O humor malicioso de Genival Lacerda
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de abril de 1987
Já houve o projeto de um professor universitário, cujo nome não me lembro agora, mas que é grande amigo do editor e também do professor Vicente de Paula Athayde (também apaixonado pela MPB), em desenvolver uma tese sobre o duplo sentido nas letras da música popular. Um tema rico, tanto na interpretação lingüística como também na revelação de comportamentos e modismos de autores populares que, com graça e imaginação, aproveitam-se de palavras capazes de oferecer duas (ou mais) interpretações maliciosas e as utilizam em canções de fácil agrado popular.
Do paranaense Roedil Caetano ao paraibano Genival Lacerda, são muitos os autores que podem oferecer excelente material para este estudo capaz de merecer atualizações constantes.
Ainda agora, Genival Lacerda, popularíssimo no Nordeste, saiu com um novo e divertidíssimo elepê ("A Fubica Dela", RCA, março/1987), no qual ele usa e abusa da insinuação pornográfica - mas ficando, veja bem, apenas na insinuação...
Aquilo que, anos atrás, Os Originais do Samba fizeram com "A Boutique Dela", Genival Lacerda desenvolve agora em "Carro Velho É Fubica" (Osmar Navarro/Graça Gobi), conduzindo todo o universo picaresco que a imaginação (e a malícia) popular pode produzir. E este espírito de sacanagem insinuada continua nas faixas seguintes - "E Nós Aqui Forrumbando" e "Transplante De Coração" (parcerias com Aciolly Neto e Verinha Neves, respectivamente). Em "Dieta Já" (Tony Camito/Caliopy/Graça Gobi) a insinuação mistura política e obscenidade, enquanto que "Fio Dental" (Jorge de Altinho/Genival Lacerda) ganha uma versão baiana, na qual o mini biquíni é apelidado de "cordão cheiroso".
O travesti Roberta Close que já foi musa de Erasmo Carlos há três anos, inspirou agora Genival Lacerda em "Beth Close" (parceria com João Gonçalves), satirizando o homossexualismo. Em todas as faixas, Lacerda mostra sua picardia e imaginação, conduzindo ao som de forró (e com a participação de músicos ótimos como Sivuca e Dominguinhos no acordeon), um tipo especial de canto nordestino - o humor picaresco e que aproveita os temas do cotidiano.
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