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Aramis

O sonho da Estadual e as lições da Nacional

Mais uma vez a restruturação da Rádio Estadual volta a ser discutida. Desta vez, fala-se mesmo na criação de uma propalada fundação - ou até companhia de economia mista - capaz de possibilitar não só o real aproveitamento de um canal radiofônico como veículo cultural, mas, também, a implantação de uma sonhada TV Educativa. Ao longo dos últimos 25 anos, várias vezes se prometeu dar à Rádio Estadual do Paraná melhores condições de funcionamento, mas continua a ser a filha enjeitada da comunicação. O jornalista Luiz Geraldo Mazza tem sido um feroz crítico da emissora, comentando que a audiência dela não passa de 200 pessoas e que, portanto, é discutível a política de comprometer grandes recursos numa área que até hoje nunca apresentou resultados. Entretanto, justamente a falta de uma programação séria e organizada é que reduziu a Estadual ao prefixo com o menor índice local de audiência, perdendo inclusive aquela faixa de ouvintes que a procuravam pelos programas de música clássica e ópera, reduzidos, nos últimos dois anos, em nome de uma discutível política de deselitização, e substituindo-os até por música rurbana e popular. Não que esses gêneros não mereçam divulgação. Muito pelo contrário. Mas a estes as 15 outras emissoras particulares de cidades já dão total cobertura. Enquanto que, para o clássico, lírico e jazz, nenhuma FM/AM abre, infelizmente, o menor espaço. xxx Acima de críticas às administrações que têm se sucedido na Rádio Estadual, após a morte de seu idealizador e fundador, o pioneiro Aluízio Finzeto, deve-se ver a questão mais amplamente. E se compararmos o desinteresse de sucessivas administrações em dotar o Paraná de um bom sistema de rádio e televisão cultural/educativo, a questão torna-se vergonhosa. Alguns exemplos: quando Ney Braga ocupava o Ministério da Educação e Cultura, o professor Mousinho Coelho foi dirigir a Prontel. Ali recebeu a solicitação de uma fundação privada alemã, que desejava doar todo o equipamento de televisão educativa a um Estado que se dispusesse a implantá-la. Bom paranaense, Mousinho lembrou-se de que Curitiba era uma Capital que não dispunha de TVE. Procurou o então secretário da Educação e Cultura, Francisco Borsari Neto que, infelizmente, não se sensibilizou com a idéia. Alegou dificuldades financeiras, falta de pessoal e outras desculpas. Resultado: o equipamento foi doado ao Estado do Amazonas e há anos a nova emissora já funciona em Manaus. Sergipe, o menor Estado da Federação, já está colocando no ar, experimentalmente, as imagens de uma TV Educativa, local, implantada pela Fundação Aperipê. O governador João Alves, tão logo assumiu, decidiu que era a hora de Aracaju dispor de uma televisão educativa e colocou mãos à obra. Fez mais: reestruturou a Rádio Difusora de Sergipe, pertencente ao governo do Estado, que hoje já emite boa programação cultural. Há toda uma rede nacional de emissoras de televisão educativa no País. Custam caro e não apresentam, evidentemente, muitos pontos no Ibope. Mas cumprem uma finalidade. No Paraná, além do governo ter perdido, há alguns anos, a chance de ganhar todo o equipamento para colocar sua TVE no ar, acabou concedendo até o canal que lhe pertencia para, provisoriamente, servir a uma rede particular. A Rádio Estadual do Paraná também perdeu a freqüência modulada que poderia operar. A Fundação São Sebastião, do Rio de Janeiro, obteve o canal prioritariamente da REP e deve entrar no ar em breve. xxx Ao assumir a Secretaria Extraordinária de Comunicação Social, Luís Alberto Dalcanalle se dispôs a reestruturar a Rádio Estadual e a implantar uma TVE. O convite ao jornalista Adherbal Fortes de Sá Júnior, defensor, há anos, da valorização desses veículos, foi justamente para, na coordenação da área, trazer condições à concretização do plano. Entretanto, pela burocracia que cerca a Rádio Estadual do Paraná, só mesmo com a criação de uma