Pixinguinha inicia com incompetência
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de agosto de 1985
Melancólico. Eis o adjetivo que melhor define a abertura do Projeto Pixinguinha na semana passada. Desorganizado, sem qualquer estrutura local, mínimo público, péssimo sistema de som e falta de cumprimento das obrigações assumidas pela Secretaria da Cultura. Para quem acompanha a incompetência e desmandos que caracterizam esta pasta no governo José Richa o fracasso não surpreendeu. Mas para a Funarte que decidiu incluir novamente Curitiba no roteiro deste projeto de música popular, os fatos devem ser bastante graves.
De princípio, a ausência de público: num espaço de 700 lugares (auditório da Reitoria), em duas apresentações (quinta e sexta-feira) apenas 184 espectadores. Apesar do ingresso a preço simbólico (Cr$ 6.000), menos do que uma entrada de cinema, o público não compareceu. Simplesmente porque não foi avisado. A divulgação foi falha e até errada: num dos (raros cartazes colocados defronte o auditório da Reitoria, anunciava-se como um dos artistas "João da Portela". João da Portela não existe. Existe Noca da Portela - que acompanharia Taiguara, artista inicialmente previsto para abrir o festival - mas substituído depois por João D'Aquino. Ainda bem que o assessor da Funarte, vendo a tempo a gafe, mandou cobrir o nome errado do cartaz, para que João D'Aquino não ficasse ainda mais irritado.
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O som dos dois espetáculos não poderia ter sido pior. De tal forma que o grupo As Nymphas - incluido no projeto, representando Curitiba - foi prejudicado, em sua performance, perdendo pontos para o computo final que escolherá o representante do Paraná no "Pixingão" - mostra a acontecer no final do ano, no Teatro João Caetano, no Rio, reunindo artistas jovens de todo o Brasil que em suas cidades fizeram as aberturas do Pixinguinha.
Na quinta-feira o espetáculo começou com uma hora de atraso. Além dos problemas com som e luz, ainda houve uma inesperada "solicitação" da Reitoria em pedir Cr$ 500.000 pela cesão do auditório. O coordenador do Pixinguinha já pensava em suspender a apresentação quando o ator Danilo Avelleda, conseguiu negociar com a Reitoria a questão deste pagamento.
A Funarte - com patrocínio da Petrobrás - banca os cachês dos artistas e transporte aéreo. Cabe a Secretaria da Cultura (sic) pagar o hotel e oferecer a infra-estrutura: auditório, som, luz e divulgação.
Nesta abertura - feita na Reitoria porque o auditório Bento Munhoz da Rocha Neto estava comprometido com outros espetáculos - tudo fracassou e o relatório já nas mãos [da] diretoria da Funarte indica os problemas encontrados - e que se não forem imediatamente corrigidos farão com que Curitiba seja cancelada no roteiro.
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Com tantos problemas técnicos, é dificil emitir uma opinião sobre o espetáculo apresentado. De princípio, o público se irritou pela longa duração do mesmo - quase três horas. Afinal houve a abertura com o grupo local (As Nymphas), mais um artista jovem selecionado no ano passado para agora percorrer o Brasil (no caso, o matogrossense Geraldo Espíndola), a cantora Elza Soares e João D'Aquino - explêndido violonista que, entretanto, pouco pode ser ouvido.
Há seis anos, quando o Pixinguinha foi iniciado - graças ao apoio que o então ministro Ney Braga, da Educação e Cultura, deu a idéia de Herminio Bello de Carvalho, Curitiba foi a primeira cidade a receber os artistas. Aqui tudo correu bem, com grande público. Mas naquela época havia gente competente na Secretaria da Cultura. Hoje acontece o contrário mas como não dá mal que sempre dure, dentro em breve haverá eleições também para o governo do Paraná.
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