O melhor ficou nas exibições paralelas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de dezembro de 1985
Um momento de emoção no FestRio foi quando Mercedes Sosa, que havia chegado ao Rio na manhã de sábado, 30, subiu ao palco para entregar a sua amiga Estela Bravo, o prêmio especial dado ao tape "Ninos Desaparecidos", que aborda a repressão na Argentina.
Mercedes foi - ao lado de Fernanda Montenegro - a personalidade mais aplaudida do FestRio. A meia-noite de sábado, ela foi ao Bruni-Ipanema, para encerrar a mostra "Midnight Movies", que ali se realizava (um dos eventos paralelos do FestRio). Com a exibição de "Sera Posible El Sur". Intitulado "Uma viaje por Argentina de la mano de Mercedes Sosa", "Sera Posible El Sur" é um elogiado documentário já mostrado em alguns festivais da Europa e que, infelizmente, até agora, ainda não encontrou nenhum distribuidor no Brasil.
No Bruni-Ipanema, cinema pertence ao exibidor Roberto Darze, foram projetados alguns dos filmes de maior sucesso do FestRio, trazidos especialmente para esta mostra: desde o inédito "Falsfatt" , que Orson Welles (1915-1985) realizou entre (1977/75, na Espanha, até o filme gay "Taxi Zum Klo"(Taxi para o banheiro), produção holandesa, autobiografada, sobre um professor homossexual (Frank Ripplot). Com cenas de sexo explícito entre homossexuais, este filme lotou em três sessões, com a fauna gay carioca - e, na fila, até o cantor Ney Matogrosso podia ser visto. Frente a tanto êxito, Jean Gabriel Albicoco, da Gaumont-Alvorada, não teve dúvidas: Taxi Zum Klo", ao lado de "Ram", "Exílio de Gardel" e - se a censura liberar - "Je Vous Salue, Marie"- estará entre os filmes de maior sucesso para lançamentos no Brasil em 1985.
OS FILMES EM COMPETIÇÃO - Entusiasmar mesmo, nenhum dos 22 longas e 9 curtas em competição no FestRio, conseguiu. Houve, isto sim, decepções. Por exemplo, respeitado Arthur Penn, 63 anos, que tinha o seu recentíssimo "Target", aguardado como a grande esperança do Festival, mereceu vaias ao final da exibição deste thiller movimentado mas esquemático sobre as trapalhadas de um ex-agente da CIA tentando libertar sua esposa das mãos de um maníaco espião aposentado em Berlim Oriental. Merry Streep, que vem sendo falada como forte candidata a ganhar seu terceiro Oscar (anteriormente já foi premiada por "Kramer x Kramer" e "A Escolha de Sofia") por "Plenty - O Mundo de Uma Mulher" (ao australiano Fred Schpisi, radicado agora nos EUA) também decepcionou - e acabou perdendo o Tucano de Ouro para Glenda Jackson, sempre vigorosa e a desconhecida canadense Christine Pak em "90 Days", filme que chegou atrasado, sem legendas e que poucos viram.
A Espanha conseguiu apresentar o pior filme da competição: a chanchada "Se Infiel Y No Mires Com Quien", de Fernando Trueba, que nem a beleza da cantora Ana Belém (ao lado de Carmem Maura) conseguiu salvar.
Houve filmes interessantes, bem realizados, mas que provavelmente não chegarão aos circuitos comerciais: o dinamarquês "Os Demónios Voadores", do jovem Anders Refn (sobre o mundo circense); o húngaro "Que Horas São Dr. Despertador" de Peter Bacsó (que teve, ao final, uma menção honrosa do júri); o russo "Como Éramos Jovens" , de Mikjail Belikov (mostrando uma juventude soviética dos anos 50, descontraída, fã de jazz e em problemas amorosos); o checoslavaco "Cuco da Floresta Escura" - a exemplo do filme húngaro e de "Plenty", também tendo a II Guerra Mundial e o nazismo como cenário.
Emotivo e bem realizado, "Um Adeus Português", valeu ao jovem João Botelho o tucano de Ouro de melhor diretor. Ecológico e humanista, "Turtle Diary" deu o prêmio de melhor atriz a Glenda Jackson (dividido com a canadense Christine Pak, de "90 Days" uma comédia de comportamento, narrada em linguagem teatral).
Entre mortos e feridos, "Tiempo de Morir", produção colombiana, direção de Jorge Ali Triana, com roteiro de Garcia Marquez (com uma estrutura de western) acabou sendo o grande premiado: Tucano de Ouro como melhor filme; prêmio a Gustavo Angarita como melhor ator e dois troféus paralelos - do Centro Internacional do Filmes para infância e Juventude e da Federação Internacional dos Cineclubes.
Os filmes brasileiros ganharam apenas premiações paralelas: a OCIC distinguiu "Céu Aberto", documentário de João Batista Andrade sobre a agonia de Tancredo Neves; os cineclubistas premiaram "Tigipió", do cearense Pedro Jorge de Castro e a Associação do Cineastas deu um prêmio especial a Rogério Sganzerla por seu "Nem tudo é Verdade"- semidocumentário, semificção, sobre a passagem de Orson Welles pelo Brasil em 1942. "Braz Cubas", vanguardista visão que Julinho Gressane fez do romance de Machado de Assis, ganhou apenas uma menção especial da OCIC - que também deu uma distinção a "Frida", do mexicano Paul Deluc - que embora exibido hors-concurs, foi, no entender de muitos, o melhor momento do Fest-rio-85.
LEGENDA FOTO: "Os Demônios Voadores", filme dinamarquês sobre o mundo do circo.
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