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Aramis

Sátira bem brasileira

Irreverente, uma espécie de parábola debochada, "Urubus e Papagaios" (Cine Lido, 5 sessões), é daqueles filmes com sabor Brasil. De um conto do gaúcho Josué Guimarães (1921-1986) que, à primeira leitura, não o entusiasmou, o estreante José Joffily Filho, 41 anos, conseguiu desenvolver personagens e situações de forma agradável e comunicativa. A crônica da hipocrisia e intolerância de uma pequena cidade do Interior - na fictícia Mimosa do Norte (ambientada na paradisíaca Bananal, interior fluminense), com seus personagens caricatos, encontrou em Joffily um diretor de bom gosto, trabalhando com firmeza num elenco de bons intérpretes. Assim, o retorno do velho desembargador Fausto (Nelson Dantas) à cidade natal, acompanhado de uma bela e fogosa mulher, Virgínia (Dora Pellegrino, encantadora em sua beleza mignon), provoca reações em cadeia junto a população, estabelecendo uma contradição entre o velho e o novo. De um lado, a repressão sexual, a monotonia da vida conjugal que faz o prefeito (Jackson de Souza, admirável numa interpretação lembrando Zé Trindade dos bons tempos), o delegado (Ivan Cândido), o médico (o curitibano Ariel Coelho), Rabelo, o líder da oposição (Anselmo Vasconcellos), preferirem as meninas do bordel (Andréa Dantas, Karen Accioly, Sarita Piecesi, Desirée Vignoli) enquanto desejam, secretamente, a juventude de Virgínia, também nos sonhos onanistas dos quatro adolescentes (Felipe Camargo, Janser Barreto, Enrique Diaz e Carlos Lofler). Lento no início, o filme cresce a partir da morte de Fausto e possibilita um desenvolvimento malicioso das seqüências, com a decisão do exorcista padre (Emmanuel Cavalcanti) em recorrer a beata esposa do prefeito (Maria Alice Vergueiro) como fórmula "salvatória" de uma situação estranha e deliciosamente cômica. Com o talento de bom roteirista - função já desempenhada em sete longas e média-metragens, Joffily mostra mão firme e harmonia na realização, aproveitando a plasticidade (na bela fotografia de Edgar Moura) dos exteriores e, sobretudo, extraindo o melhor na interpretação do elenco - especialmente com a valorização das atrizes Dora Pellegrino e Louise Cardoso. A música de Ugo Marotta tem um ritmo de alegre rag-time, com boas citações incidentais (incluindo o "Tara's Theme", de "E o Vento Levou"), que já segura o espectador a partir dos criativos desenhos de animação que Still criou para a introdução dos créditos. Uma comédia gostosa, satírica e agradável, que merece ser vista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Nenhum
1
23/07/1987

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