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Aramis

Orlando Dias ataca novamente

Há dois anos, o jornalista Tarik de Souza, hoje o mais ativo disc-review da imprensa brasileira fez uma interessante análise sobre a chamada "música de bas-fond ", ou seja, dos intérpretes consumidos pelas platéias mais marginalizadas da sociedade, que aparentemente parecem não dispor de poder aquisitivo siquer para a sobrevivência física mas que, surpreendentemente, garantem, o sucesso impressionante de mais de uma dezena de cantores melodramáticos, que se dedicam a cantar os dramas, os desenganos e, por que não, as esperanças das mulheres abandonadas, decaídas, como, por exemplo, Odair José - que a rigorosa Phonogram não só mantém em seu reduzido elenco, mas como investe sobre ele uma boa verba de publicidade, consciente do público que possui em todo o Brasil. E para quem este mercado não fique apenas em Odair José, Altemar Dutra, Agnaldo Thimoteo e outros, a Odeon decidiu ressuscitar há alguns meses o cantor Orlando Dias, que no início dos anos 60, dividia naquela fábrica, ao lado de Anísio Silva, o público mais cafona e subdesenvolvido dos subúrbios das grandes cidades. Orlando Dias (Adauto José Michelis, pernambucano de Recife, 51 anos), fez dois lps na Odeon que atingiram, na época (1961/62) vendagens impresionantes: "Ninguém Gostou de Alguém" e "Tu Hás de Pensar em Mim". Depois desapareceu de circulação, só retornando pouco, adjetivado de "O Cantor Mais Popular do Brasil" (sic), com um lp chamado "Obrigado, Minhas Fãs", que voltou a vender - provando que sobreviveu um público fiel, de forma que a mesma fábrica lançou agora o volume 2 desta série que, pelo visto, vai prosseguir. O maestro Gaya, que assina os arranjos, caprichou nos violinos e na marcação musical numa espécie de gumex glostora sonora, para tornar ainda mais pegajosas as interpretações de Orlando Dias para músicas como "Marcas" (Cezão- Jacy Inspiração), "Vida" (Waldir Machado), "Ninguém" ( Roberto Correa-Jon Lemos), "Pensa Bem" (Arcenio de Carvalho- Adauto Machiles). Mas pensando, talvez, em atingir uma outra faixa de público, Orlando grave também a versão que um certo Nabur fez para "Soleado" de Zacar - gravado por Daniel Santa Cruz em seu primeiro lp editado pela mesma Odeon no Brasil - e, pasmem! Até o clássico "Luar do Sertão" do imortal Catulo da Paixão Cearense (1863-1946). Apesar do produtor Pedrinho ter providenciado um coral para tentar salvar a interpretação, não há dúvida que após esta gravação o compositor maranhense deve estar se virando em seu túmulo. Ainda bem que o bom Paulo Tapajós, o maior modinheiro do País e o melhor intérprete vivo de Catulo, voltou a cantar, graças ao show "Do Chorinho ao Samba", montado por Ricardo Cravo Albim. Na mesma faixa de Orlando Dias, dois outros lançamentos: José Lopes, que em "deixe-me Tentar Novamente" (RGE, Fermata, Premier, 308.0009), com arranjos e regências do maestro Hector Lagna Fieta, ataca com uma seleção de tangos - "Garoa", "Marina Marion", "Mentira", "Mentiroso", "Sombra Que Passa", "Guaranias"- "Malvada", "Doce Amor Querido" e até valsas - "Senhorita" e "4 Horas da Manhã". Embora bem mais discrito do que Orlando Dias, as versões escolhidas por José Lopes não chegam a credencia-lo a um público mais exigente. Finalmente, também na base de muitas versões - ou pobríssimas composições de Claudio Fontana - "Quando o Meu Mundo Caiu"), ataca Cláudio Roberto, em lp CBS produção de Walter D'Avila Filho, no qual nem a inclusão de uma música de Lupicínio Rodrigues ("Exemplo") justifica sua audição.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Jornal do Espetáculo
14
19/01/1975

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