O som brasileiro de alemão chega aos EUA
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 14 de março de 1989
New York - Alemão (Olmir Stocker, Taquari, RS, 17 de junho de 1936) teve nesta temporada americana grandes alegrias. Além de, na noite de sábado, 11, ter feito uma belíssima apresentação no Town Hall, dentro da mostra de música instrumental promovida pelo Som da Gente, patrocinada pelo Bamerindus do Brasil, conheceu a produtora Judith M. Wahnon, presidente da Happy Hour Music, que veio especialmente da Califórnia, para supervisionar o lançamento dos discos de Hermeto Pascoal ("Lagoa da Canoa, município de Arapiraca") e Alemão ("Longe dos olhos, perto do coração"), que estão sendo colocados nas lojas americanas, nesta semana, em edição CD.
Portuguesa de Cabo Verde, tendo residido 11 anos no Brasil, hoje cidadã americana, esposa de Wan Seegmiller, vice-presidente da poderosa Distronics Manufacturing Inco., em Anhaheim, Califórnia - uma das quatro fábricas de CD nos Estados Unidos - Judith criou um label (etiqueta) independente - Happy Hour - especialmente para trabalhar e com gravações de alto nível. Já fez um marcante álbum com os instrumentistas da antiga orquestra de Stan Kenton e, para entrar no mercado da música instrumental brasileira, assinou contrato com Teresa Souza, diretora do Som da Gente, para produzir em CD e distribuir em vários países o seu catálogo (48 títulos). Começou escolhendo dois elepês de Hermeto e o "Longe dos olhos, perto do coração", primeiro álbum-solo de Alemão, de quem também quer lançar seu segundo disco, "Alemão bem brasileiro".
O entusiasmo de Judith pelo trabalho de Alemão - guitarrista e compositor, fundador do histórico grupo de Breno Sauer, que há quase 30 anos começou sua carreira em Curitiba, aumentou ainda mais depois de assisti-lo aqui em New York, no Town Hall: na noite de sexta-feira, 10, numa mostra de generosidade.
Ao substituir Nathan Marques, também guitarrista, que não pôde vir participar da banda de Amilson Godoy (o Tuca), que foi quem abriu o primeiro espetáculo do Som da Gente. Já desfalcado com a ausência de Dominguinhos, acordeonista, vítima de acidente automobilístico, Amilson Godoy teve a grande responsabilidade de abrir o espetáculo, mas, por um primeiro número naturalmente tenso, conquistou a platéia. Alemão não teve dificuldades para participar: há quase dez anos, ele já havia formado um quarteto com Tuca, chamado Medusa, que fez dois marcantes álbuns no Som da Gente.
A sensibilidade de Alemão, em mais de 30 anos de estradas musicais, participação em 150 gravações, criador de jingles, ligadíssimo ao Nosso Estúdio desde o seu início, fez com que "Longe dos olhos, perto do coração", refletisse as imagens de um Brasil profundo, com uma visão verde-amarela em suas temáticas. Com mais de 200 composições, Alemão mostrou em seu show de sábado, entre seus temas, um profundamente identificado à ecologia "Rio Paraná", no qual há sons de pássaros e da natureza, em imagens sonoro-visuais de grande empatia. Ao lado de temas já gravados - como "Na estação", "Quase inocente" e o frevo "Pouso da panela". Alemão e seu grupo - o flautista Paulo Oliveira (gaúcho de Porto Alegre, 30 anos), o violonista Zezo (Antônio Sérgio Ribeiro, 24 anos) e o percussionista Joãozinho Parahyba (ex-Trio Mocotó, com o qual inaugurou, ao lado de Vinícius de Moraes, Toquinho e Marília Medalha, o Teatro do Paiol) trouxe de música instrumental inédita, com temas que, brasileiríssimos em sua essência e títulos ("Princesa do Guarujá", "Fantasia nordestina", "Me faz um cafuné"), são universais em seu lirismo e dimensão. De certa forma, só a apresentação de Alemão e seu grupo, já preencheu muito da filosofia buscada pelo Som da Gente em trazer à Big Apple, o melhor da música instrumental.
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