Login do usuário

Aramis

Pagando em US$ para ver antes o que chegará normalmente depois

Da centena de filmes que foram apresentados na 13ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (12 a 31 de outubro de 1989), entre longas e curtas, poucos foram os realmente expressivos - e atraindo um público maior - que chegaram às telas do Cine Ritz entre os dias 6 a 19 de novembro. Curiosamente, cinco dos 16 longas-metragens aqui apresentados foram produções que, já então, haviam sido adquiridos por uma nova distribuidora, a Pandora, para comercialização normal no Brasil - conforme denunciamos na ocasião. Assim, a Prefeitura gastou quase US$ 18 mil dólares (na época) para financiar a "pré-estréia" dos longas "Mistery Tran", de Jim Jamursch, (EUA); "A Pequena Vera", de Vassily Pitchul (URSS): "O Filósofo", de Rudolf Tnomaz (República Federal da Alemanha); "Cidade Zero" de Karen Chacknazarov (URSS) e "O Trovador Kerib", de Serguey Paradjanov (URSS), que, sem nenhum custo adicional, seriam lançados, normalmente pouco tempo depois. "Como fazer carreira na publicidade" de Bruce Robinson foi lançado em vídeo pela VTI. Em compensação, os mais importantes filmes que estiveram na mostra em São Paulo - como os documentários "Isadora Duncan: Expressões da Alma", e Daniel Geller e Dayna Goldfine e, especialmente, a "História do Vento" (Wind), o último filme do, holandês Joris Ivens (1898-1989) - ficaram de fora. xxx Considerando-se o número de filmes trazidos por Leon Cakof a Curitiba no ano passado - 24 longas e seis curtas, mais os dez vídeos da série "Dekalog", de Hryzstof Krieslowski (apresentados em 6 sessões no auditório do Goethe Institut, dividindo-se pelo pagamento feito - Cr$ 250 mil, aproximadamente US$ 18 mil dólares - pode-se estimar que cada sessão teve uma subvenção de US$ 500. Entretanto, se algumas sessões tiveram lotação esgotada - como "Mistery Train", "A Pequena Vera" e "O Filósofo" (todos apresentados depois, durante semanas nas salas da Fucucu), muitos não atraíram mais do que uma dezena de solitários espectadores - ou seja, uma subvenção de US$ 50 por pessoa. Quatro filmes programados em sessões à meia-noite - "Imagens de um Velho Mundo", "Brincadeira de Mau Gosto", "O Trovador Kerib" e "Os Peixes Mortos" - tiveram pouquíssimos espectadores. O excelente documentário "Imagens de um Velho Mundo", foi [visto] por apenas 4 espectadores, conforme pessoalmente testemunhamos. Se, com apenas três dezenas de filmes, as sessões se acavalaram e praticamente nem os mais ardorosos cinéfilos conseguiram deglutir aos menos 30% da programação, é de se indagar como será distribuída toda a mostra integral, promessa de Cakof para justificar o altíssimo preço cobrado da Fucucu/Prefeitura Municipal, para trazê-la, este ano, em sua totalidade. xxx Pessoalmente acompanhando o cinema desde os anos 50 - e procurando sempre entendê-lo em seus vários significados, aplaudimos eventos que possam enriquecer culturalmente os espectadores. Festivais são benvindos, mas quando realizados de acordo com uma realidade. Trazer, entretanto, uma mostra a preço de ouro, em época de dificuldades e que beneficiará uma minoria (subvencionados pelo dinheiro público) nos parece bastante questionável - inclusive porque enquanto a Fucucu dispõe de milhões de cruzeiros para repassar a empresa paulista que organiza este evento, recusa-se a prestigiar o cinema brasileiro - como fez recentemente, negando ajuda para que o cineasta Pedro Anisio pudesse concluir um filme com o poeta Paulo Leminski. Um projeto desenvolvido por Francisco Alves dos Santos para trazer realizadores brasileiros em pré-estréias de filmes nacionais a Curitiba foi também vetado pela Secretaria Municipal de Cultura e sua diretora de ação cultural, a assistente social Cleide Niero - sob alegação de que não "há verbas". Mas existem milhões para filmes estrangeiros - de valor alguns, discutíveis outros - e muitos dos quais logo, logo estarão no circuito comercial. Uma questão que exige denúncias e intervenções - obrigação que os vereadores - e mesmo a população (afinal quantos curitibanos aproveitarão este banquete fílmico) devem fazer.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
30/09/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br