O clássico velhaco
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de novembro de 1977
Trabalhadores, malandros que vivem de biscates pelos bares e cafés, sambistas, jogadores violentos e prostitutas são alguns personagens apresentados por João Antonio, seguindo a linha populista a que ele se propõe, desde o início de sua carreira literária. Depois de "Malagueta, Perus e Bacanaços", "Leão de Chácara", "Malhação do Judas Carioca" e "Casa de Loucos", o escritor lançará em Curitiba, no próximo dia seis, o livro "Lambões de Caçarola (Trabalhadores do Brasil)". O encontro para autógrafos está previsto para às 17 horas na Livraria Ghignone da Rua XV, e às 30h30min no Teatro Universitário.
A verdade é que ele conhece as maiores bibocas, as espeluncas e os redutos dos malandros da São Paulo. Como ele mesmo confessa, não troca o tempo de uma boa partida de sinuca e uma cervejinha bem gelada, pelo que gasta ao escrever um conto. Talvez troque apenas por algumas lições do mestre Lima Barreto, a quem ele considera o maior escritor da América Latina: "Ele, que também foi um pingente, jamais fez concessões a modismos literários ou aos poderosos. Pagou caro sua atitude. Tenho procurado ser como ele".
Os livros de João Antonio porém, parecem ter tido mais aceitação que a obra de Lima Barreto, pois seu trabalho tem se transformado em "Best seller" nacional, tendo seus livros traduzidos para cinco países: Argentina, Venezuela, Espanha, Alemanha Ocidental e Checoslováquia. Isso vem demonstrar que seus livros alcançam um tipo de público carente deste tipo de literatura.
O escritor oscila muitas vezes entre o neo-realismo, e um trabalho puramente jornalístico. Filho de um motorista de caminhão, trabalhando como office-boy de uma refinaria, João viveu grande parte de sua vida nos subúrbios cariocas, identificando-se com os "pingentes da vida". Chegou até mesmo a ser bancário, mas logo abandonou a profissão, para desgosto do pai, e iniciou a fazer cinema e teatro. Seus companheiros de Arena paulista foram Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal e Oduvaldo Viana Filho, e todos foram unânimes em apostar em seu talento como ator cômico. Mas ele optou pela literatura, transformando-se, na expressão do crítico Marques Rebelo, em um "clássico (velhaco( da literatura brasileira.
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