O Carnaval do Ópera-Rio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de fevereiro de 1975
No esvaziado Carnaval curitibano, que este ano, contrariando a tradição, não teve chuva, o "Baile dos Enxutos", da Sociedade Beneficiente Protetora dos Operários - ou a simplesmente Ópera-Rio - foi uma das poucas atrações turísticas. De forma que na terça-feira gorda, o presidente Edgar Antunes da Silva, o estimado "Tatu", ostentava o seu franco e famoso sorriso. Embora até ontem a diretoria do Operário não tivesse revelado os resultados econômicos do baile, uma coisa é certa rendeu o suficiente para o clube pagar as suas dívidas e ainda fazer um bom depósito bancário. Mais de duas mil pessoas enfrentaram o calor, os empurrões e a falta de conforto para assistir a 33 travestis, a maioria deles ostentando uma plástica de fazer inveja a muitas mulheres em sumárias tangas, com muitas plumas e paetês, desfilando num espetáculo entre o folclórico e o mondo-cane carnavalesco, aplaudido por muitos nomes conhecidos da "alta sociedade". Não faltaram os excessos e as curiosidades. Por exemplo, um travesti ficou muito constrangido quando perdeu a sumária tanguinha em pleno salão. E uma alegre foliona não se abalou em dançar animadíssima num livre top-less devidamente escoltada por um jovem bastante desinibido. Liderando um grupo ricamente fantasiado, o famoso Ney Azambuja Souza, pulou até os últimos acordes, tendo em sua côrte, maquiadores e costureiros da moda: Carlinhos Nunes, Magôva, Lu, Fred, etc.
O arquiteto Abrão Aniz Assad, diretor do Centro de Criatividade de Curitiba, democraticamente caiu no samba, enquanto um pouco desanimado, o elogiado artista plástico Carlos Eduardo Zimmermann limitava-a apreciar a festa, que classificou de "sensacional". Dona Juril de Plácido e Silva Carnascialli, colunista social da "Gazeta do Povo" - fundada por seu pai, Oscar Joseph De Plácido e Silva (1892 - 1962) - liderava, no balcão, um familiar grupo de filhas, sobrinhas e genros, inclusive o arquiteto Sérgio Todeschine Alves, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico da SEC. Aliás, o secretário Cândido Manoel Martins de Oliveira, da Educação e Cultura, também foi assistir à festa.
À certa altura da madrugada, alguns homens do numeroso contingente da Polícia Militar que garantia a paz e o amor do baile, tiveram que organizar a fila da toilette das senhoras, tal o número de usuários que se formou. E a fila ganhou a entrada dos salões.
Os travestis preferiram sumárias tangas mas alguns ostentavam bonitas fantasias. Foi o caso de uma Carmem Miranda muito colorida, que quase não pôde desfilar tal a altura do adereço de cabeça, com turbantes e plumas, etc. Um desconsolado travesti loiro, em longo esvoaçante branco, chamado ao palco três vezes aos gritos de "Já ganhou" não foi classificado no desfile de fantasias, mas ganhou, como Prêmio de Consolação, a faixa de Rainha do Carnaval.
Em tudo isso apenas a solitária voz de dom Pedro Fedalto, vigilante arcebispo metropolitano, deu o contra. Escrevendo na "Voz do Paraná", domingo de Carnaval, Sua Excelência Reverendíssima deplorou o baile e lamentou a vizinhança do Paço Episcopal, cujos floridos jardins divisam com o alegre clube. Desde 1955, afinal de contas, os nossos arcebispos não podem fazer seus retiros carnavalescos em casa, tal a animação do Ópera-Rio.
LEGENDA FOTO 1 : Cadilhe
LEGENDA FOTO 2 : Magôva
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