Nos poemas também a saudade de Tancredo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de abril de 1985
AFFONSO RAMANO SANTANA, não poderia ter sua palestra, no " Encontro Marcado " ( sexta-feira 26, anfiteatro da Universidade Católica ) de maneira mais apropriada : lendo e emocionante poesia que escreveu quando da morte do presidente Tancredo Neves e que, transmitida pela televisão e emoldurada ao som de " Coração de Estudante "( Wagner Tiso / Milton Nascimento ), chegou ao maior público que um poeta já teve, talves mais de 50 milhões de pessoas ", O aproveitamento de poemas na televisão é, no entender do autor de " Politica e Paixão ", " Uma inovação, creio que em todo mundo, e que abre uma nova forma de comunicação para os poetas, até hoje restritos a edições máximas de 3 ou 4 exemplares de sua obra... e isso os mais bem sucedidos ".
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As poesias de Affonso Romano e Thiago de Mello sobre a morte de Tangredo talves tenham estimulado ainda mais a emoção de tantos outros poetas - profissionais ou amadores - a registrar em versos o que sentiram pela morte do fundador da Nova Republica. Da espontaneidade do garoto Fabiano Christian Pucca do Nascimento. 13 anos, cuja poesia mereceu a primeir a página " Tribuna do Paraná ( 23/04/85 ), ao rigor preciso com que João Manuel Simões sabe colocar em seus peomas à sensibilidade de Cristina Gebran, em poesias que o
O ESTADO DO PARANÁ divulgou, na edição do último domingo, muitas foram as formas com que se viu a morte de Tancredo Neves. Independente de apreciações críticas / estéticas, a manifestação espontânea pela poesia veio a ser mais uma demonstração do carinho com que tantos brasileiros procuraram se expressar na semana passada.
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José Maia, 31 anos, assistente social e hoje assessor técnico da Casa Cívil do governo do Estado, faz poesias desde a adolescência. Só soube da morte de Tancredo na manhã de segunda-feira e imediatamente, colocou em palavras sua emoção. Uma poesia simples e sincera, mas que merece também ficar registrada para, talvez, no futuro, alguém reunir e dizer como essa morte tão sentida foi registrada pelos poetas do Paraná. Mesmo aqueles bissextos.
Chora , Brasil ! Teu filho amado partiu !
Partiu para as plagas donde veio
as regiões de luz onde habitam os missionários
os baluartes do Bem
os revolucionários do Amor!
Longo calvário percorreu teu filho de Minas
que encarnou tão grande ideal
para os seus irmãos de todas as partes
que trabalham e amam, choram e sofrem
em busca do seu destiino !
Em todo canto, vemos teu povo chorar
nas ruas, nos bares, nos mercados
nas esquinas, nas janelas, nos telefones
nas casas, nos carros, na cidade e na favela / no suburbio / na mansão
junto dos telvisores e dos rádios, no sertão
No Nordeste alagado que parece esquecer sua dor regional
para acalantar uma dor nacional...
Vemos chorarrem jovens e crianças
adultos e velhos / homens e mulheres...
Choram, sentidos, porque o sonho da Nova República
ardentemente acalentado / perdeu o seu gênio inspirador !
A vida prossegue !
e sob a inspiração dos que / em outros planos
velam pelos destinos humanos
há de concretizar-se a democracia plena
com que todos os brasileiros / há muito sonhamos
De onde te encontras
Tancredo / Esperança
Inspira os que, em teu lugar,
devem realizar
a vontade soberana e sagrada do povo !
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