Poty, o ilustrador, o evento para 1988
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de maio de 1988
Um astral de coincidências felizes faz com que Poty, O Ilustrador se constitua em mais do que uma exposição entre tantas que poluem o cada vez mais caótico e desorganizado calendário das artes visuais no Paraná.
Ao contrário, esta exposição bancada pelo poderio da IBM Brasil ganha uma dimensão nacional, como um evento digno de ser levado a todo o País - e que os curitibanos terão o privilégio de assistir em primeiro lugar.
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Um astral positivo porque poucas vezes uma exposição foi organizada em clima mais afetivo. Mais do que encargos profissionais, as pessoas diretamente encarregadas de concretizar esta exposição estão entre as que mais admiram e amam a Napoleão Potiguara Lazarotto, 64 anos, completados no dia 29 de março (curitibano tão denso, que faz aniversário com a própria cidade) sem favor nenhum, a maior expressão artística do Paraná - reconhecido internacionalmente por sua obra.
Há dez anos, Domicio e Leila Pedroso, nos bons tempos em que o BADEP sabia abrigar projetos culturais, montaram a primeira grande retrospectiva de Poty - num levantamento que fez com que o casal passasse semanas no Rio de Janeiro, procurando disciplinar os tesouros artísticos espalhados pela residência e pelos (então) dois ateliers de Poty, todos na rua Senador Vergueiro, no Flamengo. Afinal, em quase 50 anos de vida artística, Poty tem uma produção imensa - entre desenhos, gravuras, capas e ilustrações diversas, sem contar suas obras monumentais - mais de 50, espalhadas por vários Estados, 30 das quais em Curitiba.
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Do monumento do centenário, executado em 1953, na Praça 19 de Dezembro - na composição com a escultura de Erbo Stenzel - um painel em azulejo, mostrando a síntese histórica do Estado - até os dois trabalhos mais recentes - o painel em concreto, no Palácio Iguaçu (obra planejada há 35 anos e só agora executada) e a pintura do imenso pano-de-boca do auditório Bento Munhoz da Rocha Neto (também planejada quando o Teatro Guaíra ainda estava em obras), os trabalhos monumentais de Poty espalham-se pelos mais diferentes pontos da cidade.
Em concreto, madeira ou azulejo - com a sua marca inconfundível - Poty é a própria presença artística, com obras que se identificam com o nosso estado e nossa cultura. Do mural "Eterno Sonho", síntese perfeita do homem na conquista do espaço, que executou há sete anos, no aeroporto Afonso Pena - aos painéis em madeira ou concreto na Assembléia Legislativa, Palácio Iguaçu, BNH, Clube Curitibano, hotéis (Paraná Suite, Araucária Flat), BADEP, Centro de Ensino Tecnológico Federal do Paraná, além do extenso mural da praça 29 de Março - são alguns dos marcos do artista em sua cidade.
Curiosidade nem sempre lembrada: o mural em concreto, sobre a história de Curitiba, que os arquitetos Jaime Lerner e Domingos Bongstabs, há 21 anos, previram ao projetarem a Praça 29 de Março - e que Poty executou - integrou-se cabalisticamente dentro de uma coincidência feliz: a data de aniversário da cidade e do artista numa praça que ocupou uma área durante décadas conhecida como Campo de Galícia e na qual o nostálgico clube de futebol de várzea que ali existia chamava-se justamente Poty E. C.
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