"James Dean foi para o cinema o que J.D. Salinger foi para a literatura, Jules Feifler para o cartum e Jim Morrison para o rock. Hesitante, falando para dentro e engolindo pelo menos duas consoantes por palavra, ele deu a voz a toda uma geração que, mesmo que tivesse o que dizer, não saberia como. Só sabia que o mundo pertencia aos adultos e que isso não era legal". (Ruy Castro, "Folha de S. Paulo ", 27/01/1984). xxx Curitiba, 12 de julho de 1957: Avenida Luiz Xavier, então a iluminada Cinelândia. 13 horas: uma fila de jovens vai se formando em frente ao edifício Moreira Garcez, no antigo Cine Palácio. Ali estrearia, naquela quinta-feira, o filme mais aguardado do ano: "Assim Caminha A Humanidade". A Warner Brothers havia imposto condições especiais para a exibição: 70% da bilheteria, ingressos majorados, cancelamento de convites e permanentes. O filme era a produção cabeça-de-ponte e vinha de uma carreira notável nos EUA, onde havia estreado em 24 de novembro de 1956. Entretanto a estréia não aconteceu. A União Paranaense dos Estudantes, ativíssima, decidiu boicotar a estréia em protesto aos "altos preços cobrados". Manifestações aconteceram, estudantes infiltraram-se nas filas dos que pretendiam pagar o ingresso mais caro, para formar a chamada "fila-boba". A Polícia Militar chegou a intervir. Num caminhão com alto-falantes, dois irados líderes estudantis faziam discursos contra "a exploração americana" e a "ganância do exibidor Henrique Oliva". Hoje, aqueles entusiastas estudantes são homens muito poderosos no Paraná: um é conselheiro do Tribunal de Contas (Rafael Latauro), outro é o governador José Richa. Zito Alves, na época gerente do Cine Palácio, recorda com bom humor aqueles acontecimentos. Diz, inclusive, que tem boas fotos dos participantes das manifestações que impediram a estréia de "Assim Caminha A Humanidade" (Giant) em Curitiba. Para substituí-lo foi lançado o esplêndido "Um Rosto Na Multidão" (A Face In The Crowd), de Elia Kazan, que passou despercebido. Brincando, diz Zito: - Foi a tarde em que Richa vetou James Dean na tela! xxx Curitiba, fevereiro de 1974: Realiza-se no recém-inaugurado auditório Bento Munhoz da Rocha Neto um superfestival de MPB. Para comemorar a abertura do sonhado Guaírão, o então superintendente Sale Wolokita havia obtido uma verba extra de Cr$ 450 mil, com a qual foi possível contratar os nomes mais famosos da MPB há onze anos passados: Clara Nunes (com Paulo Gracindo, em "Brasileiro Profissão Esperança"), MPB-4, Chico Buarque (então perseguidíssimo pela censura, que vetava suas apresentações públicas), Originais do Samba e Beth Carvalho, entre tantos outros. Milton Nascimento, também contratado para um show, decidiu aproveitar a semana e ficar em Curitiba. Para assistir aos shows de seus colegas e descansar. Todas as noites estava no Guaíra - como espectador. Só uma noite não compareceu. Por uma razão especial: a Rede Globo ia apresentar, pela primeira vez no Brasil, "Assim Caminha A Humanidade". Exibindo a partir das 21 horas, "Giant" alcançou os mais altos índices de audiência da época. Milton Nascimento, no apartamento de amigos, era um dos que mais vibrava com o filme de George Stevens. Comentava: Há mais de dez anos que ouço falar deste filme com James Dean e não poderia deixar de vê-lo. Mesmo que na televisão. xxx Cine Luz, Praça Zacarias, março de 1958: Pela segunda vez, "Juventude Transviada" é reprisado em Curitiba. Um grande público de jovens faz filas no cinema para assistir o mais polêmico dos filmes estrelados por James Dean. A ordem do Juizado de Menores é rigorosa: só entra no cinema quem provar que tem mesmo mais de 18 anos. Afinal, via-se nos "rebeldes sem causa" do filme de Nicholas Ray toda a responsabilidade pelos conflitos da juventude no virar da década de 50. Uma década que havia sido inflamada com o rock'n roll de Bill Halley na his Comets no prefixo de "Sementes da Violência" e encontrado o seu ídolo maior, em termos musicais, na figura do ex-motorista de caminhão Elvis Aaron Presley. Mas, James Byron Dean, então morto há três anos, era a personificação da rebeldia jovem, ironicamente num filme que, revisto hoje, parece até mais talhado para aulas de psicologia e discussão sobre relações pais e filhos e mestres do que contendo doses de revolução e contestação. xxx Londrina, 21 de outubro de 1983: música, coreografias hollywoodianas e humor são a tônica do show "James Dean" que o grupo Delta estréia na boate "Step by Step". O diretor do espetáculo, José Antonio Teodoro, explica à "Folha de Londrina": - O show está calcado na figura de James Dean, que marcou época, cujo comportamento e maneira de vestir influenciam a juventude até hoje. xxx Nova Iorque,12 de janeiro de 1983: estréia "Come Back to the 5 & Dime Jimmy Dean, Jimmy Dean", de Robert Altman, com roteiro de Ed Graczyk e estrelado por Sandy Denis, Cher, Karen Black e Kathy Bates, entre outros. Altman, hoje aos 60 anos, em 1957, no início de carreira, havia realizado o primeiro filme sobre James Dean: "The James Dean Story", com roteiro de Stewart Stern (o roteirista de "Juventude Transviada") e narrado por Martin Gabel. Este filme nunca foi exibido no Brasil. LEGENDA FOTO 1 - 30 de setembro de 1955: o Porsche destruído levava James Dean.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Domingo Especial

Coluna ou Seção: Nenhum

Data: 29/09/1985

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