estrutura dinâmica e independente poderá se dar condições a que aconteça aquilo que há muito se espera. A burocracia na Rádio Estadual - subordinada à Secretaria da Comunicação Social - é tão grande que há um ano se pensou em comprar algumas dezenas de discos para a desfalcada discoteca da emissora. Selecionados os elepês, a nota de empenho demorou tanto para sair que, quando, finalmente, a verba foi liberada, os recursos eram suficientes para adquirir apenas 40% do lote inicialmente reservado. xxx A leitura do recém-publicado "Rádio Nacional, o Brasil em Sintonia", (Funarte/MEC, 126 páginas), que deu a Luiz Carlos Saroldi, e Sônia Virgínia Moreira o primeiro lugar no Projeto Lúcio Rangel de Monografias, traz valiosas informações sobre como a PRE-8 se manteve durante mais de 20 anos como o grande veículo de comunicação do Brasil. Pertencente nos sete primeiros anos (1933-1940) à Companhia Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande (que havia assumido, em setembro de 1931, o patrimônio da editora "A Noite"), a Rádio nacional passou ao controle do governo federal a 8 de março de 1940, quando Getúlio Vargas, pelo decreto-lei nº 2.073, instituiu as Empresas Incorporadas ao patrimônio da União. Surpreendentemente, no caso (talvez até único) a estatização funcionou, porque o superintendente das empresas, coronel Luiz Carlos da Costa Neto, nomeou para a direção da nacional um homem apaixonado por rádio, Gilberto de Andrade (que foi um dos primeiros a escrever uma coluna especializada sobre o rádio no Brasil). Durante seis anos, Gilberto de Andrade deu à PRE-8 uma estrutura de empresa, tornando-a extremamente lucrativa, mas reaplicando em sua manutenção e pessoal os recursos que a publicidade trazia. Assim, a Rádio Nacional pode ter os melhores locutores, animadores, centenas de músicos, cantores(as), arranjadores e maestros da dimensão de Radamés Gnatalli, Lyrio Panicalle e Leo Perachi, produtores de programas, enfim todos os recursos humanos que a fizeram, durante tantos anos, uma emissora sintonizada nacionalmente. Mesmo o afastamento de Gilberto de Andrade não abalou a estrutura da rádio, pois, se, entre 1946/1951, houve dois diretores e dois superintendentes na área administrativa, na área artística outro grande valor, Victor Costa, esteve sempre presente. Provindo do rádio-teatro, Victor Costa foi um grande comandante da PRE-8, tendo auxiliares da maior expressão, dos quais um dos mais importantes sempre foi Paulo Tapajós. Enquanto profissionais do ramo foram prestigiados, a Rádio Nacional se manteve em primeiro lugar em audiência. Depois, o aparecimento da televisão (três vezes a Nacional perdeu a chance de implantar seu próprio canal), a saída de bons elementos, a transformação musical, etc. (Inclusive a Nacional não soube aproveitar o trem da Bossa Nova, na virada da década de 50 para os anos 60), acabaram reduzindo-a a um prefixo de pouco expressão, hoje melancólico decalque daquela poderosa emissora que no edifício "A Noite", na Praça Mauá, era um dos símbolos do Rio de Janeiro, em termos de música e cultura. xxx Nossa esquálida Rádio Estadual do Paraná espera, há décadas, pela hora de justificar sua existência, atingindo um público potencialmente importante. Liberta do fantasma do Ibope e sem ter preocupações com patrocinadores, pode fazer um rádio exclusivamente cultural-educativa, sem concorrer com a iniciativa privada. Esperanças sempre houve de um melhor aproveitamento da emissora e, agora, mais uma vez se fala a respeito. Que não seja mais um alarme falso. xxx Desde novembro do ano passado que o anteprojeto propondo a transformação da Rádio Estadual em Fundação já está concluído, num detalhado trabalho do advogado Senio Abdoninos. Agora, irá em forma de mensagem-de-lei à Assembléia Legislativa, com a disposição do governador José Richa em conseguir sua aprovação antes de abril.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
05/03/1985

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