Observatório
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de abril de 1980
Ontem à noite, com o concerto no Municipal, onde se apresentou como solista Galina Vischnevskaya, a mais famosa soprano russa da atualidade, a Orquestra Sinfônica Brasileira iniciou sua temporada comemorativa ao 40º ano de existência. Há 3 dias, o "Jornal do Brasil", em matéria da página dupla, contando a história da OSB, incluiu entre as (poucas) fotos dos atuais integrantes solistas, do flautista Norton Morozowicz. Na OSB há 11 anos - e hoje reconhecidamente o mais notável flautista brasileiro - Norton fará um concerto dia 15, no Paiol, e duo com o pianista Homero Magalhães. Será a primeira vez que Norton merecerá prestigiamento da Fundação Cultural de Curitiba num recital, apesar de seu prestígio nacional, o que se deve exclusivamente à sugestão que a jornalista Antônia Eliana Chagas - a querida Tonica, levou ao prefeito Jaime Lerner, que determinou a sua realização. Norton, modestamente, diz: "Não preciso nem dizer da importância deste concerto que será a estréia nacional do duo com Homero Magalhães, que tem o significado pela volta do grande Homero aos palcos brasileiros após anos e anos sem tocar. O repertório será dos mais atrativos para todos os gostos, indo de Beethoven a Patápio Silva".
A temporada de artes plásticas não poderia estar mais movimentada, obrigando a fauna que não perde a boca-livre dos vernissages a um esquema organizado para não perder tantas festas. Mas independente da badalação social, há sempre os trabalhos dos artistas para serem vistos - e adquiridos. Laila Cury, diretora do Centro Cultural Brasil-Estados Unidos, e que de 1973 a 1977, com boa assessoria, fez da galeria do "Inter" uma das melhores da cidade, num trabalho eficientíssimo, voltou a movimentar aquele espaço, terça-feira, com a individual do pintor pernambucano Ronald Yves Simon. Amanhã, será inaugurada uma nova galeria que tem tudo para dar certo: a simpatia e vivência nas artes plásticas de Vania Viaro, a cordialidade e encanto de Yvete Jung e uma ótima localização: Alameda Dom Pedro II, 250. A Griffe inaugura com pinturas e desenhos de Euro Brandão, engenheiro, professor, ex-presidente da RFFSA, ex-secretário dos Transportes, ex-ministro da Educação e Cultuar e atual presidente do Badep. Euro, pintor de fim-de-semana, foi discípulo do mestre Viaro e seus quadros passaram a merecer tanta procura que decidiu fazer uma individual, doando a renda obtida às obras da Igreja da Água Verde.
Não é só "Emmanuelle" (a verdadeira) que, finalmente, dia 8, foi liberado pelo ministro Ibrahim Abi-Ackel, seis anos após ter sido realizado. Os filmes eróticos, em super-8, que até há pouco enriqueciam os contrabandistas, passaram a ser vendidos pelo reembolso postal.
Em anúncio de página inteira, na edição de "Status (abril/80, Cr$ 80,00, 130 páginas), o Scandinavia Club - Instituto de Educação Sexual (Caixa Postal 6111 - 01000 - São Paulo, SP), anuncia os seus dois primeiros filmes: "Learning Love ("estrelado por uma das modelos que tem aparecido em capas de revista") e "Oriental Love", "onde aparecem as mais belas mulheres de Bangkok". Como, há algum tempo, um laboratório paulista (Flick) lançou no mercado uma péssima redução em super-8, muda, de trechos de "Emanuelle Tropical", pornochanchada nacional, da pior qualidade, o anuncio do Scandinavia Club salienta: "Nossos filmes são produções originais com mulheres brasileiras e internacionais. Não são partes de longas-metragens, que você já viu no cinema ou sobras de filmes eróticos. Eles foram criados e dirigidos exclusivamente para o fim a que se destinam".
Os dois primeiros filmes estão sendo oferecidos por Cr$ 4 mil e o Scandinavia Club também oferece também vídeo-cassetes produzidos na Escandiávia, Alemanha e Estados Unidos, "países onde a educação sexual para adultos é muito liberal e avançada". Promete também aos que se associarem à entidade "livros totalmente ilustrados com as mais belas fotos e tapes gravados ao vivo, material desenvolvido na Escandinávia e Estados Unidos". A indústria do erotismo, agora liberada em termos, está crescendo de uma forma impressionante.
Puritanismo a parte, quem ganha é o governo: pelo menos poderá taxar os produtos, que, há muito, clandestinamente, já circulavam por todo o País. Só em Curitiba, há pelo menos 3 executivos, um deles há muitos anos diretor de uma multinacional da área de bebidas, que tem uma filmoteca erótica com mais de 500 títulos.
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Com a liberação de "Emmanuelle", de 1974, dirigida por Just Jaecking, ex-fotógrafo de modas, as 11 imitações que estavam sendo exibidas no País perderão muito de seu impacto. As cópias em super-8, integral ou reduzidas, trazidas clandestinamente do Exterior, há muito já vinham sendo projetadas no Brasil, de forma que para muitos o filme que consagrou Sylvia Kristel pouco oferecerá.
Estes ficarão na expectativa de liberação de filmes como "The Devil Is Miss Jones" (cuja trilha sonora, curiosamente, aqui apareceu há 6 anos) ou "Deep Throat" - que consagrou Linda Lovelace, os quais, em programa duplo, permanecem há 7 anos em cartaz num cinema da Broadway, em Nova Iorque. Na liberação de "Emmanuelle", o relator foi Ricardo Cravo Albin, ex-diretor do Museu da Imagem e do Som e do Instituto Nacional de Cinema, que por várias vezes esteve em Curitiba, dirigindo shows de MPB, fazendo conferências e participando de comissões julgadoras do Carnaval de rua por 3 anos.
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