Mulheres belas e elegantes
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 15 de abril de 1978
Quando Somerset Maugham (1874-1966) escreveu "The Constant Wife" tinha 51 anos de idade e já contava, em sua obra, romances do rigor de "Servidão Humana" (on Human Bondage, 1915) e "A Lua e o Tostão" (The Moon and Sixpence, 1919). No mesmo ano em que trabalhou nesta peça, já pensada como um texto leve e descontraído, com um senso de humor bem inglês, escrevia outro de seus vigorosos romances - "O Véu Pintado" (The Painted Veil, 1925), para muitos, com momentos tão densos, quanto os que viria a expor, 19 anos depois, em sua ultima grande obra ("O fio de Navalha/The Razor's Edge", 1944).
E difícil e temerário afirmar ate onde um diretor inteligente e serio como Cecil Thiré, filho (único)da superstar Tonia Carrero, "modernizou" o texto de Somerset Maugham. Mas é claro, mesmo ao mais leigo espectador, que ao traduzir o texto publicado há 54 anos passados, Cecil Thiré não se limitou a um trabalho mecânico. Pensou, como encenador e, homem (tendo praticamente nascido e vivido em ambientes artísticos), conhece também o "marketing artistico". E assim o resultado foi um "The Constant Wife" feito certinho para o consumo de um publico burguês, condicionado a textos totalmente digestivos, agradáveis - programa ideal para o inicio de noite elegante, em que a mulher põe o melhor vestido e exige, em complemento, um jantar num restaurante da moda - talvez com a esperança de ali encontrar o próprio elenco, que, nesta temporada curitibana, vem freqüentando os mais caros e badalados endereços da cidade.
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Cecil Thiré é um diretor competente e pode, assim, tanto fazer um espetáculo da dimensão e firmeza de "A Noite dos Campeões" - sem dúvida, uma das melhores montagens ocorridas no Brasil nos últimos anos, até um espetáculo caça-níquel, superficial e puramente digestivo como este "Constantina" (auditório Salvador de Ferrante, até amanhã, 21 horas).
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Tonia Carrero 'we mulher elegante, cuja beleza resiste ao tempo. Uma carreira de 29 anos de muitos sucessos e premiações, intensas atividades, lhe dão hoje um lugar glamorizado junto as grandes damas do teatro brasileiro. E, mais do que nenhuma outra, ela é a mulher que se veste bem, tem a classe e elegância que a faz, em cada vez que deixa o Rio de Janeiro e se dispõe a percorrer as capitais brasileiras, a encontrar em todas as cidades que chegam um verdadeiro festival de festas e recepções a sua espera. Desta vez, aliás, trouxe um apoio considerável, representado desde belos rostos popularizados pelo cinema e ( principalmente) televisão - como Karin Rodrigues, Monique Lafonde e Rita Cléos, até uma veterana e marcante atriz, Márcia Real que no papel da Sra. Morgan, é a melhor figura em cena ao longo dos dois cansativos atos de "Constantina".
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Sendo uma mulher tão bonita, elegante e bem educada, querida do publico rico e sofisticado das cidades que visita, é claro que Tonia Carrero não poderia decepcioná-lo. Mesmo tendo já mostrado, em tantas peças, o seu vigor o talento, vivendo desde a prostituta de "Navalha na Carne" até a personagem de Ibsen em "Casa de Bonecas", desta vez, é no palco aquela com muitas - milhares de espectadores se identificam: uma mulher rica e que enfrenta com inteligência e estratégia as traições conjugais. Sem dramas, choros ou gritos histéricos, tudo na elegância semelhante aos vestidos criados por Guilherme Guimarães, maquilada por produtos Helena Rubinstein e usado meias Christian Dior. Afinal, frente a tanto envolucro de classe, com personagens num cenário executado em Poliester 3 M, e embalado em sorriso e mais sorriso - não caberia mesmo dramas e questionamentos sociais. Não importa ou que tenha pretendido o velho Maugham, em seu "The Constante Wife" na Inglaterra de meio século atrás.
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O resultado é um espetáculo que entusiasma aquela faixa de público que não se importa em pagar Cr$ 250,00 para assistir a Ray Connif, Burt Bacharach ou, naturalmente, o elegante Tonia Carrero. Numa peça alegre, divertida, "higiene mental" e tantos outros adjetivos que existam.
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Além de tudo, na esticada que os grupos de espectadores podem fazer no Ile de France, ou Locanda Suíça, por certo encontrará novamente o elegante e belo grupo de atrizes que, pouco antes, no palco do Guaíra, fizeram tantos rirem e passar "momentos de alegria".
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