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Aramis

Os talentosos Morozowicz

Ah! Esses Morozowicz! Curitiba deve muito a inquietação, talento e criatividade desta família de origens polonesas que há seis décadas está integrada em nossa vida cultural. Primeiro foi o velho Thadeo Morozowicz que, chegando da Polônia, aqui implantou, em 1927, a primeira escola de danças - e uma das pioneiras do Brasil. Imagine-se a barra que era, na provinciana Curitiba do início do século, distante culturalmente do que acontecia no mundo, ver um imigrante eslavo se dispor a ensinar danças para as jovens. O vigor de Thadeo venceu as resistências e sua academia se consolidou. Depois - já nos anos 60 - vieram algumas outras até se chegar a inflação de escolas (sic), muitas de discutível valor, muitas das quais dirigidas por discípulos do velho mestre. O Ballet Morozowicz sobreviveu a aposentadoria e a morte de seu fundador. Isto graças a sua filha, Milena, que de bailarina na infância e juventude - quando estrelou grandes montagens que eram sensação na época - evoluiu para a coreografia e hoje dirige a academia com o mesmo empenho que marcava a época de seu pai. Anualmente, Milena se lança numa nova produção. Emocional e dedicada, chega até a ficar doente pelo empenho em busca da perfeição em suas produções. Cuida dos mínimos detalhes e embora amparada por colaboradoras igualmente talentosas - como Dagmar Simek e Lenita Dornelles, entre outras - pessoalmente cuida de que tudo possa sair o mais próximo possível da perfeição. - "A perfeição é uma meta, já dizia a música. Mas a gente tenta chegar lá!" xxx Nos dias 3 e 4 de outubro, o Ballet Morozowicz volta a ocupar o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, local no qual já levou tantos e belos espetáculos. Como tem feito nos últimos anos, Milena tem se voltado a produções destinadas ao público infantil, com leituras coreográficas muito próprias. Assim foi com "O Saci", "Alice", e "Neguinho do Pastoreio". O tema para a produção de 1987 é "No País das Cores", num roteiro que Milena desenvolveu com Agnalda Trinkel Miranda e Cleonice da Barros. Agnalda, além de coreógrafa, também consagrada, é identificada ao mundo cromático: seu marido é o hoje internacional designer Oswaldo Miranda (Miran), que fez trabalhos como a revista "Gráfica", a mais sofisticada publicação editada no Brasil - infelizmente de circulação tão restrita que raros curitibanos tem oportunidade de folheá-la. xxx Milena Morozowicz soube evoluir com o seu ballet. A partir de 1972 começou a introduzir novas técnicas e danças modernas. Para isto fez cursos e estágios no Exterior - especialmente em Nova Iorque, sabendo somar a tradição ao que há de novo. Ao contrário de certas badalativas "coreógrafas" de coluna social - mais preocupadas em promoção pessoal do que com um trabalho realmente voltado à dança - Milena tem se mantido afastada da vida mundana, mergulhada em seu trabalho. Sem mágoas ou ódios, embora, pela tradição do Ballet Morozowicz merecesse maior atenção oficial, Milena faz de cada coreografia um ato de amor. Consciente e profundo. O espetáculo que estará apresentando no próximo fim de semana, dividiu em duas partes. Na primeira parte, o ballet "No País das Cores", com música de Heitor Villa-Lobos. - "Foi minha maneira de associar-me as comemorações do autor de "Floresta Amazônica". Na segunda parte, três números, cuja coreografia foi entregue a Dagmar Simek: "Toccata e Fuga em Ré Menor", com música de Bach; "Cisne de Tuonela", com música de Sibelius e "Caverna dos Ventos", a partir do som new age do harpista eletrônico suíço Andreas Vollenweider. Um espetáculo não se faz sozinho. Assim, há outras pessoas que se integram aos esforços de Milena. Por exemplo, os cenários estão sendo criados por Eduardo Petry. A iluminação será de Roseli Habith e Wilson Souza e a sonoplastia de João Augusto Nunes. xxx Enquanto Milena vive no mundo da dança, seus irmãos estão na música. Norton, 39 anos, hoje um regente e flautista reconhecido nacionalmente, fez da Orquestra de Câmara de Blumenau, uma das melhores do Brasil - como mostrou no último fim de semana, nos concertos comemorativos ao lançamento do 7º álbum da Orquestra. O irmão mais velho, Henrique, 51 anos, professor da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, é compositor com obras editadas em vários países. Assina suas composições como Henrique de Curitiba, divulgando a nossa cidade. Na qual, infelizmente, poucas vezes tem chance de mostrar suas composições. LEGENDA FOTO - "No País das Cores", o novo espetáculo do Ballet Morozowicz
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
29/09/1987

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