Bondage, 1915) e "A Lua e o Tostão" (The Moon and Sixpence, 1919). No mesmo ano em que trabalhou nesta peça, já pensada como um texto leve e descontraído, com um senso de humor bem inglês, escrevia outro de seus vigorosos romances - "O Véu Pintado" (The Painted Veil, 1925), para muitos, com momentos tão densos, quanto os que viria a expor, 19 anos depois, em sua ultima grande obra ("O fio de Navalha/The Razor's Edge", 1944). E difícil e temerário afirmar ate onde um diretor inteligente e serio como Cecil Thiré, filho (único)da superstar Tonia Carrero, "modernizou" o texto de Somerset Maugham. Mas é claro, mesmo ao mais leigo espectador, que ao traduzir o texto publicado há 54 anos passados, Cecil Thiré não se limitou a um trabalho mecânico. Pensou, como encenador e, homem (tendo praticamente nascido e vivido em ambientes artísticos), conhece também o "marketing artistico". E assim o resultado foi um "The Constant Wife" feito certinho para o consumo de um publico burguês, condicionado a textos totalmente digestivos, agradáveis - programa ideal para o inicio de noite elegante, em que a mulher põe o melhor vestido e exige, em complemento, um jantar num restaurante da moda - talvez com a esperança de ali encontrar o próprio elenco, que, nesta temporada curitibana, vem freqüentando os mais caros e badalados endereços da cidade. xxx Cecil Thiré é um diretor competente e pode, assim, tanto fazer um espetáculo da dimensão e firmeza de "A Noite dos Campeões" - sem dúvida, uma das melhores montagens ocorridas no Brasil nos últimos anos, até um espetáculo caça-níquel, superficial e puramente digestivo como este "Constantina" (auditório Salvador de Ferrante, até amanhã, 21 horas). xxx Tonia Carrero 'we mulher elegante, cuja beleza resiste ao tempo. Uma carreira de 29 anos de muitos sucessos e premiações, intensas atividades, lhe dão hoje um lugar glamorizado junto as grandes damas do teatro brasileiro. E, mais do que nenhuma outra, ela é a mulher que se veste bem, tem a classe e elegância que a faz, em cada vez que deixa o Rio de Janeiro e se dispõe a percorrer as capitais brasileiras, a encontrar em todas as cidades que chegam um verdadeiro festival de festas e recepções a sua espera. Desta vez, aliás, trouxe um apoio considerável, representado desde belos rostos popularizados pelo cinema e ( principalmente) televisão - como Karin Rodrigues, Monique Lafonde e Rita Cléos, até uma veterana e marcante atriz, Márcia Real que no papel da Sra. Morgan, é a melhor figura em cena ao longo dos dois cansativos atos de "Constantina". xxx Sendo uma mulher tão bonita, elegante e bem educada, querida do publico rico e sofisticado das cidades que visita, é claro que Tonia Carrero não poderia decepcioná-lo. Mesmo tendo já mostrado, em tantas peças, o seu vigor o talento, vivendo desde a prostituta de "Navalha na Carne" até a personagem de Ibsen em "Casa de Bonecas", desta vez, é no palco aquela com muitas - milhares de espectadores se identificam: uma mulher rica e que enfrenta com inteligência e estratégia as traições conjugais. Sem dramas, choros ou gritos histéricos, tudo na elegância semelhante aos vestidos criados por Guilherme Guimarães, maquilada por produtos Helena Rubinstein e usado meias Christian Dior. Afinal, frente a tanto envolucro de classe, com personagens num cenário executado em Poliester 3 M, e embalado em sorriso e mais sorriso - não caberia mesmo dramas e questionamentos sociais. Não importa ou que tenha pretendido o velho Maugham, em seu "The Constante Wife" na Inglaterra de meio século atrás. xxx O resultado é um espetáculo que entusiasma aquela faixa de público que não se importa em pagar Cr$ 250,00 para assistir a Ray Connif, Burt Bacharach ou, naturalmente, o elegante Tonia Carrero. Numa peça alegre, divertida, "higiene mental" e tantos outros adjetivos que existam. xxx Além de tudo, na esticada que os grupos de espectadores podem fazer no Ile de France, ou Locanda Suíça, por certo encontrará novamente o elegante e belo grupo de atrizes que, pouco antes, no palco do Guaíra, fizeram tantos rirem e passar "momentos de alegria".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
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15/04/1978

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