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Aramis

Tacadas de Newman fazem conto de João ressurgir

A revista "Panorama" (maio/87) a propósito da estréia de "A Cor do Dinheiro" ("The Color Of The Money", 86, de Martin Scorcese), que deu o Oscar de melhor ator a Paul Newman, fez uma ampla reportagem sobre o snooker em Curitiba, O disco-brinde produzido pela Coca-Cola, no ano passado, "Villa & Tom", trouxe na capa uma bela ilustração de Melo Menezes, mostrando Heitor Villa-Lobos e Antonio Carlos Jobim, como sinqueiros, já que ambos sempre foram adeptos do bilhar. A sinuca entrou em alta, com salões sofisticados como o Pigalle (Rua Jaime Reis, 62) que cobra mais de Cz$ 150,00 a hora, o dobro do que custa 60 minutos nos estabelecimentos mais populares - como o "Salão 21" (Rua Dr. Murici, 596) o mais antigo da cidade, inaugurado em 1930 pelo velho Ferez Daher, hoje pertencente ao milionário José Luiz Bettega Ribas, 39 anos, que possui uma preciosidade: um legítimo jogo de bolas de marfim. xxx Todos que estão ligados ao snooker - fabricantes de mesas e bolsa como Saturnino Gordo, 53 anos (desde 1959 residindo no Brasil, consul honorário da Espanha), Aloir Samsom, presidente da Associação Profissional dos Locadores de Bilhares do Paraná, e Odemir Xavier, 40 anos, diretor da divisão de snooker do Clube Curitibano, são unânimes num ponto: a necessidade de o bilhar ser reconhecido pela Confederação Brasileira de Desportos. Saturnino Gordo, que fez fortuna com a fabricação e locação de mesas de snooker, fala que não adianta o Brasil ter craques da sinuca, se não há competições oficiais, "como acontece em quase todos os países". Odenir Xavier já promoveu vários campeonatos no Clube Curitibano, trazendo inclusive (com cachês ao redor de Cz$ 20 mil), os campeões nacionais da sinuca como o paulista Rui Chapéu (Rui Mattos do Amorim, 44 anos), ex-motorista de caminhão, hoje profissional do snooker, e Roberto Carlos, 26 anos, goiano, que tem tacadas dignas do lendário Carne Seca, tido como o maior mestre deste esporte - um dos personagens que inspirou a João Antonio e seu antológico conto "Malagueta, Perus e Bacanaço" (levado ao cinema por Maurício Capovilla, com o título de "O Jogo da Vida", com trilha sonora de João Bosco e Aldir Blanc, dois apaixonados dos sinuqueiros). xxx A propósito, ao Clube do Livro está reeditando "Malagueta, Perus e Bacanaço", em edição dupla com outro execelente texto de João Antonio: "Malhação do Judas Carioca". No "Ponto de Encontro", órgão do Clube do Livro, editado por Nelson dos Reis, João Antonio faz uma interessante revelação: "Malagueta, Perus e Bacanaço" estava pronto e acabado em 1960, mas neste mesmo ano, em 12 de agosto, uma sexta-feira, a casa onde morava (Morro da Geada, bairro de Jaguaré, SP) pegou fogo e perdi tudo. Fiquei só com a roupa do corpo. E os originais do livro também foram queimados. Fiquei traumatizado durante meses, sete meses sem pisar numa livraria. Então, Mário da Silva Brito, me conseguiu uma cabina, nº 21, na Biblioteca Municipal e, com a desculpa de fazer um estudo sobre contos brasileiros, reescrevi inteiramente o meu livro". xxx Sobre os personagens do seu antológico conto - que lhe abriu as portas para uma respeitada carreira de escritor - João Antonio diz: - "Malagueta, Perus e Bacanaço" continuam vivos hoje no presente, como estavam há vinte e tantos anos ou mais, ainda lá atrás. Eles estão aí, com um ponto em comum: as pessoas continuam a não querer olhar em seu redor."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
17
16/06/1987

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