O Instituto do disco
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de março de 1975
Uma das comunicações mais discutidas por ocasião do I Encontro dos Pesquisadores da Musica Popular Brasileira realizada no ultimo fim-de-semana em Curitiba, foi apresentada pelo jornalista Lúcio Rangel, 60 anos, 40 de imprensa reconhecidamente o primeiro profissional da critica a se preocupar em estudar e valorizar o nosso cancioneiro. Em duas laudas datilografadas, o autor de "Sambistas & Chorões" defendeu a idéia de defendeu a idéia de criar um Instituto Nacional do Disco, justificando amplamente o seu ponto de vista. Embora, ao final sua proposição tenha sido englobada nas sugestões encaminhadas ao Ministério da Educação e Cultura, com vistas a prometida criação do Instituto Nacional de Musica e Dança, os argumentos lembrados pelo rejeitado jornalista, um dos nomes mais conhecidos da imprensa brasileira merecem ser citados.
1) É sabido que a industria do disco é hoje uma das s importantes, formando-se de algumas décadas para cá verdadeiros trastes que dominam o mundo. O ideal desses grandes industriais, sob o ponto de vista econômico, é a unificação da música popular em todo o mundo. A mesma matriz gravada em Londres, Paris, Roma, Rio ou São Paulo serviria para embasbacar os jovens dos cinco continentes que, de uns anos para cá só ouvem o que é gravado e obrigatoriamente imposto ao consumidor. Só se reconhece pela língua em que é cantada, a origem da musica, e isso mesmo quando não cantam em línguas estrangeiras melodias ditas nacionais, como vem acontecendo constantemente em nosso meio. E meninos que mal conhecem a nossa própria língua fazem como outrora famosa cantora de São Paulo, que só cantava em inglês dos Estados Unidos e não sabia a significação de palavra alguma que pronunciava.
2) Certamente, acabaram-se os dias de uma Casa Edison, de Fred Figner, que se tornou milionário graças aos nossos compositores e músicos populares, em Sinhô e um Donga, um Cadete e um Baiano, um Eduardo das Neves, ou uma Chiquinha Gonzaga. Era Figner um comerciante que só pretendia dominar o mercado nacional. E o que aconteceu no Brasil, a dominação de pequenas industrias puramente nacionais, aconteceu em todo o mundo. Cito um exemplo: a Black Swan nos Estados Unidos, dirigida por negros e que só mantinham entre seus contratados artistas de cor, formando o primeiro rare catalogue. Pois bem, sentindo a possibilidade do jazz se tornar grande fonte de rendas, como alias aconteceu os ricos proprietários de outra gravadora a Paramount logo adquiriram a marca e os contratos de seus artistas, companhia esta, a Paramount, que acabou sendo absorvida por outra ainda mais poderosa. Assim no começo da década de 20 o Rei do Jazz não era grande King Oliver (1885-1938) ou o genial Jelly-Roll Morton (1885-1941) e sim, o gordo e inexpressivo Paul Whiteman que se tornou riquíssimo. Uma década depois, o mesmo original "fenômeno" se repetiria: o rei do Swing não foi Duke Ellington (1899-1974) ou Count Bassie (1904) mas o milionário Benny Goodman (1909) que chegou a ser o proprietário dos discos Capitol.
Encerrando o seu comunicado, Lúcio Rangel destacou o trabalho do produtor Marco Pereira que enfrentando enormes problemas, vem insistindo em divulgar a cultura musical de nosso pais, com coleções como Musica Popular do Nordeste do Centro/Oeste/Sudeste e agora do Sul - inclusive com um elepe dedicado ao Paraná - e que deverá ser lançado em abril próximo.
LEGENDA FOTO 1 - Ballet : e a utilidade?.
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Sábado, às 10 horas, no cine Lido, haverá uma chance de se conhecer os badalados (e ainda inéditos) filmes que Fernando Sabino e David Neves vem realizando sobre nomes de grande prestigio da literatura brasileira: "Fazendeiro do Ar" (Carlos Drummond de Andrade), "O Contador de Histórias" (Érico Veríssimo), "Na Casa do Rio Vermelho" (Jorge Amado), "Veredas de Minas" (Guimarães Rosa) e "Tempo de Nava" (Pedro Nava).
LEGENDA FOTO 1- Sabino.
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