Música
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de janeiro de 1974
Quando saíram publicados os contos de "Nove, Novena", a crítica mais alerta ressaltou, neles, a segurança com que, rompendo a monotonia dos esquemas tradicionais de narração, seu autor soubera valer-se de recursos gráficos, superposição de planos e variedade de enfoques narrativos para exprimir uma nova e complexa visão das coisas, à qual pouco importavam os limites de tempo e espaço ou as exigências da lógica comum. Agora, em "Avalovara", no quadro mais amplo do romance e num plano de maior ambição artística, Osman Lins prossegue nesse empenho de renovação criando uma obra que desborrada da nossa literatura para situar-se no centro mesmo daquela revolução internacional de técnicas, estruturas e convenções estilísticas com que os melhores ficcionistas de hoje enfrentam a chamada "crise do romance". Daí não estranhar que já antes de aparecer a edição brasileira de "Avalovara", duas grandes editoras européias cuidassem de traduzi-lo para publicação próxima em francês e italiano. Escrito sob o duplo signo da paixão e do rigor, "Avalovara" (cujo título é o nome de um pássaro imaginário, símbolo do próprio romance), condensa toda a experiência literária e humana de seu autor que, numa entrevista recente, disse haver "encontrado, com esse novo romance, um ponto de equilíbrio entre uma estrutura avançada e o interesse romanesco". Acrescentou ainda tratar-se de "um romance de amor, uma das poucas tentativas brasileiras de romance de amor - um esforço de compreensão sobre nossa própria existência do mundo". A idéia do livro amadureceu por mais de cinco anos no espírito do romancista antes de dispor-se a escrevê-lo. E a sua composição obedeceu a um plano prévio, de rigor matemático, que fixava até o número de linhas que deveria ter cada uma das partes do romance. "Avalovara", romance de Osman Lins, apresentação de Antônio Cândido, 412 páginas, coleção Escalada, capa de Kelio Rodrigues de Oliveira, Edições Melhoramentos, 1973.
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