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Aramis

Na época do cruzado, a economia vira best-seller

Houve época em que ninguém imaginaria dedicar o tempo livre para mergulhar em obras sobre economia. Hoje, com as mudanças econômicas internacionais e, em nosso País, a inflação, o cruzado, o choque heterodoxo e tantas outras palavras técnicas entrando no dizer nosso de cada dia, as colunas e páginas de economia têm alto nível de leitores fora daquele público tradicional. Paralelamente também ensaios e tratados de economia que aparentemente só interessariam a especialistas passam a figurar até em relações de best-sellers. Por exemplo, o interesse em torno do maçudo "A Contra-Revolução Monetarista" de René Villarreal (tradução de Ruy Jungmann, 576 páginas, Cz$ 179,90) é grande. Afinal, para quem deseja entender os dilemas econômicos e políticos da atualidade na América Latina, a sua leitura oferece elementos valiosos, fundados na experiência e observações de seu autor, um renomado economista mexicano que, além de ter exercido importantes funções no governo, foi catedrático do Colégio do México e registra em seu currículo o Prêmio Nacional de Economia a sua tese de doutoramento pela Universidade de Yale. E ao longo deste seu livro, Villarreal demonstra competência suficiente para questionar certas formas de pensamento econômico, entre elas o monetarismo e a economia de oferta, bem como para criticar o pensamento e a ação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, denunciando as implicações ideológicas do neoliberalismo contemporâneo e refutando, em decorrência, a propalada "neutralidade" da ciência econômica. xxx Autor dos best-sellers "Caim & Abel", "A Filha Pródiga" e "Primeiro Entre Iguais", Jeffrey Archer mostra ser também bom contista em "O Arqueiro e Suas Flechas" (tradução de José Antônio Arantes, 174 páginas, Cz$ 52,00, DIFEL). São histórias breves, sempre bem construídas, que trazem, em cada uma, o confronto entre pessoas na sociedade, suas reações mais íntimas e situações curiosas. Em cada um dos 11 contos aqui reunidos aparecem relatos bem-humorados que deliciam a imaginação do leitor, mostrando uma realidade plena de surpresas, suspense e coincidências. Uma leitura, no mínimo, agradável. xxx Uma das conferências mais apreciadas do curso promovido pela Funarte/SESC, durante o mês de abril, no Teatro da Esquina, foi da professora Marilena Chauí, cujos textos, declarações e atividades a transformam sempre em notícia. E após a passagem de Marilena por Curitiba aumentou ainda mais o interesse por um de seus novos livros - "Conformismo e Resistência". Brasiliense, 179 páginas. Debruçando-se sobre a questão da cultura popular no Brasil, a autora de "Repressão Sexual: Essa nossa (des)conhecida" refuta a idéia simplista de que esta seja uma totalidade fechada e monolítica que se contrapõe à cultura ilustrada. Ao contrário, trata-se de um conjunto de práticas ambíguas e dispersas, com lógica própria, que se realiza nas brechas da cultura dominante, recusando-a, aceitando-a ou conformando-se a ela. Entre o saber e o não saber, a cultura popular se caracteriza por um misto de conformismo e resistência. xxx Depois de "O Sadismo de Nossa Infância" e "O Mito da Infância Feliz", uma nova antologia dentro da coleção Novas Buscas em Educação: "Ritos de Passagem de Nossa Infância e Adolescência" (Summus Editorial, 184 páginas, Cz$ 44,00). A organizadora da antologia, Fanny Abramovich, reuniu textos de vários autores que têm em comum os chamados ritos de passagem. A proposta era fascinante, são muitos estes ritos: desde a entrada na escola, a revelação do começar a ler, os exames de admissão, o primeiro amor, a separação dolorosa do primeiro amigo de fato, as rupturas ocasionadas pela mudança de endereço, da cidade ou de grupo social.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Leitura
8
27/04/1986

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