O XV FERCAPO
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 23 de julho de 1987
Atingindo agora a sua 15ª edição, o FERCAPO tem que assumir uma posição não mais de apenas um competitivo festival musical, de pavio curto e repercussão regional, mas, isto sim, núcleo de um grande evento cultural - que tem tudo para ser o mais importante acontecimento do interior do Paraná.
A continuidade do FERCAPO e o esforço que o Tuiuti E. C. faz pela sua ampliação são válidos e merecem aplausos. Entretanto, o FERCAPO tem que crescer para eventos paralelos, atingindo outras áreas culturais, tão necessárias de promoções significativas numa cidade-pólo, progressista, como é Cascavel. Este ano, finalmente, devem acontecer ao menos dois eventos paralelos; um debate sobre a validade dos próprios festivais de MPB e a música regional - integrando numa salutar troca de idéias os convidados e os participantes ativos do Festival (compositores, intérpretes, instrumentistas) e, como informação, um ciclo de curtas e média-metragens relacionados à Música Popular Brasileira.
São dois eventos, ainda modestos, mas que já significam um passo à frente. Assim como a gravação do elepê com as 12 finalistas, no ano passado - e que se repetirá agora, também foi significativa. Afinal, não há sentido de um Festival da dimensão do FERCAPO não ter ao menos o registro das 12 músicas que chegam à final. Não custa lembrar o exemplo gaúcho: a partir da Califórnia da Canção (que, aliás, entra agora em sua 17ª edição, em dezembro de 1987), mais de 50 festivais nativistas multiplicaram-se no Rio Grande do Sul, revelando grandes talentos. Todos, praticamente, foram registrados em discos, uma das razões porque, só nesta década, passam de 800 (oitocentos) elepês de artistas e eventos gaúchos lançados (no total, a discografia gaúcha ultrapassa 3 mil títulos, conforme levantamento do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore).
No Paraná, infelizmente, os festivais de música popular não tem conseguido continuidade, e na maioria dos casos, não ultrapassam as fronteiras municipais. O FERCAPO, nestes últimos anos, conseguiu romper esta timidez: jurados vindos de outras cidades, entre nomes conhecidos nacionalmente; boa produção artística e, agora, a gravação em disco, e a partir de 1987, eventos paralelos - que devem crescer em outras áreas.
Mas um fato da maior importância deve ser levantado - e este é um tema polêmico e de alta temperatura para a discussão e mesa redonda: a necessidade do Festival assumir uma identidade cada vez mais brasileira. Mesmo aberto (como deve ser) a compositores de todo o País, o FERCAPO tem que se orgulhar de ser um festival de MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, valorizando as canções da terra, assumindo os valores nativistas e tendo, assim, uma linguagem corajosamente honesta - e não pastiche do pior, mais supérfluo, descartável e prejudicial que é imposto na música (sic) brasileira (dita), por multinacionais da comunicação e da fonografia.
Os festivais de MPB devem ser portas abertas a novos talentos, à música de raízes, aquilo que não seja contaminada com o AIDS do sucesso pasteurizado (e, logo, descartável).
Esta brasilidade - que assusta aos "novos ricos" e aos que buscam uma "ascensão social", desprezando valores autóctones, é, em nosso entender, a grande filosofia/ideologia que deve caracterizar um festival musical que pretende ser, realmente, um evento cultural.
Há necessidade de assumir a brasilidade. Lutar pelo valor autêntico, e assim enfrentar a invasão sonora, que destrói corações, mentes, e principalmente, ensurdecer ouvidos com os decibéis do comercialismo multinacional.
Façamos do FERCAPO uma trincheira em favor da grande e melhor MPB. MÚSICA POPULAR BRASILEIRA, assumidamente honesta e coerente.
Enviar novo comentário