Paixão e morte de Tancredo no "Céu Aberto" de Batista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de maio de 1986
Quando Céu Aberto foi selecionado para representar o Brasil - ao lado de Tigipió e Braz Cubas - no II FestRio, nem mesmo a produtora Assumpção Hernandes ou o seu marido, o diretor João Baptista de Andrade, tinham muitas esperanças. Sabiam que a massacrante cobertura de todo o martírio da doença do presidente Tancredo Neves e dos dramáticos momentos de seu enterro, pela televisão, haviam praticamente esgotado o tema em termos de interesse ao público. Apesar disto, dentro dos princípios que o fazem um dos cineastas mais dignos do Brasil, João Baptista decidiu dar a sua visão a estes acontecimentos e, a partir da transferência do presidente Tancredo Neves para o Hospital do Coração, em São Paulo, também documentou os fatos.
Filmou populares que oravam defronte ao hospital, acompanhou as entrevistas do porta-voz Antônio Brito, buscou cenas de arquivo e, especialmente, colheu o melhor material quando do dramático longo enterro do presidente Neves. Interessantes também os depoimentos colhidos com personalidades ligadas a o que ocorreu no Brasil no ano passado - desde o general Newton Cruz (um exemplo de hipocrisia e mentira) a jornalistas de expressão nacional, comentando os bastidores do golpe que se armou contra a posse de Tancredo.
O resultado é que mesmo revolvendo um assunto amplamente conhecido e recentíssimo, João Baptista realizou um belo documentário - que depois do FestRio, voltou a concorrer em Gramado, em abril último. Não ganhou prêmios, mas teve justos aplausos - pela visão de um Brasil recente.
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