Reflexões de um lobo na madrugada
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de março de 1992
"Nada mais melancólico do que um bar fechando. Parece que lá fora não existe amanhã e que a calma do fim da noite e o chegar da madrugada são prenúncios de terríveis desencontros. Cada um para o seu lado, cada um a caminho do seu problema, da mulher que vai repetir as mesmas frases de violenta censura, a mesma sessão de gritos e repetidas cenas cujos temas variam entre separação e dormidas no sofá da sala".
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"Uma parada da época era o "Juca's Bar. Nós traíamos um pouco o Vilariño no Juca's. Foi lá que conheci Newton Freitas, Luís Coelho, Luís Jardim e tantas outras pessoas que me proporcionaram momentos felizes, onde o gole, de uísque não continha o fel dos tempos atuais nem os bate-papos os assuntos envenenados que engrossam o sangue, ferem o corpo e explodem a alma num vômito de ódio".
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"É a beira da praia, e somos retrato do poema de Homero Homem: um bando de homens que se transformam em meninos quando a praia é nossa. Ninguém lembra da casa deixada, dos problemas e das queixas que dentro dela se fazem habitantes sem possibilidades de despejo. Somos pés descalços, areias no mar escolhido ao nosso gosto, donos de terra, mar e ar, sem limites, um condomínio perfeito".
(Fernando Lobo, pescador de fins-de-semana, companheiro do poeta Homero Homem, recentemente falecido, e de seu filho Edu).
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"Somos estes cavalheiros da noite e do sol. Trazemos nas bocas uma canção de ontem, na alma inteirinha, a lembrança de todos os nossos encontros, que se resumiam em trocas e acertos. Jamais as ganâncias nem os atropelos. Ficou lá longe a melhor canção, que pode ser triste como os sambas que falam de saudade ou alegre como as marchinhas dos antigos carnavais".
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