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Aramis

Para rever Gary Cooper, um herói 100% americano

Para quem se interessa em fazer sua própria videoteca - seja adquirindo as cópias seladas, sendo buscando fórmulas alternativas (cópias dos filmes apresentados na televisão ou mesmo se arriscando à pirataria privada) há várias formas de para se organizar a coleção. Pode ser simplesmente uma sucessão dos filmes que mais o emocionaram, por gêneros - westerns, musicais, policiais, etc. - ou, para os que pretendem o melhor conhecimento do cinema, por autores (diretores e mesmo roteiristas). Entretanto, uma das formas mais comuns é ainda dos que têm simplesmente admiração por determinados atores ou atrizes e assim, independente de Gênero e fases, buscam reunir todos os filmes estrelados pelo ídolo de sua preferência. Como acontecia nos anos 40/50, quando os chamados moviegoers - especialmente adolescentes - impulsionavam álbuns e revistas com figurinhas, fotos etc. dos "astros de Hollywood". No mínimo, se a pessoa não pretender guardar para si uma cópia do filme estrelado pelo astro de sua preferência, pode se organizar para revê-lo em vários filmes. Isto vale tanto para os artistas do passado como do presente, pois as opções são amplas. Por exemplo, a Paris Vídeo, como representante no Brasil do nostálgico acervo da Republic produtions, que durante duas décadas foi um dos mais atuantes estúdios "b" de Hollywood, tem colocado, mensalmente, nas locadoras, títulos impulsionados especialmente pelos atores e atrizes mais famosos de suas épocas que por ali passaram. John Wayne (1907-1979), o cowboy por excelência, símbolo de toda uma época do cinema americano - e politicamente uma imagem do americano durão, heróico, de nobres princípios mas que conservava sempre a performance do machão indomável, está sendo revisto em grande parte de sua filmografia feita na Repúblic, desde o clássico "Depois do vendaval" (1951, de John Ford) até o pouco valorizado - mas grande sucesso na época - "O rastro da bruxa vermelha". Tão famosos quanto Wayne - e como ele criador de tipos calados, nobres e heróicos em sua longa filmografia - foi Gary Cooper (Montana, 1901-Holmby Hills, Califórnia, 1961) que por 37 anos foi um dos mais requisitados atores americanos. Entre seu primeiro filme ("Filhos do divórcio/Children of Divorce", 1927) a "tortura da Suspeita" (The naked edge), que rodou na Inglaterra, ao lado de Deborah Keer, poucos meses antes de morrer de câncer, Cooper foi também um ator 100% representativo do americano em seus ideais mais íntegros. Praticamente trabalhou com todos os grandes diretores em vários gêneros, deixando uma filmografia em que se espalham os mais diversos gêneros - da comédia ai histórico, mas identificado muito ao western, especialmente por ter feito entre outros clássicos "Matar ou morrer" (High Noon, 53, de Fred Zinnemann), pelo qual recebeu seu segundo Oscar ( o primeiro conquistou em 41, pelo ufanista "Sargento York"). Em 1960, quando já estava doente, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, lhe homenageou com um Oscar especial. No ano anterior (59), ele havia feito dois grandes filmes - o western "A árvore dos enforcados" de Delmer Daves e o profundo "Heróis de barros" (Thet came to cordura), de Robert Russem (1908-1966) - este um filme raramente visto na televisão e inédito em vídeo. Falar na filmografia de Gary Cooper ocuparia espaço que não dispomos, pois ela é imensa e significativa. A propósito, talvez numa homenagem aos 30 anos de sua morte - que transcorreram no ano passado, em 13 de maio de 1991 - a Paris Filmes/Republic, já colocou nas distribuidoras quatro filmes que Cooper fez entre 1948/55, período dos mais férteis de sua carreira. O mais antigo deles é "A felicidade bate à sua porta" (Good Sam), uma comédia de um mestre sofisticado, Leo McCarey (1898-1969). Cooper é Sam Clayton, um bem sucedido gerente de um magazine, casado com a bem-humorada Lucille (Ann Sheridan). Acaba em confusões ao tentar ajudar as pessoas. Uma comédia humana, bem característica daquela época. Tambores distantes (Distant drums) é um western classe A de Raoul Walsh (1892-1980), que na época estava entre os mais atuantes realizadores cinematográficos. Cooper interpreta o capitão Quincy Wyatt, com a missão de reprimir a rebelião dos índios semínolas na Flórida. Sangue da terra (Blowing wild) é um filme especialmente curioso por vários aspectos. De princípio, por ter sua ação na América do Sul, durante os anos 50 em que um grupo de especialistas em extrair petróleo são ameaçados por fora-da-lei. O filme foi dirigido pelo argentino Hugo Fregonese, então com 45 anos, e que a exemplo do que conseguiria, quase 30 anos depois o seu conterrâneo Hector Babenco, fez carreira nos EUA. Formado em medicina, jornalista, depois de ter trabalhado como montador e diretor na Argentina, Fregonese foi para Hollywood em 1949, estreando com "Paladino dos Pampas" (Saddle tramp), com Joel McCrea e Wanda Hendriz. Em "Sangue da terra", atuaram também Anthony Quinn e duas grandes atrizes - Bárbara Stanwyck e Ruth Roman. A balada-tema "Blowing wild", na voz de Frankie Laine, foi um grande sucesso na época. Dentro de uma filmografia sobre o petróleo no cinema, este é um filme de referência obrigatória. A corte marcial de Billy Mitchel ( The court martial of Billy Mitchel) que o austríaco-americano Otto Preminger (1906-1986) realizou em 1955 foi lançado no Brasil (em Curitiba, no antigo Cine Palácio) com o título de "Seu último comando". Baseado em fatos reais, teve um tema corajoso e que passados 37 anos se mantém atual: a denúncia de corrupção e incompetência nas Forças Armadas, Cooper é o coronel Billy Mitchel que sacrifica sua carreira para denunciar a incompetência de alguns oficiais superiores que estavam provocando um número terrível de acidentes. Pela sua seriedade, este filme - que teve Rod Steiger em papel de destaque - provocou polêmicas mas não fez sucesso no Brasil. São quatro títulos entre mais de 60 filmes que Gary Cooper fez em sua longa carreira que merecem ser vistos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Vídeo/Som
19
22/03/1992

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