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Aramis

As manhas de Augusto para ganhar a guerra da eleição

O jornalista Adherbal Fortes Sá Júnior, um dos mais disputados (e bem remunerados) consultores de marketing eleitoral, promete há pelo menos 5 anos publicar um livro-guia sobre este assunto. Para tanto somada a sua experiência de 33 anos de imprensa - passando por (quase) todos os veículos de divulgação do Paraná e uma militância política que o levou a se tornar um experte em mídia eleitoral, Adherbal fez uma série de entrevistas com os "papas" da área - não só no Brasil mas também nos Estados Unidos, em constantes viagens. Só que os compromissos são muitos e até agora Adherbal tem feito na prática, atendendo a cada eleição algumas dezenas de candidatos, o que deixa para colocar no seu texto (sempre delicioso e competente) o muito que sabe a respeito. Mas se Adherbal ainda não se animou a contar um pouco, ao menos, dos segredos para ganhar uma eleição, outros especialistas vem oferecendo macetosos manuais que, nesta época de caça aos eleitores, vendem como pão quente. É o caso do também jornalista, cientista político e administrador de empresas Carlos Augusto Manhanelli, que depois de "Estratégias Eleitorais - Marketing Político" (Summus Editorial, 3ª edição) lançou agora "Eleição é Guerra" (120 páginas, Summus, Cr$ 22 mil). Com uma experiência de 18 anos, atuando em todo o país - e fazendo cursos de marketing político-eleitoral desde 1986 - Manhanelli começa comparando a batalha eleitoral a uma guerra - e para comprovar suas afirmações recorre a Carl Von Clausewitz ("Da Guerra"), analisando e comparando os conceitos de ação de guerra com os conceitos de ação do marketing eleitoral. Apesar de alguns gráficos e esquemas - especialmente no primeiro capítulo - Manhanelli, naturalmente, não esgota o tema, muito pelo contrário. Afinal, se assim o fizesse, estaria oferecendo por apenas Cr$ 22 mil uma consultoria que rende milhares (ou milhões) de dólares - que o diga os profissionais cada vez mais disputados para assessorarem (e dirigirem) as campanhas dos milhares de candidatos a prefeituras e vereadores a partir deste mês. xxx Carlos Augusto não brinca em serviço. No capítulo "A contrapropaganda", recomenda algumas técnicas de impacto, dolorosas mas eficazes, quando se trata de combater o "inimigo" - ou seja, o adversário nas urnas. Por exemplo, três de suas recomendações: 1. COLOCAR A PROPAGANDA DO ADVERSÁRIO EM CONTRADIÇÃO COM OS FATOS - Não existe réplica mais eficiente que a baseada nos fatos. Se tivermos em mãos uma fotografia, vídeo ou testemunho que, embora sobre um único ponto, venha a contradizer a argumentação adversária, ela, no conjunto, acaba por desacreditar-se. Em todo caso, nada vale mais tanto quanto um desmentido pelos fatos como arma de propaganda. Esses desmentidos não encontram réplica quando os fatos alegados forem colhidos em fontes de informação controladas pelo próprio adversário. E quando este lhes dá resposta, acaba ampliando mais a difusão do fato. "Contra fatos não há argumentos". 2. RIDICULARIZAR O ADVERSÁRIO - Imitar seu estilo e sua argumentação, atribuir-lhe zombarias, pequenas históricas cômicas e os famosos "causos" são armas que devem ser utilizadas com inteligência e criatividade no combate aos adversários. 3. FAZER PREDOMINAR O CLIMA DE FORÇA - Por razões materiais e psicológicos é importante impedir que o adversário se mantenha na primeira linha, criando em proveito próprio a impressão da unanimidade. Mas esse também procura impor a sua linguagem e os seus símbolos, que por si mesmo significam poderio. Freqüentemente, experimenta-se atingí-lo naquilo que mais preza: o nome, primeiro entre os símbolos de sua campanha. Muitas vezes, quando o adversário não consegue suprimir o nome que lhe foi dado depreciativamente, ele o encampa, servindo-se dele como título de glória. Um exemplo, foi Adhemar de Barros, que acusado de ser o "homem da Caixinha" (ingênua época em que a corrupção o tinha como símbolo) reverteu a acusação em favor de suas várias campanhas a prefeito e governador de São Paulo e depois à Presidência da República. Concluindo, diz Manhanelli: "principalmente quando uma campanha se apresenta com equilíbrio nos números da pesquisa de intenção de voto e isto perdura por um tempo que passa a nos preocupar, a hora da decisão do voto do eleitor é imprevisível e nestes casos, uma infâmia bem articulada, um apelido perverso, será decisivo. É a hora da contrapropaganda" (página 53). Sem dúvida de que assim como muitos poderão julgar como meras repetições as dicas de Carlos Augusto Manhanelli, outros poderão classificar receitas como as que acima transcrevemos, anti-ética e discutíveis. Entretanto, no jogo (nem sempre limpo) da política, "o pior é a derrota" e por isto é que "Eleição é Guerra - marketing para campanhas eleitorais" deverá se tornar uma espécie de livro-de-cabeceira de muitos candidatos. Consta que o vereador Doático dos Santos (PMDB) já comprou 100 exemplares para distribuir aos seus amigos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
06/06/1992

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