Música & Pesquisa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de janeiro de 1975
A idealística tentativa de se agrupar os compositores, instrumentistas e intérpretes da música popular da cidade num movimento criador, através de reuniões semanais (Teatro do Paiol, segundas-feiras à noite) coincide com as otimistas notícias de que afinal o Ministério da Educação e Cultura irá analisar, na próxima semana, a situação da música popular brasileira, através de uma proposição preparada pelo Departamento de Assuntos Culturais, cujo diretor, o antropólogo Manoel Diegues Junior, é sogro da cantora Nara Leão. Na verdade, há três anos, um trabalho idêntico foi encomendado pelo então ministro Jarbas Passarinho, mas que acabou sendo esquecido nos arquivos do MEC. Entre as sugestões mais importantes que serão encaminhadas desta vez ao ministro está, novamente, a criação do Instituto Nacional da Música, ou, conforme a nova estrutura administrativa em estudos no MEC, um departamento especialmente para a música vinculada à Fundação das Artes.
A preocupação oficial pela música popular brasileira há muito é reclamada, mas até hoje praticamente nada foi feito. O que existe para preservar a nossa memória musical deve-se a iniciativa isoladas, particulares na maioria das vezes, e quando apoiadas discretamente por governadores estaduais mais lúcidos, como foi o caso da Guanabara, onde Carlos Lacerda deu condições ao Museu da Imagem e do Som, criado por Maurício Quadrio (hoje diretor de projetos especiais da Phonogram) e consolidado por Ricardo Cravo Albim, desenvolver um trabalho vigoroso, cujas tentativas de imitação têm ridículas versões tupiniquins. Os pesquisadores de música popular desenvolvem trabalhos anônimos e solitários em vários Estados, sem que nunca tenha havido qualquer possibilidade de uma reunião, para ao menos ser estabelecida uma estratégia capaz de permitir resultados mais concretos. Aliás, uma sugestão que há mais de dois anos temos feito a conhecidos pesquisadores e estudiosos de nossa MPB - como Cravo Albim, o jornalista Sérgio Cabral, o compositor-cantor Paulo Tapajós (produtor de programas de MPB do Projeto Minerva, ex-diretor da Rádio Nacional, dono de um dos mais completos arquivos sobre música brasileira), entre outros, tem encontrado a melhor acolhida: a realização de um encontro ou seminário de pesquisadores de MPB, reunindo não apenas os nomes já conhecidos, respeitados e admirados - como o radical J. Ramos Tinhorão (crítico feroz do "Jornal do Brasil") e o lendário Almirante, mas também colecionadores que desenvolvem, anonomamente, em várias partes do Brasil, um trabalho importante. Por exemplo, em São Paulo, Mieccio Café, possui uma discoteca tão valiosa e bem organizada, que a própria RCA Victor a ela recorre, regularmente, para reeditar velhas gravações - já que anos atrás, por imbecilidade de um de seus diretores, destruiu todo o acervo de música brasileira dos anos 30. Por enquanto apenas uma idéia, um encontro de pesquisadores e estudiosos de MPB poderia representar uma grande contribuição ao MEC, em seus planos de incentivo ao nosso cancioneiro, hoje, segundo o próprio Ministério, "ameaçado de ver desaparecer a força criativa da música brasileira se não forem tomadas providências imediatas". E, um dos primeiros passos concretos do MEC, em favor de nossa música, seria a organização de um grande dicionário, na linha who's who, até hoje inexistente em nossa (mínima) bibliografia sobre cultura popular.
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O problema do afastamento do País do pessoal civil do Estado, a serviço ou para cumprir cursos de aperfeiçoamento, que tantos aborrecimentos tem causado aos interessados, foi afinal regulamentado pelo Decreto n. 6.423, de 21 de janeiro último. Fixando normas rigidas, o Governador determinou, por exemplo, que de agora em diante o ocupante do cargo em comissão ou função gratificada só poderá afastar-se do País por mais de 180 dias, com perda do vencimento ou da gratificação. E após uma viagem ao Exterior, só poderá fazer outra, com finalidade de aperfeiçoamento, depois de decorrido pelo mesmo prazo igual ao de seu último afastamento, contado do término deste. Com exceção dos Secretários de Estado, viagens internacionais pagas pelo Estado terão que ser na categoria turística ou econômica. O Estado já teve muitos problemas com técnicos de nível superior, que preferiram se demitir do serviço público, do que perder bolsas de estudos no Exterior. E com isto o Paraná perdeu a colaboração de alguns "cérebros" que fazem falta em seus órgãos de planejamento e pesquisa. Mas houve muita gente que já viajou ao Exterior, com todas as vantagens, e não trouxe a mínima contribuição. Coisas que acontecem na política...
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